A detecção de carbapenemases, enzimas capazes de hidrolisar os carbapenêmicos e conferir resistência a uma ampla gama de β-lactâmicos, representa um desafio crítico na microbiologia clínica e no controle de infecções. A identificação rápida e precisa de bactérias produtoras de carbapenemases é essencial para o manejo adequado do paciente e para a implementação de medidas de controle de infecção. Neste contexto, os testes moleculares e os testes fenotípicos rápidos emergem como duas abordagens complementares para a detecção dessas enzimas. Este texto visa descrever e comparar essas duas metodologias sob um prisma científico e acadêmico.
Testes Moleculares
Os testes moleculares para a detecção de carbapenemases baseiam-se na identificação de sequências de DNA específicas associadas à presença de genes que codificam essas enzimas. Técnicas como a PCR em tempo real (qPCR) e a sequenciação de nova geração (NGS) são comumente empregadas. Esses testes oferecem alta sensibilidade e especificidade, permitindo a detecção direta e rápida dos genes de resistência em amostras clínicas ou culturas bacterianas.
Vantagens:
Especificidade e sensibilidade elevadas: Capazes de identificar a presença de genes específicos para carbapenemases, minimizando falsos positivos e negativos.
Rapidez: Alguns testes moleculares podem fornecer resultados em algumas horas.
Capacidade de detecção de múltiplos genes: Permite a identificação simultânea de diversos genes de resistência.
Desvantagens:
Custo elevado: Equipamentos e reagentes são geralmente mais caros em comparação com métodos fenotípicos.
Complexidade técnica: Requer pessoal especializado e infraestrutura laboratorial.
Incapacidade de fornecer informações fenotípicas: Não oferece dados sobre a expressão funcional dos genes de resistência ou a suscetibilidade antimicrobiana.
Testes Fenotípicos Rápidos
Os testes fenotípicos rápidos são baseados na avaliação do efeito funcional das carbapenemases na hidrólise de antibióticos β-lactâmicos. Métodos como o teste de sinergia com disco-difusão, o teste de Hodge modificado, e testes baseados na inibição da atividade enzimática (por exemplo, utilizando EDTA para detectar metalo-β-lactamases) são exemplos desta categoria.
Vantagens:
Custo-benefício: Geralmente mais acessíveis do que os testes moleculares.
Informação fenotípica: Fornecem dados diretos sobre a capacidade de hidrólise dos carbapenêmicos, úteis para a orientação terapêutica.
Simplicidade: Podem ser realizados em laboratórios com menos recursos.
Desvantagens:
Menor especificidade e sensibilidade: Pode ocorrer variação dependendo do método e da enzima envolvida.
Tempo de execução mais longo: Alguns testes fenotípicos requerem culturas puras e podem levar 24 a 48 horas para fornecer resultados.
Incapacidade de identificar o gene específico: Não fornecem informações genotípicas sobre os mecanismos de resistência.
Comparação e Conclusão
Embora os testes moleculares ofereçam vantagens significativas em termos de sensibilidade, especificidade, e rapidez, seu custo e complexidade técnica limitam sua aplicabilidade em alguns cenários, especialmente em regiões com recursos limitados. Por outro lado, os testes fenotípicos rápidos, apesar de suas limitações em sensibilidade e especificidade, fornecem informações práticas sobre a atividade enzimática, são mais acessíveis e podem ser implementados em uma gama mais ampla de laboratórios.
A escolha entre testes moleculares e fenotípicos rápidos deve ser baseada na disponibilidade de recursos, necessidades clínicas, e no contexto epidemiológico. Idealmente, uma abordagem combinada, que utilize tanto métodos moleculares como fenotípicos.
Vamos assistir a opinião da professora Ana Cristina Gales sobre o tema
Veja este bate papo entre nossa apresentadora Laura Czekster e a renomada professora Ana Cristina Gales: