Saiba o que o Ministério da Saúde recomenda para prevenção de conjuntivie neonatal.
A oftalmia neonatal, também chamada de Conjuntivite Neonatal (CN), é uma infecção ocular que acomete a conjuntiva de bebês geralmente durante as primeiras quatro semanas de vida. É a doença ocular mais comum em neonatos e uma causa significativa de cegueira infantil, especialmente em países de baixa e média renda. Estima-se que a prevalência nos recém-nascidos seja de 1,6 a 12%. Além disso, um estudo recente brasileiro aponta que 11,6% dos casos de sepse neonatal de início tardio são associados à conjuntivite.
A CN é contraída principalmente durante o parto, quando o recém-nascido passa pelo canal de parto infectado da mãe. Pode ser causada por bacterias, vírus ou agentes químicos. Os principais agentes etiológicos envolvidos são Neisseria gonorrhoeae, causadora da CN gonocócica, e a Chlamydia trachomatis, sendo mais prevalente que a gonocócica. Outros agentes etiológicos como a bactéria Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e alguns vírus como o herpes simples e o adenovírus também estão descritos na literatura por causarem oftalmia neonatal.
Veja a seguir os principais sintomas de CN:
Conjuntivite por clamídia
-Sintomas: Vermelhidão nos olhos, inchaço das pálpebras e secreção de pus. Alguns recém-nascidos com conjuntivite por clamídia podem ter a infecção em outras partes do corpo. A bactéria pode infectar os pulmões e a nasofaringe (onde a parte de trás do nariz se conecta à boca).
-Início: Os sintomas provavelmente aparecem de 5 a 12 dias após o nascimento. Os sintomas podem se desenvolver mais cedo se o saco amniótico for rompido durante o parto.
Conjuntivite gonocócica
-Sintomas: Olhos vermelhos, pus espesso nos olhos e inchaço das pálpebras. Pode também evoluir para infecções graves da corrente sanguínea (bacteremia) e das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal (meningite) nos recém-nascidos.
-Início: Nos primeiros 2 a 5 dias de vida.
Conjuntivite química
-Causa: Quando são administradas gotas nos olhos de recém-nascidos para ajudar a prevenir uma infecção bacteriana, o olho do recém-nascido pode ficar irritado.
-Sintomas: Leve vermelhidão no olho e algum inchaço das pálpebras. Os sintomas provavelmente duram apenas de 24 a 36 horas.
Outras conjuntivites neonatais
-Causa: Vírus que causam herpes genital ou oral e bactérias diferentes da clamídia e da gonorreia podem causar conjuntivite e danos oculares graves em recém-nascidos. Isso inclui bactérias que normalmente vivem na vagina da mãe e não são transmitidas sexualmente. Esses vírus podem ser transmitidos ao bebê durante o parto. No entanto, a conjuntivite herpética é menos comum do que a conjuntivite causada por gonorreia e clamídia.
-Sintomas: Vermelhidão nos olhos e pálpebras inchadas com alguma secreção de pus.
Atualmente, as práticas de profilaxia para CN variam globalmente. No Brasil, a profilaxia para oftalmia neonatal deve ser realizada rotineiramente na primeira hora após o nascimento, independentemente do tipo de parto, podendo ser administrada em até quatro horas após o nascimento. O uso do nitrato de prata a 1% como agente preventivo de infecções oculares em neonatos durante o parto remonta a 1881, prática introduzida pelo obstetra alemão Carl Credé. O Método de Credé foi adotado como prática padrão nas maternidades ao redor do mundo, demonstrando grande eficácia na prevenção da oftalmia gonocócica. No entanto, o nitrato de prata a 1% é conhecido por causar desconforto, ardor e, em alguns casos, conjuntivite química nos bebês, além de apresentar problemas de conservação. Ademais, seu uso tem sido questionado diante da crescente prevalência de patógenos, como a Chlamydia trachomatis, visto que os sais de prata não são tão eficazes na prevenção da oftalmia por essa bactéria.
Uma alternativa ao nitrato de prata é a iodopovidona a 2,5%, o qual não apresenta problemas de conservação e tem um custo acessível, oferecendo uma prevenção segura e eficiente. A iodopovidona 2,5% possui medidas antibacterianas de mais amplo espectro, baixa geração de resistência bacteriana e nenhum relato de anafilaxia.
Nesse contexto, o Ministério da Saúde (MS), publicou em agosto a Nota Técnica nº 11/2024, visando orientar os profissionais de estabelecimentos de saúde sobre a substituição do nitrato de prata 1% por iodopovidona a 2,5%, conforme as Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância. Além disso, reforça as recomendações das Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto, que sugerem o uso de pomada de eritromicina a 0,5% ou, alternativamente, tetraciclina a 1%. A utilização de nitrato de prata a 1% deve ser reservado apenas em caso de não se dispor das outras substâncias.
A introdução das novas substâncias tem como objetivo uma eficácia superior na prevenção da doença, já que elas são menos irritantes e proporcionam um tratamento mais confortável para os recém-nascidos. Além disso, estudos recentes comprovam que esses agentes são mais eficazes na proteção dos bebês contra infecções oculares, que podem levar a complicações graves se não tratadas adequadamente.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
https://www.cdc.gov/conjunctivitis/newborns/index.html
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8167304/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441840/
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/ 
Elaborado por:
Beatriz Grion
https://www.linkedin.com/in/beatriz-alessandra-rudi-grion-57213315b/