A ampliação da triagem de Candida auris em hospital de Nova York revelou aumento na detecção precoce de casos, prevenindo transmissões hospitalares.
Introdução
O artigo “Analysis of an expanded admission screening protocol for Candida auris at a New York City hospital”, publicado no American Journal of Infection Control, aborda a ampliação da triagem para Candida auris (C. auris) em pacientes admitidos vindos de instituições de longa permanência (ILP). Entenda a relevância desse estudo para a segurança hospitalar e controle de infecções.
Principal Achado
O principal achado do estudo foi que expandir o protocolo de triagem permitiu a identificação precoce de casos de colonização por Candida auris, especialmente entre pacientes considerados inicialmente de baixo risco, reduzindo significativamente a transmissão hospitalar desse fungo multirresistente.
Importância do Tema
Candida auris é um patógeno emergente que representa uma séria ameaça devido à sua resistência a múltiplos antifúngicos e à alta capacidade de sobrevivência em superfícies hospitalares. A identificação precoce de pacientes colonizados é essencial para prevenir surtos hospitalares e controlar a disseminação da infecção.
Contextualização do que se sabia
Anteriormente, sabia-se que pacientes provenientes de ILPs com traqueostomia ou dependentes de ventilação mecânica apresentavam risco elevado de colonização por C. auris. Porém, havia incertezas sobre a necessidade de rastrear pacientes com menor perfil de risco vindos dessas instituições.
Metodologia
Realizou-se um estudo retrospectivo comparando dois períodos (janeiro a setembro de 2022, pré-expansão, e outubro de 2022 a setembro de 2023, pós-expansão). Foram triados 591 pacientes únicos provenientes de ILPs, analisando fatores de risco como dependência ventilatória e uso de traqueostomia. As amostras coletadas foram cultivadas e confirmadas com espectrometria de massa (MALDI-TOF).
Principais Resultados
Dos 591 pacientes únicos triados, 14 (2,4%) tiveram resultado positivo para colonização por C. auris. Entre pacientes com traqueostomia ou dependentes de ventilação mecânica, a taxa de positividade foi significativamente maior (17,0%), comparada a apenas 0,9% nos demais pacientes (OR: 21,5; IC: 6,2-85,6; p < 0,01). O estudo também revelou que a expansão dos critérios permitiu identificar 8 casos adicionais que passariam despercebidos pelo protocolo anterior.
Conclusões dos Autores
Os autores concluem que hospitais devem considerar a implementação ou expansão dos protocolos de triagem de C. auris com base na prevalência regional do patógeno, especialmente entre pacientes oriundos de instituições de longa permanência com diferentes níveis de risco.
Fatores Limitantes e Possíveis Confundidores
Entre as limitações apontadas, destaca-se a possibilidade de não rastreio de pacientes devido a falhas na documentação prévia de internação em instituições de longa permanência, bem como a falta de avaliação de outros dispositivos médicos que poderiam influenciar o risco de colonização.
Recomendações dos Autores
Os autores recomendam a expansão dos critérios de triagem para incluir pacientes provenientes de todas as ILPs, especialmente em regiões com prevalência conhecida de C. auris, como medida eficaz para evitar transmissões não detectadas e minimizar o impacto operacional associado a surtos hospitalares.
Ampliação dos critérios de pesquisa de colonização
Originalmente, o hospital rastreava apenas pacientes admitidos com traqueostomia ou dependentes de ventilação mecânica vindos de Instituições de Longa Permanência (ILP) que ofereciam suporte ventilatório. Com a ampliação, passaram a rastrear todos os pacientes provenientes de qualquer ILP, independentemente da presença desses dispositivos.
Os autores destacaram a importância de realizar triagem inicial para todos os pacientes provenientes de ILPs, especialmente nas regiões com alta prevalência conhecida de C. auris. Isso permitiu identificar casos positivos adicionais que, anteriormente, teriam passado despercebidos por não se encaixarem no perfil de alto risco inicial.
Como uma prática adicional recomendada, sugerem a expansão progressiva, começando pelos pacientes mais vulneráveis (com traqueostomia ou ventilação mecânica) e, caso haja resultados positivos, ampliar a triagem também para pacientes sem esses dispositivos, que inicialmente não seriam considerados de alto risco.
Procedimentos de Isolamento e Precauções para Pacientes Colonizados
- Pacientes considerados de alto risco (com traqueostomia ou dependentes de ventilação mecânica) foram imediatamente colocados em precauções especiais de contato (isolamento) enquanto aguardavam os resultados das culturas de triagem. Tais precauções exigem:
- Uso obrigatório de avental e luvas pela equipe médica e assistencial ao entrar no quarto.
- Higienização reforçada com hipoclorito de sódio (água sanitária) em todos os equipamentos e superfícies que o paciente colonizado tenha contato direto.
- Após a confirmação da colonização, é feita uma limpeza intensificada (terminal) do ambiente, complementada por desinfecção com radiação ultravioleta (UV).
- Para pacientes classificados como baixo risco, não foi instituído isolamento preventivo enquanto aguardavam os resultados, com o objetivo de minimizar o impacto operacional. Contudo, assim que um resultado positivo era confirmado, o paciente passava imediatamente às precauções especiais descritas acima.
- Nos casos em que um paciente colonizado compartilhou quarto, os colegas de quarto eram imediatamente testados e transferidos para quartos individuais até a confirmação negativa da colonização. Repetia-se o teste após uma semana, reforçando a segurança.
Comentários Adicionais
Destaca-se a importância da abordagem preventiva e proativa, que apesar de implicar custos iniciais, gera economia significativa ao evitar surtos e intervenções mais complexas e custosas.
É fundamental destacar que essas ações refletem uma visão preventiva robusta, com atenção especial à complexidade operacional hospitalar, equilibrando a segurança do paciente com eficiência administrativa.
O uso de técnicas avançadas de laboratório, como o PCR em tempo real (RT-PCR), é sugerido pelos autores como uma futura alternativa, considerando-se sua maior rapidez e sensibilidade na detecção do patógeno.
Essas medidas corroboram diretrizes internacionais (CDC e outras agências internacionais) sobre a necessidade de políticas ativas de rastreamento e controle ambiental rigoroso.
Essas recomendações são uma oportunidade para os hospitais brasileiros revisarem suas políticas de controle de infecções, especialmente em unidades que recebem muitos pacientes de instituições de longa permanência.
Fonte:
CHENG, A. et al. Analysis of an expanded admission screening protocol for Candida auris at a New York City hospital. American Journal of Infection Control, v. 53, p. 70–74, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2024.08.027.
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Sinopse por:
Antonio Tadeu Fernandes:
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