Colonização por Enterobactérias resistentes a carbapenêmicos piora o prognóstico do paciente?
Enterobacterales resistentes a carbapenêmicos são um desafio urgente de saúde pública global, principalmente devido as limitadas opções de tratamento e altas taxas de mortalidade. Neste estudo temos uma comparação entre os resultados clínicos de pacientes colonizados e infectados por CRE.
O estudo teve como objetivo descrever a epidemiologia de pacientes com colonização não-intestinal por Enterobacterales resistentes a carbapenêmicos (CRE) e comparar os resultados clínicos desses pacientes com aqueles com infecção por CRE.
Como foi feito o estudo dos pacientes com enteroctérias resistentes aos carbapenêmicos??
Foi realizada uma análise dos dados CRACKLE-2 – i.e. uma coorte observacional prospectiva previamente descrita de pacientes com CRE de 49 hospitais dos EUA no período de 30 de abril de 2016 a 31 de agosto de 2017 – sendo incluídos os pacientes que tiveram CRE identificada por meio de exames clínicos do trato urinário, trato respiratório ou ferida.
Como avaliar o impacto da colonização por enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos?
Os autores selecionaram os pacientes com colonização não-intestinal por CRE e descreveram suas características, curso de tratamento, e desfechos clínicos. O impacto do local da colonização em relação aos resultados foi então avaliado. Por fim, comparou-se os resultados dos pacientes classificados como colonizados com aqueles dos pacientes classificados como infectados.
Uma parte interessante foi o uso do método DOOR (Desirability of Outcome Rank) para classificação da desejabilidade dos resultados clínicos em 30 dias, já que essa classificação permite medir a desejabilidade global de um resultado levando em consideração riscos e benefícios. Além disso, foram analisadas também as mortalidades em 30 dias e as reinternações em 90 dias.
Qual foi o impacto clínico da colonização por enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos?
No total 802 pacientes da coorte foram incluídos no estudo, sendo 547 classificados como ‘colonizados’ e 255 como ’infectados’. A maioria dos pacientes (54%) eram do sexo masculino, a idade média foi de 65 anos e 244 (41%) apresentavam índice de comorbidade de Charlson >3. Dos 547 pacientes com colonização não-intestinal por CRE, 275 (50%) eram do trato urinário, 201 (37%) eram do trato respiratório e 71 (13%) eram de uma ferida.
Entre os pacientes colonizados, aqueles com colonização do trato respiratório tiveram os piores resultados clínicos gerais usando DOOR e apresentaram a maior taxa de mortalidade em 30 dias (30%). Já os pacientes com colonização do trato urinário foram os mais propensos a ter resultado clínico mais desejável em 30 dias, com uma probabilidade de desfecho positivo 61% maior.
Um dos resultados mais notáveis dessa publicação foi relacionado a comparação entre desfechos clínicos de pacientes colonizados e infectados, pois evidenciou-se que os pacientes colonizados apresentaram desfechos tão ruins quanto os pacientes com infecção por CRE.
Quais as limitações do estudo?
Esse estudo possui algumas limitações. Primeiramente, os hospitais que compõe a CRACKLE-2 eram majoritariamente grandes hospitais acadêmicos, o que pode limitar a generalização para contextos menores ou com demografia e praticas de cultura diversas. Além disso, não foi analisado o motivo para coleta das culturas, o que pode ter sido fator determinante da classificação de um paciente como colonizado ou infectado. Ressalta-se também que a análise do status de infecção e diagnostico foi realizada de forma retrospectiva e com base em registros clínicos digitais.
Quais as conclusões dos autores?
Os autores concluem evidenciando em particular a semelhança de ocorrência de desfechos insatisfatórios nos dois grupos de pacientes. Ressaltam a necessidade de trabalhos futuros que estabeleçam modos eficazes de diferenciar pacientes colonizados e infectados por CRE e quais as características do paciente colonizado que tem potencial de prever o benefício/indicação de uso de antibióticos.
Fonte: Howard-Anderson JR, et al. (2022). Poor outcomes in both infection and colonization with carbapenem-resistant Enterobacterales. Infection Control & Hospital Epidemiology, 43: 1840–1846
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.4
Sinopse por: Maria Julia Ricci
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Links relacionados:
Microrganismos produtores de carbapenenmases, um desafio global: https://doi.org/10.1093/cid/cix893
Fatores de risco para enterobactérias resistentes a carbapenem –
https://www.ccih.med.br/fatores-de-risco-para-enterobacterias-resistentes-a-carbapenem/
Identificação de infecção por microrganismos multirresistentes –
https://www.ccih.med.br/identificacao-de-infeccao-por-microrganismos-multirresistentes/
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/