Dispositivos automatizados que diluem desinfetantes concentrados com água são comumente utilizados em hospitais. No entanto, um estudo recente revelou falhas críticas nesses dispensadores, demonstrando a necessidade de um monitoramento rigoroso para evitar riscos à segurança dos pacientes.
Como o estudo foi realizado?
Pesquisadores avaliaram a eficácia dos sistemas automatizados de diluição em 10 hospitais dos Estados Unidos, coletando amostras de desinfetantes de dispensadores e soluções de baldes em uso em enfermarias cirúrgicas e UTIs. Foram analisados desinfetantes à base de quaternário de amônio e um produto à base de ácido peracético e peróxido de hidrogênio para verificar se as concentrações estavam dentro dos padrões recomendados. Os valores esperados eram de aproximadamente 1300 ppm (pH ~3) para o ácido peracético e entre 700–800 ppm (pH 8–9) para o quaternário de amônio.
Amostras com concentrações abaixo do ideal foram testadas quanto à eficácia contra Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), no caso do quaternário de amônio, e Clostridioides difficile ATCC 43598, para o ácido peracético. O tempo de exposição foi de 5 minutos para o ácido peracético e de 10 minutos para os desinfetantes de quaternário de amônio.
Além disso, um dos hospitais implementou um monitoramento mais rigoroso após identificar falhas na dispensação do desinfetante à base de quaternário de amônio, resultando em melhorias no controle da concentração do produto.
Quais foram os resultados?
O estudo revelou problemas preocupantes na dispensação dos desinfetantes:
· Nenhum dos hospitais relatou realizar monitoramento rotineiro dos dispensadores de desinfetante.
- 90% dos hospitais apresentaram pelo menos um dispensador com mau funcionamento, comprometendo a eficácia da desinfecção.
- 80% tinham dispensadores que liberavam solução sem qualquer desinfetante detectável, aumentando o risco de contaminação.
- 27,1% dos sistemas dispensaram concentrações abaixo do esperado, incluindo 14% que não liberavam desinfetante algum.
- O ácido peracético apresentou grandes variações de concentração: apenas 20% das amostras estavam dentro da faixa recomendada, enquanto a maioria (57,8%) tinham níveis acima do esperado, 8,9% tinham concentrações abaixo do ideal e 13,3% não apresentavam desinfetante detectável.
- Das 80 amostras coletadas de carrinhos de serviços ambientais, 33,8% apresentavam concentrações inadequadas de desinfetante, sendo que 17,5% não continham qualquer desinfetante detectável, comprometendo a eficácia da higiene hospitalar.
- O teste de eficácia mostrou que amostras com ácido peracético ≤900 ppm e quaternário de amônio ≤400 ppm não alcançaram a redução microbiana esperada para Clostridioides difficile e MRSA (redução inferior a 3 log₁₀ de unidades formadoras de colônia)
Após a implementação de um monitoramento mais rigoroso em um dos hospitais, houve melhora na consistência das concentrações dispensadas, demonstrando que medidas corretivas podem solucionar o problema.
Causas das falhas nos dispensadores e outros problemas identificados
As falhas nos dispensadores foram atribuídas principalmente a erros humanos, incluindo recipientes de concentrado mal conectados, danificados ou não substituídos no momento adequado. No entanto, em um caso, o indicador de nível do produto não funcionou corretamente, resultando na liberação de produto sem desinfetante, e em três casos a causa da falha não pôde ser determinada.
Outro problema identificado foi a manutenção inadequada das soluções de desinfecção. Alguns funcionários dos serviços ambientais não renovavam os produtos regularmente, permitindo o uso de soluções ineficazes. Além disso, em algumas ocorrências, produtos identificados como desinfetantes eram, na verdade, detergentes diluíveis destinados à limpeza de pisos, comprometendo a eficácia da desinfecção hospitalar.
Por que isso importa?
A desinfecção eficaz é um pilar fundamental da segurança do paciente. Falhas na diluição de desinfetantes podem comprometer a eliminação de microrganismos, aumentando o risco de infecções e surtos. Este estudo reforça a necessidade de medidas rigorosas para garantir que os sistemas automatizados de dispensação funcionem corretamente, evitando falhas que podem colocar pacientes e profissionais de saúde em risco.
Recomendações do estudo
A realização de testes periódicos para verificar a concentração dos desinfetantes é fundamental para garantir o funcionamento adequado dos dispensadores automatizados. Os autores recomendam, no mínimo, a análise das concentrações e pH sempre que um novo recipiente de concentrado for instalado e sempre que o produto dispensado apresentar odor ou aparência incomuns.
Além disso, variações na concentração do ácido peracético, incluindo níveis acima do esperado, já foram relatadas em estudos anteriores sobre sistemas automatizados. Investigações adicionais são necessárias para avaliar os possíveis riscos dessa exposição para os profissionais de saúde e serviços ambientais, garantindo que a segurança seja mantida tanto para os usuários quanto para os pacientes.
Conclusão
Os resultados deste estudo evidenciam a necessidade urgente de aprimorar o monitoramento dos dispensadores automatizados de desinfetantes. A inconsistência na diluição pode comprometer a eficácia da desinfecção, aumentando o risco de infecções hospitalares. Portanto, é fundamental implementar um controle rigoroso desses sistemas, com testes regulares para garantir concentrações adequadas e, assim, assegurar um ambiente mais seguro para pacientes e profissionais de saúde.
Limitações do estudo
Apenas 10 hospitais foram incluídos, e nem todos os dispensadores foram testados. Além disso, o impacto de uma intervenção baseada em monitoramento foi avaliado em apenas uma instituição.
Estudos adicionais são necessários para identificar abordagens eficazes que garantam o funcionamento correto dos dispensadores e um monitoramento contínuo.
Fonte: Cadnum JL, Kaple CE, Eckstein EC, Saade EA, Ray AJ, Zabarsky TF, Guerrero BJ, Yassin MH, Donskey CJ. Dilution dysfunction: evaluation of automated disinfectant dispenser systems in 10 hospitals demonstrates a need for improved monitoring to ensure that correct disinfectant concentrations are delivered. Infect Control Hosp Epidemiol. 2024 Oct 10:1-4. doi: 10.1017/ice.2024.148. Epub ahead of print. PMID: 39387208.
Disponível
em : https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39387208/
Elaborado por:
Beatriz Grion
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