Como prevenir danos evitáveis por medicamentos? Saiba mais sobre sua ocorrência e o que fazer para prevenir este dano ao paciente, segundo a OMS.
Os erros de medicação constituem um desafio crítico para a saúde pública global, com repercussões significativas para a morbidade e mortalidade ao redor do mundo. Esses erros, que incluem eventos potencialmente evitáveis decorrentes do uso inadequado de medicamentos, são reconhecidos como uma das principais causas de danos aos pacientes nos sistemas de saúde, independentemente do nível de desenvolvimento econômico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), ciente da gravidade desse problema, lançou a iniciativa global “Medicação Sem Dano”, com o objetivo ambicioso de reduzir em 50% os danos evitáveis associados ao uso de medicamentos até 2027. Nesse contexto, em 2023, a OMS publicou uma revisão sistemática abrangente que teve como propósito avaliar a prevalência, a natureza e a gravidade dos danos evitáveis relacionados a medicamentos em diferentes regiões do mundo.
A revisão sistemática incluiu 100 estudos, totalizando uma amostra de 487.162 pacientes, cujos dados foram coletados em uma variedade de contextos e regiões, refletindo a diversidade dos sistemas de saúde globalmente. O estudo foi conduzido de acordo com as rigorosas diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) e do MOOSE (Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology), garantindo a robustez metodológica e a qualidade das evidências revisadas. A qualidade dos estudos foi criteriosamente avaliada utilizando a escala Newcastle-Ottawa, um instrumento validado para avaliar o risco de viés em estudos observacionais. Os estudos selecionados adotaram desenhos observacionais quantitativos, incluindo coortes prospectivas e estudos transversais, e focaram na extração de dados relativos à prevalência de danos evitáveis, ao estágio do processo de uso de medicamentos em que os danos ocorreram, à gravidade dos danos, bem como às classes de medicamentos mais frequentemente associadas a esses eventos.
Resultados do Estudo
Os resultados revelaram que a prevalência global de danos evitáveis relacionados a medicamentos é de 5%, o que equivale a 1 em cada 20 pacientes afetados por tais eventos. Em uma análise regional, a prevalência foi substancialmente maior em países de baixa e média renda (LMICs), atingindo 7%, em contraste com 4% observados em países de alta renda (HICs). As regiões da África e do Sudeste Asiático destacaram-se com as taxas mais elevadas de prevalência, ambas registrando 9%.
Quando analisados os ambientes de assistência à saúde, as unidades de cuidados geriátricos apresentaram a maior prevalência de danos evitáveis (17%), seguidas por unidades de cuidados altamente especializados ou cirúrgicos (9%). No que tange às fases do processo de medicação (cadeia medicamentosa), a maioria dos danos evitáveis ocorreu durante a fase de prescrição (53%) e monitoramento e relato (36%). As classes de medicamentos mais frequentemente associadas aos danos evitáveis incluem antibacterianos, antipsicóticos, medicamentos cardiovasculares, tratamentos para distúrbios gastrointestinais, terapia endócrina, hipnóticos, sedativos e anti-inflamatórios não esteroides. Em termos de gravidade, 38% dos danos foram classificados como leves, 44% como moderados e 23% como graves ou potencialmente fatais.
A análise conduzida pela OMS reforça a necessidade premente de ações coordenadas em escala global para mitigar os danos evitáveis relacionados a medicamentos, com uma ênfase particular em países de baixa e média renda, onde a prevalência é significativamente mais alta. A revisão destaca a importância de intervenções estratégicas e específicas em ambientes de alto risco, como unidades geriátricas e cirúrgicas, além da necessidade de aprimorar os processos de prescrição e monitoramento de medicamentos, identificados como pontos críticos na cadeia medicamentosa. Ainda, os resultados evidenciam a relevância de uma vigilância contínua e o desenvolvimento de novas pesquisas para avançar nas práticas de medicação e, consequentemente, reduzir os riscos à saúde dos pacientes a nível global.
A OMS, por meio de suas diretrizes e iniciativas, continua a liderar esforços para promover a segurança medicamentosa, um componente essencial na qualidade da assistência à saúde em todo o mundo.
Link: Global burden of preventable medication-related harm in health care: a systematic review (who.int)
Elaborado por Cassiana Prates