Esse estudo apresenta um resumo das investigações de surtos de infecções associadas ao broncoscópio dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do EUA entre 2014 e 2022 com respectivas medidas corretivas.
Qual o contexto da publicação?
A broncoscopia flexível é um procedimento endoscópico comum para o diagnóstico e tratamento de condições respiratórias; contudo, em caso de falhas no reprocessamento de broncoscópios ou nas práticas de prevenção de infecção relacionadas ao procedimento, há o risco de transmissão de patógenos e ocorrência de infecções. A transmissão de patógenos infecciosos relacionados a procedimentos de broncoscopia afeta negativamente os pacientes e o sistema de saúde, contudo, apesar dos riscos existentes a vigilância ativa de infecções associadas a broncoscopia ainda não é uma prática comum.
Qual o objetivo da publicação?
Essa publicação teve como objetivo descrever a experiência da Divisão de Promoção da Qualidade da Saúde do CDC com investigações associadas a broncoscopia. Os autores visaram resumir as principais características dessas investigações, identificando associações comuns, possíveis rotas de transmissão e áreas chave para o controle e prevenção de infecções.
Qual a metodologia adotada?
Os registros do DHPQ de investigações envolvendo broncoscopia de 1º de julho de 2014 a 30 de setembro de 2022 foram revisados. Para cada investigação disponível e sem via de transmissão alternativa determinada, os autores calcularam o número de pacientes envolvidos e identificaram a fonte da amostra para as culturas e seus respectivos resultados, violações de controle e prevenção de infecções, possíveis rotas de transmissão e medidas de mitigação implementadas.
Quais os principais resultados?
Foram revisadas 23 investigações, sendo 19 de surtos e 4 de pseudo surtos, envolvendo 234 pacientes. Não houve fatalidades associadas aos eventos investigados.
Na maioria das investigações houve identificação de bactérias (78%). As micobactérias não tuberculosas foram os patógenos mais comuns, presentes em 11 investigações (46%) e 120 pacientes (51%). Em 5 investigações houve identificação de fungos e em apenas 1 identificação de vírus. Em relação as amostras investigadas, 221 pacientes (93%) tiveram patógenos isolados apenas nas amostras respiratórias. Além disso, 7 investigações (29%) envolveram bacilos Gram-negativos ambientais.
O broncoscópio contaminado por falhas no reprocessamento foi a rota de transmissão mais comum (21%), seguida pela exposição a água, gelo ou salina não estéril (10%). As intervenções de controle e prevenção de infecções relatadas foram: ajustes nas práticas de reprocessamento; descontinuação do pré-enchimento de tubos de coleta de amostras com solução salina antes do procedimento; transição para administração intraprocedural de lidocaína em frascos de uso único; devolução ao fabricante de broncoscópios danificados ou contaminados; atualização da educação dos funcionários relacionada aos procedimentos de reprocessamento; e a implementação ou otimização das práticas de controle de qualidade. Além disso, para limitar a exposição do paciente e dos materiais a gelo não estéril: recipientes para amostras e seringas contendo água estéril ou solução salina resfriada para irrigação e hemóstase durante o procedimento foram alocadas em sacos limpos uso único antes de serem colocados no gelo; gelo de água estéril foi utilizado; ou houve a descontinuação do uso de gelo. Também foram instalados filtros de torneira em torneiras das áreas de reprocessamento e de realização de broncoscopia.
Quais as conclusões dos autores?
Os autores concluem que as lacunas em todas as etapas do reprocessamento de broncoscópios devem ser cuidadosamente avaliadas pelos profissionais de saúde. O estudo também elucida a importância de considerar os diversos fatores que podem estar envolvidos em surtos desse tipo – sendo importante, por exemplo, considerar a exposição a água não estéril e considerar a infecção por fungos e vírus, mesmo que menos provável. Por fim, os autores ressaltam a importância da adoção de intervenções multimodais, envolvendo medidas para eliminar as fontes de contaminação e para impor a adesão estrita as práticas de controle e prevenção de infecções.
Fonte: Solanky, Dipesh, Ana Cecilia Bardossy, Shannon Novosad, Heather Moulton-Meissner, Matthew Arduino, and Kiran M. Perkins. “Microbiological Characteristics, Transmission Routes, and Mitigation Measures in Bronchoscope-Associated Investigations: Summary of Centers for Disease Control and Prevention (CDC) Consultations, 2014–2022.” Infection Control & Hospital Epidemiology 44, no. 12 (2023): 2052–55. https://doi.org/10.1017/ice.2023.229
Sinopse por: Maria Julia Ricci
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