O gênero do farmacêutico influencia na aceitação das suas recomendações do programa de stewardship de antimicrobianos?
Estereótipos de gênero tem efeito prejudicial em ambientes de trabalho, inclusive na área da saúde e nas práticas de controle e prevenção de infecções. Essa publicação avalia se preconceitos de gênero podem influenciar a aceitação das recomendações de ajuste de antibióticos feitas por farmacêuticos.
Qual o papel dos farmacêuticos no gerenciamento de antimicrobianos
Os farmacêuticos desempenham papel vital na supervisão e ajuste da terapia antibiótica no âmbito hospitalar, estando muitas vezes envolvidos no feedback e recomendando ajustes terapêuticos pós-prescrição. Durante as interações profissionais, contudo, fatores como gênero e outras características demográficas podem afetar a confiança e disposição a aceitar as recomendações realizadas por esses profissionais.
Como a adesão às recomendações pode ser avaliada?
Esse estudo comparou a eficácia de uma intervenção de melhoria de administração de antibióticos na alta hospitalar, liderada por farmacêuticos e realizada em um grande centro médico acadêmico americano. O intuito foi determinar se o gênero do profissional foi associado com a aceitação das recomendações realizadas.
Foi realizada uma análise retrospectiva dos dados coletados durante uma intervenção (“Reducing Overuse of Antibiotics at Discharge (ROAD) Home”) liderada por farmacêuticos, que ocorreu entre maio e outubro de 2019. A iniciativa em questão envolveu os pacientes que estavam em terapia antibiótica e consistiu na realização de “medication timeout” nas 48 horas prévias a alta.
As estratégias de “timeout” consistem em conversas estruturadas entre os diversos responsáveis – nesse caso entre médicos e farmacêuticos – para avaliar a terapia prescrita; nessa intervenção os 4 pontos-chave do “timeout” dos antibióticos foram: interrupção de terapia desnecessária, redução da duração excessiva, verificação da escolha adequada de agentes, e documentação do curso de antibióticos para a alta. Durante os 6 meses de intervenção foram coletados dados sobre as indicações de antibióticos, detalhes da prescrição, mudanças sugeridas e aceitação/não-aceitação das recomendações.
Os autores analisaram os dados e calcularam a porcentagem de recomendações que foram aceitas pelos médicos e a proporção de timeouts que levaram a mudanças de prescrição. Um modelo de regressão logística foi então utilizado para avaliar associações entre o gênero do farmacêutico e a aceitação das recomendações realizadas.
Intervenções realizadas por mulheres foram menos aceitas?
Durante o período de estudo foram registrados 295 timeouts, sendo que 158 (53.6%) foram realizados por 12 mulheres e 137 (46.4%) por 8 homens. Na maioria dos timeouts (86.8%) a prescrição antibiótica para alta não foi interrompida. Os principais problemas identificados nas prescrições foram a duração excessiva e a escolha adequada de agentes – em 82 timeouts (27.8%) houve sugestão de mudança, e essa sugestão foi acatada em 51 (62.2%) dos casos.
Com relação ao gênero dos profissionais houve diferença nas recomendações e na aceitação das modificações propostas. Profissionais do gênero feminino realizaram menos recomendação de mudança de agente, que ocorreu apenas em 30/158 timeouts (19%) versus 52/137 (86.8%) recomendações realizadas por profissionais masculinos. Já em relação as recomendações aceitas, profissionais mulheres tiveram menor aceitação em relação aos colegas homens, sendo as recomendações femininas aceitas em 10/30 casos (33.3%) contra as 41/52 (80.8%) recomendações masculinas aceitas. No total, os timeouts realizados por profissionais do gênero feminino levaram a mudança em 6.3% dos casos enquanto os timeouts realizados por profissionais do gênero masculino levaram a mudança em 29.9%.
Que perspectivas este artigo abre?
Esse estudo elucidou que o gênero do farmacêutico foi um fator significativamente associado com as práticas de recomendação de alteração da terapia antibiótica e com a probabilidade de aceitação da recomendação por parte dos médicos. Enquanto a maioria das recomendações realizadas pelo gênero masculino foram aceitas, apenas 1 em cada 3 recomendações feitas pelo gênero feminino foram aceitas. Os autores ressaltam que, principalmente considerando o aumento do número de profissionais feminino no âmbito da farmácia, é crítico que disparidades de gênero sejam estudas e mitigadas para garantir uma adequada assistência a saúde.
Quais as limitações desse estudo?
Esse estudo possui diversas limitações. Primeiramente é importante considerar que esse foi um estudo pequeno, realizado em uma única instituição e que levou em conta apenas uma intervenção de melhoria de qualidade, de modo que seus resultados podem não ser generalizáveis. Além disso, outras diferenças demográficas (raça, etnia, idade, etc) e de treinamento/experiencia não foram analisados. Por fim, as prescrições antibióticas e as mudanças sugeridas não foram revisadas.
Fonte:
Vaughn, V. M., Giesler, D. L., Mashrah, D., Brancaccio, A., Sandison, K., Spivak, E. S., Szymczak, J. E., Wu, C., Horowitz, J. K., Bashaw, L., & Hersh, A. L. (2023). Pharmacist gender and physician acceptance of antibiotic stewardship recommendations: An analysis of the reducing overuse of antibiotics at discharge home intervention. Infection control and hospital epidemiology, 44(4), 570–577.
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.136
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Sinopse por:
Maria Julia Ricci
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TAGs/palavras-chave:
ajuste da terapia antibiótica, farmácia, disparidade de gênero, medication timeout, antibioticos