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Estudo brasileiro mostra importância do treinamento para a enfermagem das precauções contra transmissão de infecções

Em países de baixa e média renda, como o Brasil, doenças endêmicas como tuberculose, gastroenterite, varicela e influenza apresentam potencial de propagação nas Unidades de Saúde. Para evitar tais agravos, as medidas de prevenção de infecção devem ser adotadas, principalmente as precauções padrão e precauções baseadas no tipo de transmissão, mas há uma lacuna entre o conhecimento científico e sua efetiva implementação na prática, seja em ambiente hospitalar ou ambulatorial.

Qual a adesão às medidas de prevenção de infecção na assistência primária em saúde?

Até o momento, não existem estudos robustos com o objetivo de aumentar o conhecimento e a adesão às práticas de prevenção de infecções em nível de atenção primária à saúde. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de uma estratégia educativa inovadora para precaução padrão e precaução baseada em transmissão para a equipe de enfermagem na atenção primária à saúde. A hipótese era de que esta estratégia educativa levaria a um aumento do conhecimento e da adesão autorreferida às precauções padrão e baseada em transmissão.

Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia de uma estratégia educativa sobre as precauções padrão e baseada em transmissão entre a equipe de enfermagem na atenção primária à saúde. 

Como este estudo foi planejado?

Foi realizado um ensaio clínico controlado randomizado não cego. O estudo foi realizado de fevereiro de 2018 a julho de 2019, em 28 unidades de atenção básica de saúde na cidade de São Carlos, estado de São Paulo, Brasil. A amostra foi definida como 110, sendo 55 no grupo controle e 55 no grupo intervenção.

Como foi realizado o treinamento?

A intervenção educativa foi desenvolvida utilizando uma estratégia WebQuest, que considera a forma de aprender do adulto, utilizando a criatividade e flexibilidade, onde o educando busca ativamente o conhecimento.

Utilizou-se casos clínicos com foco na precaução padrão e baseada em transmissão para refletir as situações cotidianas vivenciadas pela equipe de enfermagem na atenção primária à saúde. O objetivo dos casos clínicos foi favorecer ao usuário da WebQuest a compreensão do conceito por trás de cada recomendação, a fim de facilitar suas decisões futuras sobre “quando” e “o que” usar em diversas situações clínicas.

Como foi avaliado o resultado do treinamento?

Um instrumento foi utilizado como pré e pós-teste para avaliar o conhecimento e a adesão autorreferida às precauções padrão e baseada em transmissão entre a equipe de enfermagem.

Este instrumento de avaliação foi composto por dois módulos, A e B.

O módulo A abordou a avaliação do conhecimento sobre precauções padrão e baseada em transmissão, com questões voltadas ao contexto da atenção primária à saúde, e teve 5 dimensões: Avaliação de risco, Higienização das mãos, Uso de luvas, Uso de máscara e etiqueta da tosse, segurança de injeção e descarte de objetos cortantes.

O Módulo B avaliou a adesão autorreferida tanto as precauções padrão quanto à precaução baseada em transmissão, utilizando uma escala do tipo Likert.

Já para os Módulos A e B, o grau de conhecimento e adesão foi avaliado considerando o percentual de acertos (valor ideal esperado: 100% de respostas esperadas). Para o Módulo B consideramos “sempre” como resposta esperada e “nunca” como resposta errada. A avaliação pós-intervenção foi aplicada duas vezes: uma avaliação imediata e uma avaliação de médio prazo (seguimento de 6 meses).

O grupo controle foi avaliado apenas uma vez. Durante o período do estudo, possíveis eventos, como outros programas de treinamento ou surtos ocorridos na atenção primária à saúde, também foram monitorados para identificar possíveis vieses nos resultados.

Quais foram os principais resultados observados?

O número final de participantes incluídos na amostra foi de 100 (50 em cada grupo), pois 10 indivíduos descontinuaram a participação no estudo.

Seis meses após a aplicação da WebQuest, foi realizada uma segunda avaliação no grupo de intervenção, com perda de onze participantes (22%). Ressalta-se que durante o período do estudo não houve outro programa de treinamento em serviço oferecido sobre precauções padrão e baseada em transmissão, bem como não houve surtos infecciosos.

Observamos um aumento no percentual de acertos no total de participantes quanto ao conhecimento. O grupo de intervenção aumentou o conhecimento em todas as dimensões. No geral, a diferença percentual entre as avaliações de conhecimento pré e pós-intervenção foi significativa, principalmente relacionada à avaliação de risco, higienização das mãos, uso de máscara e etiqueta da tosse; as diferenças entre os grupos não foram estatisticamente significativas em relação ao uso de luvas e segurança da injeção e descarte de perfurocortantes.

A porcentagem de acertos foi alta para ambos os grupos em relação à dimensão Segurança da injeção e descarte de perfurocortantes. Curiosamente, houve diminuição no percentual de acertos no grupo controle para uso de máscara e etiqueta da tosse. Ao avaliar o Módulo B (aderência autorreferida às precauções padrão e baseada em transmissão), observamos aumento tanto na intervenção quanto no controle.

No grupo intervenção, observou-se diferença significativa entre as avaliações pré e pós imediata em algumas dimensões. Esse aumento de pontos percentuais foi de 8,9 para avaliação de Risco (p = 0,003); 6,4 para Higiene das mãos (p < 0,001); 11,2 para o uso de máscara e etiqueta de tosse (p < 0,001); e 6,0 para o módulo A total (p < 0,001).

Na segunda avaliação (após 6 meses), contudo houve redução significativa no percentual de acertos quanto ao conhecimento na dimensão Uso de máscara e etiqueta da tosse, de 80,5 para 74,5, bem como no módulo total A de 81,8 a 79,8.

Ao avaliar o efeito da interação entre os grupos e avaliações, houve diferença significativa a favor do grupo intervenção para Avaliação de Risco, Higienização das mãos, Uso de máscara e etiqueta da tosse e Módulo A total.

Quais as principais conclusões do estudo?

Confirmamos a hipótese de que o estudo de que a estratégia educacional utilizando WebQuest levou a um aumento no conhecimento e na adesão autorreferida às precauções padrão e baseada em transmissão. 

Quais recomendações e observações em relação ao estudo?

A disciplina de precauções padrão e baseada em transmissão deve fazer parte do currículo de enfermagem, bem como deve ser abordadas na educação em serviço frequentemente.

Na nossa opinião seria interessante comparar essa estratégia de treinamento com as estratégias convencionais, pois este estudo revela o impacto da ocorrência de treinamento versus profissionais sem o referido treinamento e essa metodologia pode ser adaptada para se avaliar o resultado de diferentes estratégias de treinamento.

Fonte: Passos IPBD, Padoveze MC, Zem-Mascarenhas SH, et al. An innovative strategy for nursing training on standard and transmission-based precautions in primary health care: A randomized controlled trial. American Journal of Infection Control. 2022

Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34793890/

Links relacionados:

Effectiveness over time of a multimodal intervention to improve compliance with standard hygiene precautions in an intensive care unit of a large teaching hospital https://aricjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13756-019-0544-0

Improving adherence to Standard Precautions for the control of health care-associated infections https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6491237/

Effectiveness of a Multicomponent Intervention to Reduce Multidrug-Resistant Organisms in Nursing Homes: A Cluster Randomized Clinical Trial

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8285736/

Como e porque controlar infecções hospitalares https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/

OMS: competências essenciais para profissionais de prevenção e controle de infecção. volume 4 https://www.ccih.med.br/oms-competencias-essenciais-para-profissionais-de-prevencao-e-controle-de-infeccao-volume-4/

Conhecimento da equipe de enfermagem quanto aplicação e adesão das precauções padrão: revisão de literatura https://www.ccih.med.br/conhecimento-da-equipe-de-enfermagem-quanto-aplicacao-e-adesao-das-precaucoes-padrao-revisao-de-literatura/

Sinopse por: Thalita Gomes do Carmo

https://www.instagram.com/profa.thalita_carmo/

TAGs / palavras chave: precauções padrão, treinamento, enfermagem, webquest, adesão

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