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Estresse por calor e EPIs durante a COVID 19: impacto no desempenho, segurança e bem-estar dos profissionais de saúde

A natureza impermeável e enclausurante de alguns EPIs impede a perda de calor e – quando combinada ao peso adicional e mobilidade restrita – pode aumentar o nível de estresse por calor e tensão térmica de modo a impactar negativamente o desempenho, segurança e bem-estar do usuário. O estudo teve como objetivo avaliar os níveis percebidos de estresse por calor e suas consequências para profissionais de saúde no contexto do NHS do Reino Unido durante a pandemia de COVID-19.

Qual a justificativa do estudo?
Atualmente, os profissionais de saúde do NHS (National Health Service) do Reino Unido são obrigados a utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) para reduzir o risco de contrair ou disseminar COVID-19. A natureza impermeável e enclausurante de alguns EPIs impede a perda de calor e – quando combinada ao peso adicional e mobilidade restrita – pode aumentar o nível de estresse por calor e tensão térmica de modo a impactar negativamente o desempenho, segurança e bem-estar do usuário.

Qual o objetivo do estudo?
O estudo teve como objetivo avaliar os níveis percebidos de estresse por calor e suas consequências para profissionais de saúde no contexto do NHS do Reino Unido durante a pandemia de COVID-19. Tal avaliação visou auxiliar futuras intervenções destinadas a mitigar o nível de estresse por calor experimentado por essa população.

Qual metodologia foi empregada?
Uma pesquisa online anônima foi realizada por meio da distribuição de um questionário no âmbito do Hospital Universitário Coventry, do Warwick Shire NHS trust e de outras facetas do NHS (por meio de mídias sociais como LinkedIn e Twitter) entre maio e agosto de 2020. Foi proposta a avaliação de dois tipos de EPI:
Tipo 1: respirador (i.e., filtering face piece class 3 – FFP3), macacão hidrorrepelente descartável/capote de manga longa, face shield/visor de rosto completo, luvas descartáveis
Tipo 2: marcara cirúrgica resistente a fluidos/máscara cirúrgica sem visor integrado, face shield/visor de rosto completo/óculos de proteção de policarbonato ou equivalentes, avental de plástico descartável, luvas
Percepções do nível de estresse térmico experimentado foram avaliadas analisando retrospectivamente a sensação e conforto térmico durante a utilização do EPI, e comparando as mudanças na sudorese com e sem os EPIs. Foram considerados: o numero e tipo de sintomas relacionados ao calor; o numero e tipo de tarefas cognitivas negativamente afetadas; se e em qual nível a performance física foi afetada; percepção da dificuldade ou facilidade proporcionada pelos EPIs; e, se e como os EPIs foram removidos durante o turno devido a desconforto ou aquecimento excessivo.

Quais os principais resultados?
Obtiveram-se 230 respostas, das quais 224 foram incluídas.
No geral, 91.5% dos respondentes relatou que o uso de EPIs tornou o trabalho mais difícil. Durante a utilização dos EPIs 72.3% relatou sentir ‘calor’, com 89.7% sentindo-se ‘muito desconfortável’ ou ‘desconfortável’, e 98.7% experimentando aumento da sudorese. 76.8% relatou remover os EPIs durante o turno para aliviar o desconforto ou o aquecimento excessivo; 36.2% o fizeram cinco ou mias vezes durante o turno. Aproximadamente 65% dos respondentes relatou piora em uma ou mais tarefas cognitivas.
Máscaras faciais e visores foram os itens mais problemáticos no estudo, com comprometimento da comunicação sendo a principal reclamação, especialmente quando tratando pacientes de populações vulneráveis.

Quais as limitações do estudo?
Os autores ressaltam: a majoritária resposta sobre EPIs do tipo 2, que foi considerado por eles menos desafiador em relação as características térmicas; a inexistência de dados sobre quais os itens de proteção foram mais frequentemente removidos; ausência de informações sobre a aderência dos profissionais a politicas designadas a diminuir o estresse térmico; sub-representação da população masculina.
Outras limitações – não citadas pelos pesquisadores – foram: possível viés de seleção pelos métodos de seleção de participantes e de disseminação aplicados; impossibilidade de generalização dos resultados devido a descrição pouco específica dos EPIs (sem especificação, por exemplo, de gramaturas e modelos utilizados).

Quais as conclusões e recomendações finais?
Estas e outras respostas sugerem que uma modificação nas práticas de trabalho atuais é necessária urgentemente para melhorar a resiliência dos profissionais de saúde ao uso de EPI durante as pandemias.
Os autores veem as respostas obtidas como evidência da necessidade de modificação nas práticas de trabalho atuais e da necessidade de melhorar a resiliência dos profissionais de saúde ao uso de EPIs durante pandemias. Sugerem também a modificação do design de peças faciais – já que esta é uma região altamente termo sensível – de forma a ajudar na redução do desconforto em geral e de problemas relacionados a dermatite de contato.

Que críticas e recomendações finais?
O artigo certamente parte de uma proposta interessante. Compreender a percepção e o impacto de novos protocolos e equipamentos no cuidado a saúde é fundamental para a constante melhoria das condições de trabalho e para a melhor proteção dos trabalhadores e pacientes. Apesar disso, o artigo infelizmente deixa muitas questões em aberto, tem uma metodologia consideravelmente escassa e tem conclusões pouco pertinentes a proposta.
Noto principalmente que os autores não reportaram nenhum dos múltiplos vieses e procedimentos metodológicos que podem afetar os resultados obtidos e as conclusões do estudo. Além disso, a metodologia é pouco clara em diversos níveis e o questionário – que segundo o texto estaria disponível na sessão de materiais suplementares – não está disponível para consulta.

O autor de referência foi contatado para acesso aos outros materiais e esclarecimento de metodologia, mas até o momento não houve resposta.
Fonte: Davey SL, Lee BJ, Robbins T, Randeva H, Thake CD. Heat stress and PPE during COVID-19: impact on healthcare workers’ performance, safety and well-being in NHS settings. J Hosp Infect. 2021 Feb; 108: 185-188
Sinopse por: Maria Julia Ricci

Contato: maria.ricciferreira@edu.unito.it

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