Infecções fúngicas associadas à assistência à saúde (HA-IMIs) são um importante fator que leva ao aumento da morbidade e mortalidade. A vigilância destas infecções representa um desafio multifacetado para controladores de infecção em todo o mundo. Neste artigo os autores avaliam as práticas de vigilância em vigor em hospitais estadunidenses parte da Society of Healthcare Epidemiology of America (SHEA).
Qual a justificativa do estudo?
A vigilância de HA-IMIs é uma atividade desafiadora; a falta de uma definição de caso padronizada que seja amplamente aceita e a dificuldade de estabelecer com clareza as fontes de infecção, estão entre as principais dificuldades de se lidar com esse tipo de infecção no âmbito hospitalar. Apesar dos diversos esforços de prevenção empregados em hospitais – como o uso da amostragem de ar ambiental, por exemplo, uma abordagem ideal das práticas de vigilância ainda não foi estabelecida.
Qual foi o objetivo do estudo?
O estudo buscou avaliar as práticas atualmente empregadas no âmbito hospitalar em relação a vigilância de HA-IMIs e de amostragem de ar ambiental, particularmente no contexto dos hospitais da SHEA.
Qual foi a metodologia do estudo?
Os autores elaboraram uma pesquisa transversal que foi distribuída eletronicamente para os hospitais elegíveis. As respostas foram coletadas durante um período aproximado de dois meses, do final de junho ao início de setembro de 2020, e então resumidas para análise. Foi usado o teste exato de Fisher para proporções com a finalidade de comparar as respostas entre hospitais acadêmicos e hospitais não acadêmicos.
Quais foram os principais resultados?
A pesquisa foi completada por 37 (52,1%) das 71 instalações elegíveis, sendo a maioria hospitais acadêmicos (67,6%). No geral, 35 hospitais (94,6%) relataram realizar algum tipo de vigilância para HA-IMIs, seja de forma prospectiva (24/35) ou retrospectiva (11/35), sendo os hospitais acadêmicos notavelmente mais propensos a realização de monitoramento prospectivo (83,3%).
Grande variabilidade foi notada na escolha de definição de caso e de critérios temporais para associação da infecção ao ambiente de cuidados à saude. A definição de caso predominante utilizada foi da EORTC/MSG (European Organization for Research and Treatment of Cancer and Mycoses Study Group), utilizada por 42,9% dos hospitais. Já em relação ao critério temporal para atribuição da infecção como associada aos cuidados hospitalares foram usados prazos de 2 dias de internação até mais de 2 semanas.
Já em relação ao uso da amostragem de ar, 23 hospitais (62,2%) relataram realizar algum tipo de amostragem para identificação de mofo. Além disso, a maioria das estruturas relataram a realização de consulta com um higienista industrial (81,1%) e/ou de uma equipe de análise de risco de projeto (83,8%) para revisar as propostas de manutenção, reforma e construção que poderiam levar a um risco aumentado de contaminação.
Quais foram as principais conclusões dos autores?
Levando em consideração os substanciais variações encontradas, os autores concluem que o desenvolvimento de uma abordagem viável e eficaz de vigilância de HA-IMIs, incluindo uma definição de caso padronizada, deve ser uma prioridade. Na pesquisa, a maioria das instalações realizou vigilância prospectiva de HA-IMI (69%) e a maioria utilizou amostragem de ar para mofo (62%) como parte dos esforços de prevenção ou investigação de HA-IMI. No entanto, tanto as definições de caso HA-IMI quanto as abordagens para amostragem ambiental para mofo variaram substancialmente entre as instalações. Tal variabilidade destaca a necessidade de desenvolver estratégias generalizáveis para a vigilância de HA-IMI de forma a se obter mais dados que possam orientar abordagens eficazes e racionais a amostragem de ar para detecção de mofo.
Quais foram as limitações do estudo?
Os resultados deste estudo foram limitados pela impossibilidade de fazer um acompanhamento dos entrevistados e pelo pequeno tamanho da amostra. Além disso os autores ressaltam que práticas de vigilância HA-IMI e amostragem de ar relatadas pelos estabelecimentos pesquisados podem não representar práticas de outros hospitais de tratamento intensivo, já que as instalações com interesse ou experiência anterior na prevenção de HA-IMI podem ter sido mais propensas a responder à pesquisa.
Fonte: Gold JAW, Jackson BR, Glowicz J, Mead KR, Beer KD. Surveillance practices and air-sampling strategies to address healthcare-associated invasive mold infections in Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA) Research Network hospitals-United States, 2020. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Nov;43(11):1708-1711.
Link: https://doi.org/10.1017/ice.2021.285
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
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