Novos antibióticos são ativos contra enterobactérias resistentes a carbapenêmicos?
Novas opções terapêuticas foram adicionadas na lista de recursos para o tratamento de infecções e é fundamental que os profissionais de saúde estejam atualizados sobre seu uso, principalmente quando o tema são os microrganismos resistentes a antibióticos. Esse estudo compara a atividade de novos antibióticos para infecções por Enterobacterales (enterobactérias) resistentes a carbapenêmicos e o possível benefício da adição de um segundo agente terapêutico.
Quais são os novos antibióticos para tratar enterobactérias resistentes a carbapenêmicos?
Nos últimos anos novos agentes – entre os quais beta-lactâmicos e tetraciclinas – foram aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration) para tratar infecções por Enterobacterales resistentes a carbapenêmicos (CRE). Levando em consideração que CRE tendem a infectar populações vulneráveis com alto risco de mortalidade, é fundamental para os profissionais de saúde conhecerem o espectro de ação dos novos agentes. Além disso, devido a introdução e popularização de testes moleculares rápidos capazes de identificar os genes das carbapenemases antes do resultado de testes de susceptibilidade antibiótica (AST), saber a ação desses medicamentos frente a mecanismos de resistência conhecidos pode auxiliar na escolha de tratamento eficaz mais rapidamente.
Quais antibióticos foram avaliados neste estudo?
Esse estudo teve como objetivo comparar a atividade de 8 novos agentes antibióticos contra uma coorte de isolados clínicos de CRE. Também avaliou o incremento de susceptibilidade na adição de um segundo agente terapêutico – aminoglicosídeos, fluoroquinolonas ou polimixinas.
As amostras de isolados clínicos de CRE foram coletadas de 3 hospitais estadunidenses entre junho de 2016 e junho de 2021. Foi determinada a concentração inibitória mínima por microdiluição em caldo, através do equipamento Sensititre, e 8 agentes foram utilizados nos testes de susceptibilidade – ceftazidima-avibactam, meropenem-vaborbactam, imipenem-relebactam, cefiderocol, tigeciclina, minociclina, eravaciclina, e omadaciclina. Além dos testes de susceptibilidade, foi realizado sequenciamento completo de genoma (WGS) para investigar os mecanismos de resistência à carbapenêmicos.
Qual foi a suscetibilidade aos novos antibióticos?
Foram incluídos no estudo 603 isolados de CRE, sendo 46% (276) produtores de carbapenemase. Os isolados foram provenientes majoritariamente de amostras de urina (189), respiratória (133), fluido intra-abdominal (132) e sangue (88). Os principais organismos identificados foram: Klebsiella pneumoniae (38%), complexo Enterobacter cloacae (26%) e Escherichia coli (16%).
Os testes de susceptibilidade geral revelaram 95% de susceptibilidade a ceftazidima-avibactam, 92% a meropenem-vaborbactam, 84% a imipenem-reçebactam e 92% a cefiderocol.
Em relação à sensibilidade de bactérias produtoras de carbapenemases: ceftazidima-avibactam, meropenem-vaborbactam e cefiderocol foram ativos contra 94% dos 220 isolados produtores de KPC; cefiderocol foi ativo contra 83% dos 29 isolados de NDM; ceftazidima-avibactam teve 100% de atividade contra 9 isolados produtores de OXA-84; por fim, a tigeciclina foi a tetraciclina com maior atividade contra produtores de KPC, NDM ou OXA-84. Os isolados produtores de mais de uma carbapenemase tiveram resposta reduzida tanto para beta-lactâmicos quanto para tetraciclinas.
Em relação a adição de agentes secundários, os aminoglicosídeos e as polimixinas apresentaram cobertura superior as fluoroquinolonas, sendo amicacina e plazomicina os agentes com maior valor aditivo.
Qual a importância do conhecimento da epidemiologia institucional?
Os autores concluem afirmando a importância da compreensão adequada da epidemiologia molecular de CRE e da atividade dos agentes terapêuticos disponíveis. Ressaltam ainda que, apesar de a literatura atual não apontar relevante benefício nas taxas de mortalidade com a adição de um segundo agente terapêutico, para pacientes sintomáticos com colonização conhecida por CRE ou de regiões de elevada endemicidade de CRE a adição de um segundo agente pode aumentar a probabilidade de atividade antibiótica até os resultados dos testes de susceptibilidade antibiótica – auxiliando a tomada de decisões empíricas sobre antibióticos.
Quais foram as limitações deste estudo, segundo seus autores?
Esse estudo teve 3 principais limitações. O estudo foi realizado com uma coorte de isolados de pacientes de uma região dos EUA podendo não refletir a realidade de outras regiões. Além disso, foram incluídas apenas a primeira amostra de cada espécie de CRE de cada paciente; sendo assim os resultados não contemplam a resistência potencialmente emergida após exposição aos agentes antibióticos – a inclusão de isolados sucessivos provavelmente demonstraria menor susceptibilidade. Por fim, é importante lembrar que a susceptibilidade in vitro não necessariamente reflete a realidade clínica.
Fonte: Tamma PD, et al. (2023). Comparing the activity of novel antibiotic agents against carbapenem-resistant Enterobacterales clinical isolates. Infection Control & Hospital Epidemiology, 44: 762–767
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.161
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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TAGs/palavras-chave: beta-lactâmicos, tetraciclinas, Enterobacterales resistentes a carbapenem, testes moleculares rápidos, susceptibilidade antibiótica, sequenciamento completo de genoma, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae, Escherichia coli, epidemiologia molecular