Que medidas reduziram significativamente a colonização por Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos (CRAB). Continuando a polêmica sobre pesquisa de portadores e seu isolamento.
A crescente incidência de infecções nosocomiais causadas pelo Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos (CRAB) representa um desafio significativo para instituições de saúde em todo o mundo. Este patógeno oportunista é notório por sua capacidade de sobreviver em ambientes hospitalares e desenvolver resistência a múltiplos antibióticos, tornando essencial a adoção de estratégias eficazes de controle de infecção.
Importância do Tema
O CRAB está associado a infecções graves, como bacteremia, pneumonia associada à ventilação mecânica e infecções de feridas cirúrgicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o CRAB como um dos patógenos prioritários para pesquisa e desenvolvimento de novas terapias e medidas de prevenção, devido à sua alta taxa de mortalidade e resistência antimicrobiana.
Conhecimento Prévio sobre o Tema
Antes da implementação de intervenções multicamadas, as medidas de controle de infecção para CRAB incluíam precauções de contato, higiene das mãos e limpeza ambiental. No entanto, a eficácia dessas medidas isoladas era limitada, especialmente em unidades de alta dependência (HD) fora das unidades de terapia intensiva (UTI), onde a infraestrutura e a proporção de enfermeiros por paciente não atendem aos padrões das UTIs.
Metodologia de Estudo
Um estudo quase-experimental de séries temporais interrompidas foi conduzido ao longo de 3,5 anos em um centro médico terciário com 1.100 leitos. O estudo foi dividido em quatro fases:
- Pré-intervenção: Vigilância passiva e medidas padrão de controle de infecção.
- Introdução da intervenção: Implementação de limpeza ambiental aprimorada e uso de swabs específicos para amostras ambientais.
- Fase 1 da intervenção: Início da vigilância ativa com triagem de CRAB em três locais anatômicos (pele, orofaringe e reto) para todos os pacientes admitidos nas unidades HD e semanalmente posteriormente.
- Fase 2 da intervenção: Cohortização de pacientes positivos para CRAB em uma unidade HD dedicada, além das medidas anteriores.
Principais Resultados
O estudo incluiu 204 pacientes com isolamento de CRAB, com idade média de 69,8 anos, dos quais 59,8% eram do sexo masculino. Observou-se uma redução significativa na média de casos clínicos de CRAB, de 0,89 na fase pré-intervenção para 0,11 ao final da fase 2. Houve uma mudança significativa na inclinação e no nível após a intervenção, com valores de P = 0,02 e P = 0,004, respectivamente. Além disso, a positividade das culturas ambientais diminuiu significativamente em todas as áreas avaliadas durante a fase 2.
Conclusões dos Autores
A intervenção multicamadas, que incluiu limpeza ambiental aprimorada, vigilância ativa e cohortização de pacientes positivos, foi eficaz na redução da aquisição de CRAB em unidades de medicina interna e suas unidades HD não-UTI. Os autores destacam a importância de estratégias integradas e escalonadas para o controle de patógenos multirresistentes em ambientes hospitalares.
Fatores Limitantes e Possíveis Confundidores
As limitações do estudo incluem a especificidade do ambiente hospitalar estudado, o que pode limitar a generalização dos resultados para outras instituições. Além disso, a coincidência da introdução da intervenção com o início da pandemia de COVID-19 pode ter influenciado os resultados, devido às mudanças nas práticas de controle de infecção durante esse período.
Recomendações dos Autores
Os autores recomendam a implementação de intervenções multicamadas em ambientes hospitalares, especialmente em unidades de alta dependência, para controlar a disseminação de patógenos multirresistentes como o CRAB. Eles enfatizam a necessidade de vigilância ativa, limpeza ambiental rigorosa e cohortização de pacientes positivos como componentes essenciais dessas estratégias.
Comentários Adicionais e nossa opinião
Este estudo reforça a eficácia de abordagens integradas e escalonadas no controle de infecções hospitalares por patógenos multirresistentes. A adaptação de estratégias de controle de infecção às especificidades de cada unidade hospitalar é crucial para o sucesso na redução da transmissão de microrganismos resistentes.
Ao nosso ver os efeitos da pandemia sobre as práticas de controle e prevenção de infecção podem ter sido responsáveis por mudanças epidemiológicas importantes no padrão das infecções hospitalares, sendo um confundidor importantíssimo neste estudo, que apesar de resultados significativos ainda deixa em branco uma resposta importante sobre a pergunta se devemos ou não pesquisar e isolar pacientes colonizados por CRAB.
Fonte:
GRUPEL, D.; BORER, A.; YOSIPOVICH, R.; NATIV, R.; SAGI, O.; SAIDEL-ODES, L. A multilayered infection control intervention on carbapenem-resistant Acinetobacter baumannii acquisition: An interrupted time series. American Journal of Infection Control, [s.l.], v. 53, p. 98-104, 2025. https://doi.org/10.1016/j.ajic.2024.08.018
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IDSA 2024 – Acinetobacter resistente aos carbapenêmicos
https://www.ccih.med.br/idsa-2024-acinetobacter-resistente-aos-carbapenemicos/
Vale a pena fazer busca ativa para Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos (CRAB)?
https://www.ccih.med.br/vale-a-pena-fazer-busca-ativa-para-acinetobacter-baumannii-resistente-a-carbapenemicos-crab/
Opções terapêuticas para resistência aos carbapenêmicos
https://www.ccih.med.br/opcoes-terapeuticas-para-resistencia-aos-carbapenemicos/
ANVISA avalia a evolução da resistência aos carbapenêmicos no Brasil de 2015 a 2022
https://www.ccih.med.br/anvisa-avalia-a-evolucao-da-resistencia-aos-carbapenemicos-no-brasil-de-2015-a-2022/
Atualização da Lista de Patógenos Bacterianos Prioritários da OMS.
https://www.ccih.med.br/atualizacao-da-lista-de-patogenos-bacterianos-prioritarios-da-oms/
Nova Diretriz para tratamento de Infecções por Bactérias Gram-negativas resistentes a antimicrobianos da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA)
https://www.ccih.med.br/nova-diretriz-para-tratamento-de-infeccoes-por-bacterias-gram-negativas-resistentes-a-antimicrobianos-da-sociedade-americana-de-doencas-infecciosas-idsa/
Sinopse por:
Antonio Tadeu Fernandes:
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