A redação das ordens de duração dos antibióticos para sepse neonatal foi alterada como uma iniciativa de stewardship de antimicrobianos para reduzir a administração de doses desnecessárias de antibióticos. A mudança no texto permitiu que o paciente deixasse de receber antibióticos após 48 horas de terapia, caso a equipe de saúde não tivesse recebido a notificação de cultura positiva. Essa iniciativa reduziu o número de neonatos que receberam doses extras desnecessárias de 50% para 7,2%.
Qual a justificativa do estudo?
Como a sepse precoce é uma das principais causas de morbidade e mortalidade neonatal, muitos cuidadores administram antibióticos empiricamente; sendo assim, os antibióticos são os medicamentos mais comumente usados nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), mais comumente sendo administrados ampicilina e gentamicina.
Qual o objetivo do estudo?
O objetivo do estudo foi determinar se o número de pacientes que receberam doses desnecessárias de antibióticos poderia ser reduzido com uma intervenção de stewardship antimicrobiano simples, em que a formulação da ordem/pedido de duração do antibiótico foi alterada.
Qual metodologia foi empregada?
Este projeto ocorreu em uma UTIN nível 3 em Surrey, British Columbia, onde o hospital usava prescrições médicas em papel.
Em abril de 2016, foi implementada uma mudança na forma como os médicos redigiam as ordens de duração do antibiótico de “antibióticos por 48 horas se a hemocultura for negativa” para “antibióticos por 48h, a menos que a hemocultura seja positiva”. A intenção de fornecer 48 horas de antibióticos foi determinada pela equipe de saúde com base em fatores de risco maternos e neonatais, incluindo hemograma e avaliação clínica.
Recém-nascidos com culturas positivas ou suspeita clínica de sepse em que mais de 48 horas de antibióticos foram solicitados foram excluídos desta revisão. A revisão incluiu 1 ano antes da mudança, abril de 2015 a março de 2016, e 1 ano após a mudança, maio de 2016 a abril 2017.
Quais os principais resultados?
Um total de 523 prontuários foram revisados, 268 do período antes da mudança e 255 após a mudança. No ano anterior à mudança e no ano seguinte à mudança, 104 e 88 pacientes foram excluídos, respectivamente.
No ano anterior à mudança de redação, 164 pacientes foram incluídos. Eles tinham uma idade gestacional média de 34,3 semanas (variação de 24-41 semanas) e peso médio ao nascer de 2.440 g (variação de 520-4.802 g). Os pacientes receberam um total de 947 doses de ampicilina, com média de 5,8 doses por paciente. Eles também receberam 549 doses de gentamicina com uma média de 3,3 doses por paciente.
No ano seguinte à mudança de redação, 167 pacientes foram incluídos. Eles tinham uma idade gestacional média de 33,8 semanas (variação de 24-42 semanas) e peso médio ao nascer de 2.343 g (variação de 660-4.499 g). Os pacientes receberam um total de 868 doses de ampicilina, com uma média de 5,2 doses por paciente. Eles também receberam 539 doses de gentamicina com uma média de 3,2 doses por paciente.
Doses desnecessárias de antibióticos, que eram doses além de 48 horas quando uma duração de 48 horas foi solicitada, foram administradas a 50% (82/164) dos neonatos antes da mudança de redação e 7,2% (12 / 167) após a mudança.
Quais as limitações do estudo?
Uma limitação deste projeto foi o tempo de coleta de dados, já que o período de pós-implementação começou apenas um mês após a mudança.
Quais as conclusões e recomendações finais?
Uma intervenção de administração antimicrobiana simples, alterando o texto das prescrições de duração dos antibióticos para descartar sepse neonatal, levou a uma redução no número de neonatos recebendo doses desnecessárias além da duração do antibiótico solicitado de 50% a 7,2%. A formulação e a interpretação das prescrições de duração dos antibióticos, bem como a promoção da mudança de cultura desejada entre a equipe, devem ser consideradas como estratégias para reduzir a administração desnecessária de antibióticos. Existem oportunidades para reduzir ainda mais o uso de antibióticos em neonatos, quando o recém-nascido não tem uma infecção.
Que críticas e comentários?
Artigo muito bem escrito e direto ao ponto. Mostra um caso prático de como mudanças simples podem causar impactos consideráveis no âmbito da prevenção e controle de infecção. Obviamente para ser uma estratégia sem riscos é necessária uma equipe integrada aos projeto e uma microbiologia de excelência.
Fonte: Antimicrobial stewardship intervention to reduce unnecessary antibiotic doses in neonates. American Journal of Infection control, January 2021, volume 49, pages 126-127.
Sinopse por: Maria Julia Ricci
E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it
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