Infecções por Candida auris tem sido progressivamente relatadas em todo o mundo desde a primeira identificação do patógeno em 2009. O estudo teve como objetivo analisar a presença cutânea e retal de C. auris, em um grupo de pacientes num contexto hospitalar epidêmico, para avaliar e comparar a prevalência da colonização dessas zonas e sua relação com infecções.
Nesta sinopse discutimos:
Que lacunas temos na pesquisa de surtos de Candida auris?
Colonização de pacientes por Candida auris é importante durante os surtos?
Como foi realizada a pesquisa?
Quais os principais resultados?
As conclusões do estudo podem ser significativas?
Que implicações temos em nossa prática profissional?
Afinal, quando devemos pesquisar portadores de Candida auris?
Que lacunas temos na pesquisa de surtos de Candida auris?
Infecções por Candida auris tem sido progressivamente relatadas em todo o mundo desde a primeira identificação do patógeno em 2009. Ainda hoje, porém, muitos aspectos sobre os pacientes portadores de C. auris ainda não foram suficientemente explorados por pesquisas e ensaios clínicos. As informações existentes são limitadas, principalmente tratando-se de colonização do reto e de sua significância prognostica em relação a colonização cutânea.
Colonização de pacientes por Candida auris é importante durante os surtos?
O estudo teve como objetivo analisar a presença cutânea e retal de C. auris, em um grupo de pacientes num contexto hospitalar epidêmico, para avaliar e comparar a prevalência da colonização dessas zonas e sua relação com infecções.
Como foi realizada a pesquisa?
Este foi um estudo retrospectivo realizado em um hospital universitário de referência de 1200 leitos na Itália (San Martino Policlinico) entre junho de 2020 e janeiro de 2021. O hospital em que foi realizado o estudo identificou um surto de C. auris em junho de 2020 e em agosto de 2020 e foi instaurado o protocolo de triagem durante admissão para alas em risco.
A coorte de estudos foi composta de pacientes triados para colonização cutanea por C. auris e pacientes infectados por C. auris; além disso, foram incluídos pacientes submetidos a swab retal como parte da politica de triagem semanal para controle de infecção por enterobactérias resistentes a carbapanêmicos.
Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva. Foram analisadas as incidências de swabs cutâneos positivos e comparadas com as incidências de swabs retais positivos, e ambos foram correlacionados com os casos de infecção por C. auris.
Quais os principais resultados?
Um total de 399 pacientes foram incluídos no estudo, contabilizando 2044 amostras coletadas. Entre estes, 77 pacientes tiveram uma infecção por C. auris, totalizando 498 amostras.
Entre os pacientes, 54,8% apresentaram colonização tanto cutânea quanto retal. Dos swabs cutaneos, 12,3% foram sempre positivos e 83,6% apresentaram variabilidade ao longo da estadia do paciente. Já os swabs retais apresentaram 31,5% sempre positivos e 41,1% de variabilidade. Além disso, a colonização intestinal foi associada ao aumento do risco de infecções urinárias por C. auris.
As conclusões do estudo podem ser signtificativas?
Os autores ressaltam algumas limitações do estudo. Primeiramente, a atribuição da infecção a um dos sítios foi impossibilitado devido a sobreposição recorrente do status de portador cutâneo e retal. Além disso, a natureza retrospectiva do estudo não permitiu a identificação da sucessão temporal entre a colonização cutânea, retal e infecção para cada paciente. Por fim, os autores ressaltam que foram utilizadas técnicas de cultura para identificação da colonização e da infecção; porem, outros estudos já demonstraram que técnicas de amplificação molecular são mais velozes e precisas.
Que implicações temos em nossa prática profissional?
O estudo demonstrou uma colonização maior para os portadores de C. auris identificados por meio do swab retal. Levando os resultados em consideração, os autores concluem que swabs retais e cutaneos podem ser boas ferramentas para vigilância de C. auris; sendo que os swabs retais podem ser eficazes como indicativo de colonização, enquanto os cutaneos como indicativo da eficácia das medidas de higiene. Por fim, ressaltam que um ponto de possível interesse é o aumento das infecções urinárias concomitantes com a presença do organismo no trato gastrointestinal.
Afinal, quando devemos pesquisar portadores de Candida auris?
Este é um estudo mirado, bem executado e que apresenta perspectivas interessantes. Um dos fatores interessantes é que ele ressalta que a realização de um swab cutâneo ou retal nao são intercambiáveis a nível de resultados pontuais e contínuos, sendo um possível fator de interesse a ser considerado pelos profissionais clínicos.
É importante também notar que o estudo foi realizado em um contexto de epidemia, no qual um protocolo de triagem foi instaurado. Uma medida generalizada pode ser considerada para alas e pacientes particularmente em risco, porém é menos sensato em um contexto geral de unidade de terapia intensiva, principalmente em contextos com recursos limitados.
Fonte: Piatti G, Sartini M, Cusato C, Schito AM. Colonization by Candida auris in critically ill patients: role of cutaneous and rectal localization during an outbreak. J Hosp Infect. 2022 Feb;120:85-89.
Sinopse por: Maria Julia Ricci
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Palavras chaves / TAGs: Candida auris, swab retal, swab cutâneo, surto, colonização, Infecção
Links:
https://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(21)00391-1/fulltext
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19161556/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27452195/
https://www.ccih.med.br/candida-auris-um-patogeno-hospitalar-emergente/