Você é um profissional da saúde e sabe da importância da desinfecção de superfícies em uma UTI. Este estudo comprovou que a adesão à desinfecção melhorou significativamente após a aplicação do método de fluorescência como estratégia de feedback.
Que consequência trouxe a pandemia para a prevenção e controle de infecções em UTIs?
A pandemia de COVID-19 impactou diretamente na prevenção de infecções relacionadas à saúde (IRAS). As unidades de terapia intensiva (UTI) experienciaram momentos de tensão aumentada, relacionadas à superlotação, ao déficit de funcionários, pessoal destreinado, síndrome de burnout, escassez de equipamentos e suprimentos. Além disso, havia falta de vigilância das IRAS e baixo cumprimento do uso dos equipamentos de proteção individual. Esses fatores combinados levaram ao aumento da transmissão cruzada.
No último trimestre de 2020, um relatório do National Health Care Safety Network evidenciou um aumento significativo nas IRAS em comparação a 2019. Sendo 47% relacionadas aos cateteres de corrente sanguínea, 18% relacionadas ao trato urinário associadas aos cateteres vesicais, 44,8% pulmonares associadas ao ventilador mecânico e 33,8% dessas IRAS foram acometidas por Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
Qual o possível papel da desinfecção ambiental nesses casos?
A limpeza e a desinfecção do ambiente são fundamentais para prevenção das IRAS, reduzindo a propagação de microrganismos e patógenos multirresistentes. Para essa prevenção é requerido treinamento, monitoramento, auditoria e feedback. A Organização Mundial da Saúde recomenda a limpeza de superfícies de áreas ocupadas por pacientes internados com COVID-19, pelo menos, duas vezes ao dia.
Pesquisadores descobriram que o coronavírus pode permanecer viável em superfícies, contudo com relação a sua transmissão ambiental, as evidências se mostram limitadas.
Qual foi o objetivo do estudo?
Este estudo teve como objetivo avaliar a desinfecção de superfícies de alto contato em uma UTI, exclusivamente, COVID-19, utilizando o método de fluorescência como marcador para validação e educação da equipe multiprofissional da UTI, por meio de feedbacks.
Como o estudo foi realizado?
Este estudo foi conduzido de maio a julho de 2021, em uma UTI com 35 leitos, em um Hospital escola no Brasil. Ao longo do estudo, a UTI atendeu exclusivamente pacientes com infecções por COVID-19, confirmados pelo RT-PCR.
De acordo com o protocolo da instituição, a desinfecção das superfícies de contato dos pacientes devem ser realizadas 3 vezes por dia.
Este estudo foi dividido em 3 fases: avaliação inicial (maio de 2021), feedback educativo (junho de 2021) e avaliação pós-feedback (julho de 2021).
Antes da avaliação inicial foi aplicado a metodologia “Plan-Do-Study-Act” (PDSA) para definir as dez superfícies para avaliação e aplicação do marcador de fluorescência, além de definir qual era a melhor forma de aplicação do produto nas superfícies.
Dez superfícies de alto contato foram incluídas, tais quais: grade superior direita da cama, grade inferior direita da cama, grade superior esquerda da cama, grade inferior esquerda do leito, grade de apoio dos pés, suporte de infusão, bomba de infusão, monitor de sinais vitais, ventilador mecânico e carrinho de medicamentos.
A conformidade na desinfecção foi definida como a limpeza de 8 ou mais dessas 10 superfícies de contato eleitas no estudo para avaliação.
Para avaliar a adesão à desinfecção, um profissional treinado aplicou o marcador fluorescente Glo GermTM em todas as 10 superfícies listadas com um cotonete no início do turno. Todas as 35 camas foram incluídas nesta fase. A equipe da UTI não tinha conhecimento do processo, pois o produto só pode ser detectado com luz ultravioleta.
Cada superfície foi considerada desinfetada se o marcador fluorescente fosse totalmente removido ou reduzido significativamente.
Foi realizada uma análise descritiva. Para comparar a desinfecção, as taxas de adesão entre a “primeira e terceira fases” do estudo foram testadas, por meio do Teste-t de Student.
Quais foram os principais resultados?
Ao longo do estudo, 700 superfícies de desinfecção foram analisados dos 35 leitos de internação, sendo 350 na avaliação inicial e 350 na fase pós-feedback.
O cumprimento da desinfecção na “primeira fase foi de 14,3% e na fase pós-feedback foi significativamente maior de 51,4% (P < 0,001).
A conformidade com a desinfecção melhorou significativamente em todas as superfícies, exceto para a desinfecção do ventilador mecânico (37,1%-44,1%, P = 0,626). A desinfecção do carrinho de medicamentos foi adequada em ambas as fases.
Quais as limitações do estudo?
Estudo de centro único.
Que comentários e críticas finais?
No presente estudo, com exceção da desinfecção do ventilador mecânico, a conformidade geral da desinfecção melhorou significativamente. A desinfecção do carrinho de medicamentos manteve-se adequado em ambas as fases.
O estudo destacou a importância de combinar a validação do processo de desinfecção com o feedback educativo em tempo real para aumentar a adesão à desinfecção.
Fonte:
Fram DS, Medeiros EA, Ribeiro RM, Escudero DVDS, Alves JCD, Macedo B, Ferreira DB, de Oliveira AHV, Santos RP, Matias LO, Maia MM, Freires FJC, Ferreira VM, de Almeida TML, Machado FR. High-touch surfaces disinfection compliance in a COVID-19 intensive care unit. Am J Infect Control. 2023 Apr;51(4):469-471. doi: 10.1016/j.ajic.2022.08.028. Epub 2022 Sep 6. PMID: 36075297; PMCID: PMC9444321.
Link:
https://doi.org/10.1016/j.ajic.2022.08.028
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Sinopse por:
Thalita Gomes do Carmo
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Links relacionados:
Viabilidade do coronavírus nas superfícies – Kampf G, Todt D, Pfaender S, Steinmann E. Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and their inactivation with biocidal agents. J Hosp Infect. 2020;104:246–251.
Glo GermTM (Training Procedures For) –
<https://www.glogerm.com/pdf/TrainingManual.pdf>
TAGs / palavras chave:
A limpeza e a desinfecção do ambiente, COVID-19, infecções relacionadas à saúde, feedback, higiene ambiental, superfícies de alto toque