Cirurgias de coluna são um tema frequentemente abordado nos programas de gerenciamento de antimicrobianos, contudo, ainda não há um consenso claro com os cirurgiões de coluna sobre o uso de profilaxia antimicrobiana como estratégia eficaz de redução de infecções de sítio cirúrgico. Dada a ampla variedade de duração de terapia antimicrobiana aplicada nesse contexto, esses pacientes podem estar mais suscetíveis a lesão renal aguda, infecção por Clostridioides difficile e outras complicações pós-operatórias.
QUAL FOI O OBJETIVO DO ESTUDO?
O principal objetivo foi determinar a associação entre a duração da profilaxia antimicrobiana (PAM) e eventos pós-operatórios – em particular, infecção de sítio cirúrgico (ISC) em 30 dias, lesão aguda renal (AKI) em 7 dias, infecção por Clostridioides difficile (CDI) em 90 dias, tempo prolongado de permanência hospitalar (TPH) e reoperação em 30 dias. Além disso buscou-se determinar os efeitos da seleção antimicrobiana sobre esses resultados e descrever o grau de adesão as diretrizes atuais.
QUAL FOI A METODOLOGIA DO ESTUDO?
Foi utilizada uma base de dados da rede Veterans Health Administration (VHA) e incluídos os pacientes submetidos a cirurgia da coluna lombar entre 1º de janeiro de 2016 e 30 de setembro de 2020 que receberam pelo menos 1 dia de PAM – cefazolina, clindamicina e/ou vancomicina – até 7 dias após a cirurgia. Foram excluídos individuos que tiveram abscesso epidural, osteomielite, discite, outras espondilopatias infecciosas, ou infecção e reação inflamatória devido a material proteico.
As características clínicas e cirúrgicas foram resumidas para toda a coorte e foi utilizada regressão logística univariada e multivariada para testar a associação entre os diferentes desfechos e a duração da PAM. Por fim, a análise de impacto de duração de PAM foi estratificada por agente antimicrobiano.
QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS RESULTADOS?
Foram incluídos no estudo 6.198 pacientes, provenientes de 137 centros cirúrgicos dos EUA, dos quais 92.7% eram homens e com idade média de 60.9 anos. Os principais procedimentos realizados foram laminectomia (53.2%), artrodese/fusão (32.9%), e discectomia (13.9%).
Em relação a PAM, a maioria dos pacientes recebeu cefazolina (86.9%) porém apenas 18.7% receberam pela duração indicada pelas diretrizes (1 dia).
A análise multivariada elucidou associação entre o uso de múltiplos antimicrobianos profiláticos a maiores chances de CDI em 90 dias e de reoperação em 30 dias. Já quanto a duração da PAM, cursos de antimicrobianos com duração igual ou maior a 3 dias foram associados com maior TPH e maior chance de reoperação em 30 dias.
A análise univariada, por sua vez, demonstrou associação apenas entre o aumento de dias de PAM e maiores chances de CDI em 90 dias.
QUAIS AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DOS AUTORES?
Com base nos dados analisados, os autores concluem que o uso de PAM por mais de 24 horas não diminui as chances de SSI. A administração prolongada de PAM e a administração de múltiplos agentes pode, contudo, aumentar as chances de infecção por Clostridioides difficile, de prolongamento do tempo de permanência, e de reoperação.
Sendo assim, afirmam que esse estudo se une ao crescente corpo de evidências que demonstram que o uso de antibióticos profiláticos para além de 24 horas possuem benefícios mínimos para os pacientes e podem, de fato, contribuir para resultados clínicos não ideais. Ressaltam ainda que a baixa adesão a duração recomendada de AMP é um sintoma da grande lacuna de aplicação de evidências na prática clínica que deve ser abordada pelos cirurgiões de coluna e pelos programas de gerenciamento de antimicrobianos.
Fonte: Porter MW, et al. (2022). Association between duration of antimicrobial prophylaxis and postoperative outcomes after lumbar spine surgery. Infection Control & Hospital Epidemiology, 43: 1873–1879. https://doi.org/10.1017/ice.2021.529
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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