Durante a pandemia de COVID-19 foram aprovados para uso emergencial alguns medicamentos antivirais. Essa publicação traz considerações importantes sobre o uso desses medicamentos.
QUAL FOI O CONTEXTO DO ESTUDO?
O desenvolvimento e uso de vacinas é um fator fundamental no combate da COVID-19, contudo existem alguns fatores que fazem com que essa estratégia preventiva nem sempre seja suficiente. Por exemplo, o decaimento temporal na eficácia da vacina, a resposta imune inadequada em pacientes imunocomprometidos, e o contínuo surgimento de variantes com mutações de proteína spike. Levando em consideração esse panorama, agencias de vigilância – como o FDA e a ANVISA – autorizaram o uso emergencial de 2 novos antivirais contra COVID-19: o molnupiravir e o nirmatrelvir-ritonavir.
QUAL A APLICAÇÃO DESSES MEDICAMENTOS ANTIVIRAIS?
O molnupiravir e o nirmatrelvir-ritonavir são medicamentos antivirais que quando administrados dentro de 5 dias do início dos sintomas em pacientes adultos com COVID-19 leve a moderada reduzem o risco de hospitalização e morte. Ambos têm como alvo funções e enzimas virais além das proteínas spike, podendo ser utilizados como um complemento às vacinas.
QUAL A PREOCUPAÇÃO RELACIONADA AO USO DESSES MEDICAMENTOS?
Os autores ressaltam uma preocupação com o uso ambulatorial exacerbado desses medicamentos. Essa preocupação é justificada principalmente pela ainda escassa quantidade de informações relacionadas ao potencial de induzir resistência em caso de uso inapropriado. Além disso, cada curso de tratamento há um custo de centenas de dólares. Dessa forma, os autores elucidam a necessidade de otimizar o uso desses medicamentos por meio de estratégias de vigilância de administração do antiviral.
QUAIS OS PRINCIPAIS PONTOS PARA A VIGILÂNCIA DE ANTIVIRAIS?
A vigilância de antivirais é uma atividade multifatorial, envolvendo 6 principais componentes: a melhoria do diagnóstico, monitoramento das prescrições, o registro de informações e jornada do paciente, a farmacovigilância, a educação dos prescritores, e a conscientização do público. Os autores fazem algumas sugestões que podem contribuir com cada um desses componentes:
– Melhoria do diagnóstico: o diagnóstico precoce e adequado é fundamental para uma administração eficaz desses antivirais. Sendo assim, é necessário o investimento em potencial diagnóstico, como por exemplo a garantia da capacidade de testagem adequada a situação;
– Monitoramento das prescrições: os autores sugerem que o uso de registros clínicos eletrônicos podem auxiliar no monitoramento das prescrições; sugerem inclusive o ajuste dos sistemas de prescrição eletrônica para que sejam exibidas informações clínicas essenciais em forma de lista de verificação antes de permitir a emissão da receita;
– Registro de informações e jornada do paciente: os autores ressaltam o uso de registros clínicos eletrônicos como aliados para o registro e acesso de dados completos da jornada dos pacientes. Informações fundamentais incluem idade do paciente, sintomas e data de início, data da confirmação laboratorial do diagnóstico, histórico anterior de COVID, status de vacinação, condições médicas crônicas relevantes, e contraindicações;
– Farmacovigilância: é importante, principalmente no contexto de aprovação para uso emergencial, que seja realizada farmacovigilância com principal ênfase no tempo de início, efeitos adversos, interações medicamentosas, tempo para melhora do sintoma, desfecho clínico etc. Dessa forma é possível identificar de forma precoce as oportunidades de melhoria e elaborar intervenções direcionadas;
– Educação dos prescritores: é fundamental também que os prescritores tenham o treinamento adequado sobre esses fármacos. Esse treinamento deve incluir critérios de prescrição, farmacologia básica, interações medicamentosas e orientações de monitoramento do paciente. Além disso, o acesso a ferramentas especificas (como guias clínicos e listas de verificação) deve ser garantido.
– Conscientização do público: ressalta-se por fim a responsabilidade fundamental dos médicos em informar os pacientes de forma adequada sobre as indicações de uso, dose e duração da terapia, além de incentivar o início imediato e o completamento do curso da medicação.
QUAIS AS CONCLUSÕES DOS AUTORES?
Os autores concluem que a inclusão de antivirais para COVID-19 é essencial para a lista limitada de recursos para tratar essa doença. Destacam, contudo, que essa inclusão deve ser realizada de forma adequada e com monitoramento acurado até que se possa estabelecer de fato o seu papel na luta contra a COVID-19.
Fonte: Mazonakis N, et al. (2022). Coronavirus disease 2019 (COVID-19)
oral antivirals stewardship: Establishing game rules. Infection Control & Hospital
Epidemiology, 43: 1990–1992
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.25
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34841029/
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https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26323589/
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