O receio de contaminação ou a sobrecarga de trabalho foram determinantes da adesão à higiene das mãos durante a pandemia. Afinal, o que está acontecendo com esta prática fundamental para a prevenção de infecções?
Qual a justificativa do estudo?
Alcançar altos níveis de conformidade com a higiene das mãos do pessoal de saúde tem sido um desafio constante.
Qual o objetivo do estudo?
O objetivo deste estudo foi examinar o impacto da pandemia de COVID-19 nas taxas de desempenho de higiene das mãos (Hand Hygiene Performance – HHP) em hospitais de cuidados agudos.
Qual metodologia foi empregada?
As taxas de HHP foram estimadas usando um sistema automatizado de monitoramento de higiene das mãos instalado em 74 unidades de internação de adultos em 7 hospitais e 10 unidades de internação pediátrica em 2 hospitais infantis. Um modelo de regressão segmentado foi usado para estimar a trajetória das taxas de HHP nas 10 semanas que antecederam um evento marco relacionado a COVID-19 (por exemplo, fechamento de escolas) e nas 10 semanas seguintes.
Quais os principais resultados?
Três efeitos surgiram, todos os quais foram significativos. As taxas médias de HHP aumentaram de 46% para 56% nos meses anteriores ao fechamento de escolas relacionados a pandemia. Isso foi seguido por uma mudança para cima de 6% na época em que ocorreram os fechamentos das escolas. As taxas de HHP permaneceram acima de 60% por 4 semanas antes de cair para 54% no final do período do estudo.
Quais as limitações do estudo?
Os autores não relataram limitações.
Quais as conclusões e recomendações finais?
Dados de um sistema automatizado de monitoramento de higiene das mãos indicaram que o HHP mudou em várias direções durante os estágios iniciais da pandemia. Possíveis razões, pelas quais a taxa de HHP primeiro aumentaram com o início da pandemia e depois diminuíram com o progresso, cogitadas foram:
1) maior ênfase na importância da higiene das mãos
2) diminuição significativa nas oportunidades (carga de trabalho)
3) diminuição nas entradas e saídas de visitantes e pacientes (não profissionais de saúde) nas salas
4) maior percepção de risco para os próprios profissionais de saúde e suas famílias.
A percepção do risco é de particular interesse. A pandemia de COVID-19 tem recebido atenção significativa da mídia, o que pode amplificar a percepção de risco pessoal. Os profissionais de saúde podem ter melhorado seus comportamentos de higiene das mãos, em parte, para proteger a si próprios e a seus familiares.
Várias hipóteses são possíveis para a redução mais recente nas taxas de desempenho. Os possíveis fatores contribuintes incluem aumento na carga de trabalho, preocupações com suprimentos limitados de produtos para higiene das mãos, uso de luvas como medida alternativa a higiene das mãos e observações diretas/lembretes menos frequentes de gerentes de enfermagem e líderes de prevenção de infecção devido a prioridades concorrentes relacionadas à pandemia.
Um estudo mais aprofundado pode incluir a análise de dados durante um longo período de tempo para determinar se o aumento da higiene das mãos se tornará o novo normal ou se assemelhará a uma campanha que leva a um aumento, mas não é sustentada devido à falta de um programa multimodal de longo prazo.
Que críticas e comentários?
Estudo interessante que alia ferramentas de monitoramento tecnológicas ao ambiente de cuidados de saúde. Os dados apresentados certamente instigam interesse e há oportunidade de aprofundamentos e elaboração de estudos similares em outros contextos.
Fonte: The impact of COVID-19 pandemic on hand hygiene performance in hospitals. L. D. Moore et al. American Journal of Infection Control, volume 49, January 2021, pages 30-33.
Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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