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Resumo das estratégias para prevenir Clostridioides difficile em hospitais de cuidados agudos – recomendações práticas da SHEA 2022

Conheça as principais recomendações práticas para prevenir infecções por Clostridioides difficile em hospitais de cuidado agudo.

Qual o objetivo da publicação?

O objetivo principal do documento é destacar as principais recomendações práticas da SHEA para ajudar os hospitais de cuidados agudos a implementar e priorizar seus esforços de prevenção da infecção por Clostridioides difficile (CDI) em hospitais de cuidados agudos.

Como o documento é organizado?

As recomendações neste documento são categorizadas como “práticas essenciais” que são aquela consideradas fundamentais para todos os programas de IRAS em hospitais de cuidados agudos ou “abordagens adicionais” que são aquelas a serem consideradas para uso em locais e/ou populações dentro de hospitais durante surtos em conjunto com as práticas essenciais. Cada uma das recomendações acompanha uma classificação do nível de qualidade das evidências de acordo com Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC) do CDC.

Quais as práticas essenciais para prevenção de CDI?

1. Incentivar o uso adequado de antimicrobianos por meio da implementação de um programa de stewardship antimicrobiana. Qualidade de evidência – moderada.

a. Garantir o uso adequado de antimicrobianos para o tratamento de CDI.

b. Garantir o uso adequado de antimicrobianos para o tratamento de outras infecções.

2. Implementar práticas de stewardship diagnóstica para garantir o uso e a interpretação adequada de testes de Clostridioides difficile. Qualidade de evidência – baixa.

a. Os programas de controle e prevenção de infecção hospitalar devem trabalhar em conjunto com o laboratório de microbiologia clínica para desenvolver critérios pré-estabelecidos para a testagem de Clostridioides difficile, particularmente se testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs) forem utilizados como testes independentes ou como parte de algoritmos de testagem de várias etapas.

b. O teste de Clostridioides difficile deve ser evitado, no mínimo, em pacientes sem diarreia clinicamente significativa, naqueles testados nos 7 dias precedentes e em crianças com menos de 1 ano de idade.

c. Profissionais de saúde em posição de requerer exames e enfermeiros que atuam nos cuidados ao paciente devem receber educação sobre o uso e interpretação apropriados do teste de Clostridioides difficile.

d. Se possível, sistemas de prontuário eletrônico devem ser aproveitados para fornecer suporte informatizado na realização de pedidos e/ou monitoramento dos critérios para testes clínicos.

3. Usar precauções de contato para pacientes infectados, sendo preferível manter o paciente em quarto individual. Qualidade de evidência – baixa para a higiene das mãos, moderada para o uso de luvas, baixa para o quarto individual.

a. Realizar a higiene das mãos com base nas diretrizes do CDC ou da OMS antes e depois de entrar no quarto (ou seja, imediatamente antes de colocar e após remover o equipamento de proteção individual).

b. Adotar precauções de contato para pacientes com CDI para ajudar a reduzir a disseminação do organismo entre pacientes.

c. O agrupamento de pacientes com CDI é aceitável quando quartos individuais não estiverem disponíveis.

d. Garantir que os suprimentos adequados para precauções de contato estejam prontamente disponíveis.

e. Seguir os critérios adequados para interrupção das precauções de contato.

4. Limpar e desinfetar adequadamente os equipamentos e ambientes dos pacientes com CDI. Qualidade da evidência – baixa para equipamentos, baixa para ambientes.

a. Os esporos de Clostridioides difficile podem contaminar os equipamentos utilizados em pacientes infectados e também os ambientes frequenta dos por esses pacientes.

b. Superfícies e equipamentos contaminados são reservatórios potenciais para a transmissão de Clostridioides difficile.

c. Desenvolver e implementar protocolos para desinfecção de equipamentos e do meio ambiente.

d. Dedicar itens de cuidados não críticos (como manguitos de pressão arterial, estetoscópios e termômetros) para uso único pelo paciente com CDI.

5. Avaliar a adequação da limpeza do quarto. Qualidade da evidência – baixa.

a. Trabalhar com a equipe de serviços ambientais para estabelecer um processo de avaliação da adequação da limpeza dos ambientes em uma frequência viável para a equipe.

b. O processo deve se concentrar na revisão e melhoria das técnicas de limpeza e desinfecção. Questões importantes a serem abordadas incluem a diluições adequada de produtos de limpeza/desinfecção, adequação das técnicas de limpeza/desinfecção, limpeza de superfícies frequentemente trocadas, frequência da troca de panos e materiais, e movimentação entre áreas limpas e sujas.

c. Considerar a descontaminação ambiental com agente esporicida aprovado pela EPA se a limpeza/desinfecção dos ambientes for considerada adequada, mas ainda assim houver transmissão contínua de Clostridioides difficile.

6. Implementar um sistema de alerta baseado nas análises laboratoriais para notificar imediatamente os profissionais de prevenção de infecções e aos clínicos sobre paciente recém-diagnosticados com CDI. Qualidade de evidência – baixa.

a. Para adotar precauções de contato para os pacientes com CDI em tempo hábil, é importante que um sistema de alerta seja desenvolvido entre o laboratório, os profissionais de prevenção de infecção e a equipe de cuidados clínicos.

b. As informações relevantes podem ser transmitidas usando uma variedade de métodos. O uso de opções que enviem notificações para os profissionais é preferível, como alertas telefônicos, pagers ou alertas eletrônicos. O sistema de alerta não deve depender apenas de comunicações passivais, como faxes ou e-mails, para evitar o atraso no recebimento.

c. Alertar imediatamente as áreas de atendimento ao paciente sobre resultados positivos para que os pacientes possam ser colocados em precauções de contato o mais rápido possível.

d. Caso o paciente tenha CDI ou outra infecção que requer isolamento, comunicar o status de CDI/isolamento ao transferir o paciente para outras alas ou instituições para que as precauções apropriadas possam ser implementadas.

7. Conduzir a vigilância, analisar e relatar dados referentes a CDI. Qualidade de evidência – baixa.

a. Calcular, no mínimo, as taxas de incidência de CDI das instituições de saúde e considerar calcular as taxas de incidência por ala.

b. Fornecer as taxas de CDI e outras medidas de processo de prevenção de CDI para os principais stakeholders, como liderança, médicos, enfermeiros e outros clínicos.

c. Fornecer as medidas de processo e de resultado para os funcionários e administradores regularmente.

8. Educar os profissionais de saúde, o pessoal de serviços ambientais e a administração hospitalar sobre CDI. Qualidade de evidência – baixa.

a. Incluir fatores de risco, vias de transmissão, epidemiologia local de CDI, desfechos dos pacientes, e medidas de prevenção e de tratamento de CDI.

9. Educar os pacientes e suas famílias sobre CDI, conforme apropriado. Qualidade de evidência – baixa.

a. A educação adequada, embora muitas vezes não considerada como parte de programas de redução de infecções por Clostridioides difficile e/ou outros organismos multirresistentes, pode ajudar a aliviar os medos do paciente e familiares em relação a adoção de precauções de contato.

b. Incluir informações que respondam questões antecipadas como informações gerais sobre CDI, colonização vs infecção, informações sobre o programa de prevenção de CDI do hospital, os componentes e justificativas para as precauções de contato, esclarecimentos sobre o risco de transmissão para os familiares e visitantes durante a estadia no hospital e após a alta, e a importância da higiene das mãos adequada.

10. Medir a conformidade com as recomendações de higiene das mãos e precauções de contato do CDC ou da OMS. Qualidade da evidência – baixa.

a. Uma possível fonte de transmissão de Clostridioides difficile entre pacientes é a contaminação transitória das mãos de profissionais da saude por esporos.

b. O uso de luvas durante os cuidados aos pacientes com CDI e ao tocar superfícies em seus quartos é eficaz na prevenção da transmissão de Clostridioides difficile.

c. Práticas de higiene das mãos em conformidade com as diretrizes do CDC ou da OMS podem ser importantes para a prevenção e controle de CDI.

Quais as abordagens adicionais para prevenção de CDI?

1. Intensificar a avaliação da conformidade com as medidas de processo. Qualidade de evidência – baixa.

a. Precauções de contato – aventais e luvas devem ser usados por todos os profissionais de saúde que entram nos quartos de pacientes que estão sob precauções de contato.

b. Higiene das mãos – a higiene das mãos deve ser realizada, no mínimo, na entrada e na saída dos quartos dos pacientes. Determinar se a técnica adequada de higiene das mãos está sendo utilizada. Caso a conformidade ou a técnica de higiene das mãos não for adequada, realizar intervenções para melhoria.

c. Avaliar oportunidades de melhorar a utilização de antibióticos e/ou de testes diagnósticos por meio da melhoria da conformidade com e/ou usando estratégias adicionais de stewardship antimicrobiana e diagnóstica.

2. Realizar a higiene das mãos com água e sabão como método preferencial após o cuidado ao paciente ou interação com o ambiente do paciente com CDI. Qualidade da evidência – baixa.

a. Ao considerar uma medida de higiene das mãos especifica para CDI, a prioridade deve ser garantir a aderência ao calçamento das luvas e a técnica adequada de remoção para minimizar o risco de auto-contaminação.

b. Idealmente, após a remoção das luvas a higiene das mãos deve ser realizada antes de sair do quarto do paciente.

c. Garantir a técnica adequada de higiene das mãos com o uso de água e sabão.

d. É importante estar ciente de qua a adesão a higiene das mãos pode diminuir com a recomendação de uso de sabão e água.

3. Colocar os pacientes com diarreia sob precauções de contato enquanto o resultado do teste de Clostridioides difficile estiver pendente. Qualidade da evidência – baixa.

a. Colocar os pacientes com diarreia de início recente e não explicada em precauções de contato. As precauções devem ser iniciadas assim que os sintomas de diarreia forem reconhecidos pois esse é o período de maior contaminação. Particular ênfase deve ser dada ao uso de aventais/luvas e a desinfecção de equipamentos médicos compartilhados.

b. A disponibilidade de quartos individuais ou o agrupamento de pacientes em quartos não individuais antes do diagnostico de CDI pode ser um desafio para alguns hospitais. Fatores como a probabilidade de que o paciente transmita Clostridioides difficile, o tempo para os resultados do teste de CDI e o impacto da adoção das precauções de contato na gestão dos leitos, podem auxiliar na tomada de decisão.

c. Se a testagem para Clostridioides difficile resultar negativa e não houver suspeita de outra etiologia infecciosa que requeira precauções de contato, as precauções de contato podem ser suspensas de acordo com o tipo de teste e na suspeita clínica de CDI.

4. Prolongar a duração das precauções de contato após o paciente se tornar assintomático e até a alta hospitalar. Qualidade da evidência – baixa.

a. O CDC atualmente recomenda precauções de contato para pacientes com CDI por pelo menos 48 horas após resolução da diarréia. No entanto, alguns hospitais podem optar por estender as precauções de contato por toda a duração da hospitalização mesmo com a resolução dos sintomas.

b. As instituições de saude devem encontrar um equilíbrio entre a potencial redução na transmissão de Clostridioides difficile e o risco individual de isolamento para o paciente (como quedas e estresse socioemocional).

5. Usar um desinfetante esporicida aprovado pela EPA – como hipoclorito de sódio diluído (1:10) – para limpeza/desinfecção ambiental. Implementar um sistema para coordenar o uso com a equipe de serviços ambientais caso seja determinado o uso de hipoclorito de sódio para a desinfecção ambiental. Qualidade da evidência – baixa.

a. Os dados em relação a capacidade de desinfetantes esporicidas de controlar CDI através da descontaminação ambiental não foram consistentes.

b. Ao instituir o uso de um desinfetante esporicida para descontaminação ambiental é necessário coordenar as atividades com a equipe de serviços ambientais.

c. Quando o hipoclorito de sódio diluído é usado é importante abordar várias questões, incluindo medidas para evitar toxicidade para pacientes e funcionários, remoção da matéria orgânica das superfícies antes do uso, e o uso de hipoclorito recém-diluído ou adequadamente armazenado.

d. Quando um método esporicida for instituído apenas para ambientes de pacientes com CDI, um sistema devera ser criado para identificar esses ambientes para a equipe de serviços ambientais.

Quais as questões consideradas não resolvidas?

1. Identificação de portadores assintomáticos de C. difficile toxigênico usando swabs retais ou periretais e teste de NAAT e colocação daqueles que são positivos em precauções de contato.

2. Implementação de tecnologias de desinfecção sem toque.

3. Uso de probióticos como profilaxia primária.

4. Profilaxia de antibióticos para CDI para certos pacientes de alto risco que estão recebendo antibióticos sistêmicos.

5. Uso de aventais e luvas por membros da família e outros visitantes.

6. Uso de sistemas de alerta que notificam os profissionais de prevenção de infecção e clínicos sobre pacientes readmitidos ou transferidos com histórico de CDI.

7. Avaliação contínua do conhecimento de CDI e intensificação da educação de CDI entre os profissionais de saúde.

8. Restrição de supressores de ácido gástrico.

TAGS: SHEA, Clostridioides difficile, prevenção de infecção

Fonte: Kociolek LK, Gerding DN, Carrico R, et al. Strategies to prevent Clostridioides difficile infections in acute-care hospitals: 2022 Update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2023;44(4):527-549

Link: https://doi.org/10.1017/ice.2023.18

Sinopse por: Maria Julia Ricci

LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/mariajuliaricci

E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it

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