Geração de aerossóis em procedimentos odontológicos: o que fazer?
Alguns procedimentos odontológicos geram quantidade significativa de aerossóis, que podem aumentar o risco de transmissão de patógenos respiratórios para os profissionais e para outros pacientes. Este estudo avalia na prática clínica algumas estratégias de mitigação de aerossóis.
Como ocorre a geração de aerossóis nos procedimentos odontológicos?
No contexto dental, a união de instrumentos de alta-velocidade e alta-frequência que usam água para resfriamento juntamente com os fluidos bucais do paciente (saliva, sangue, placa, e restos de comida) são uma grande fonte de geração de aerossóis. Em clínicas odontológicas em que não há estratégias de mitigação, aerossóis podem se manter no ambiente por até 30 minutos depois da realização de um procedimento. Dados preliminares de estudos com manequins sugerem que os riscos relativos a aerossóis podem ser diminuídos com o uso de acessórios como a ponta padrão de evacuação de alto volume (HVE). Apesar disso, esses estudos não foram realizados em um contexto de atendimento ao paciente para que se determine a eficiência real dessas intervenções.
Como foi caracterizada a emissão de aerossóis e intervenções para a sua redução?
O estudo teve como objetivo caracterizar as emissões de aerossóis pela perspectiva do profissional de odontologia durante procedimentos comuns, comparar a eficácia das principais intervenções de mitigação, e estabelecer a duração da persistência ambiental em diferentes configurações de clínica após procedimentos geradores de aerossóis.
Foram coletados dados sobre a geração de aerossóis durante procedimentos em clínicas de odontologia geral, odontologia pediátrica, ortodontia, periodontia, e endodontia dos EUA entre julho e outubro de 2020. Os atendimentos foram realizados em clínicas odontológicas com estruturas diversas, como consultórios particionados, salas individuais e clínicas amplas com multioperadores.
Para coleta de dados foram utilizados sensores de aerossol portáteis posicionados nos bolsos dos profissionais, e espectrômetros óticos com transmissão de dados, permitindo monitoramento em tempo real das concentrações. Os procedimentos avaliados foram: perfuração em alta velocidade durante a descolagem de bráquetes ortodônticos; corte de esmalte e dentina durante o preparo de cavidades e coroas; perfuração em baixa velocidade para acabamento da preparação da cavidade, polimento e apara durante a preparação da coroa; remoção de dentina e tecidos moles durante a endodontia; e escamação ultrassônica durante a limpeza dos dentes. As estratégias de mitigação avaliadas foram: uso de ponta padrão de evacuação de alto volume (HVE), uso de ponta ISOVAC, uso de ponta HVE cônica, e uso de ventilação mínima. Foram coletados dados antes, durante e depois de cada procedimento e comparados para avaliação das estratégias de mitigação de aerossóis utilizadas.
O que gerou mais aerossól e como mitigar riscos?
As maiores concentrações de aerossol foram geradas durante procedimentos de perfuração em alta-velocidade e escamação ultrassônica dos dentes anteriores. O uso de ponta padrão HVE reduziu significantemente a concentração de aerossóis em todos os procedimentos. A maior eficiência, contudo, foi atingida com uso de HVE cônica e ISOVAC.
Os procedimentos realizados em salas individuais demonstraram concentrações ligeiramente mais altas do que aqueles realizados em espaços maiores e abertos. Ressalta-se, porém, que de modo geral a concentração de aerossóis – nesses contextos fechados, de temperatura controlada, com estratégias de mitigação ativas – foi transiente em todos os contextos espaciais com tempo de decaimento de cerca de 5 minutos.
Por fim, evidenciou-se também que a presença de ventilação no ambiente contribuiu para a dispersão eficaz de aerossóis, devido a diluição do ar e o transporte dos aerossóis imediatamente para longe do local de cuidados dentais.
Quais as conclusões deste estudo sobre aerossóis em odontologia?
Os autores defendem que dentistas devem considerar o uso de HVE cônicos ou ISOVAC ao invés da simples ponta padrão, de forma a reduzir a geração de aerossóis durante a prática clínica de rotina e diminuindo os riscos de exposição. Além disso, teorizam que em contextos controlados e com estratégias de mitigação ativas, não há necessidade de deixar as cadeiras odontológicas em repouso por grandes períodos entre um paciente e outro porque os aerossóis são rapidamente dispersos.
Fonte: Choudhary S, et al. (2022). Comparison of aerosol mitigation strategies and aerosol persistence in dental environments. Infection Control & Hospital Epidemiology,43: 1779–1784.
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.26
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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