Médicos infectologistas pediátricos aceitam o stewardship de antimicrobianos?

Esse estudo compara a percepção de médicos participantes e não-participantes de programas de stewardship de antimicrobianos sobre os benefícios e preocupações relacionadas a esses programas e sobre a adesão as práticas de stewardship de antimicrobianos em geral.

Qual o objetivo de programas de stewardship de antimicrobianos?

Os programas de stewardship antimicrobiana (ASP) são essenciais para abordar o uso excessivo e a resistência aos antibióticos. Foi demonstrado que ASP pediátricos diminuem o uso inadequado de antimicrobianos, os custos de medicamentos e os erros de prescrição, e aumentam a adesão às diretrizes, sem aumentar os eventos adversos. À medida que esses programas se tornam mais prevalentes é vital compreender as diferenças percebidas entre os profissionais envolvidos e não envolvidos para evitar desacordos que possam comprometer as atividades do ASP.

Qual foi o objetivo do estudo?

Os autores realizaram uma pesquisa com médicos infectologistas pediátricos da EIN-IDSA (Emerging Infections Network – Infectious Diseases Society of America) visando compreender a diferença na percepção dos procedimentos e resultados do ASP em suas respectivas instalações.

Como foi pesquisada a aceitação dos pediatras ao programa Syewardship?

Em junho de 2019, uma pesquisa de múltipla escolha com 10 perguntas foi distribuída aos médicos pediátricos que participam do EIN-IDSA. A pesquisa avaliou diferenças nas percepções das intervenções e resultados do ASP entre médicos com e sem envolvimento no programa e os hábitos de prescrição de outros grupos médicos. Dois e-mails semanais de lembrete foram enviados e apenas os entrevistados que indicaram que suas instalações possuem um ASP foram autorizados a concluir a pesquisa.

Quais foram os principais resultados?

No total, 161 dos 539 médicos responderam a pesquisa e atingiram os critérios de eligibilidade; sendo que 96 indicaram participar do ASP. A maioria dos médicos indicou possuir ≥5 de experiência e 64% trabalhavam em uma universidade de medicina e atuava em um hospital universitário.

No geral, a percepção sobre ASP foi majoritariamente positiva. A maioria dos médicos (94% dos participantes de ASP e 81% dos não-ASP) concordaram que o programa de stewardship melhorou a prescrição adequada nos 2 anos anteriores. O excesso de foco na redução de custos com consequente comprometimento do atendimento também foi descartado por uma proporção similar de profissionais e a maioria de ambos os grupos não relatou preocupação com recomendações feitas pelo ASP sem examinar os pacientes.

Um ponto comum a mais da metade de ambos os grupos foi a discordância da afirmação de que os cirurgiões aderiam aos princípios de stewardship antimicrobiana. Além disso, cerca de 30% dos médicos do ASP e 23% dos não-ASP relataram preocupação com o desacordo entre os médicos do ASP e infectologistas e menos da metade dos profissionais concordaram que os médicos participantes de ASP deveriam supervisionar os colegas infectologistas.

Por fim, os médicos participantes de ASP apresentaram uma percepção mais positiva sobre a adesão aos princípios de stewardship nas UTIs e hospitais.

Quais foram as principais conclusões?

Os autores concluem que a percepção geral dos programas de stewardship antimicrobianos por médicos infectologistas pediátricos foi positiva, sendo que ambos os grupos relataram melhora na prescrição adequada de antibióticos e consequências negativas mínimas. Ressaltam também que, apesar das respostas semelhantes entre o grupo de profissionais envolvidos no ASP e não-ASP, houve algumas diferenças na percepção das práticas de prescrição por outras subespecialidades e nos resultados do ASP.

Quais foram as limitações?

Esse estudo possui limitações. A taxa de resposta foi baixa e a maioria dos respondentes estava envolvida no programa de stewardship, de forma que os resultados podem não ser representativos da população de médicos infectologistas pediátricos norte-americanos. Outro fator a ser considerado é que o estudo foi realizado antes da pandemia de SARS-CoV-2, que pode ter causado mudanças consideráveis.

Uma limitação considerável, na nossa opinião, foi que questionário com alternativas não representa a melhor abordagem para pesquisa sobre percepção sobre algo. A melhor opção seria a utilização de pesquisa qualitativa, particularmente entrevistas semiestruturadas ou então grupos focais. Fica nossa sugestão para aprofundamento deste tema, pois é importante etapa de qualquer estratégia inovadora, conhecer apercepção de seus alvos de ação.

Fonte: Lake, J. G., Durkin, M. J., Polgreen, P. M., Beekmann, S. E., Hersh, A. L., & Newland, J. G. (2022). Pediatric infectious disease physician perceptions of antimicrobial stewardship programs. Infection control and hospital epidemiology, 44(7), 1–4.

Link: https://doi.org/10.1017/ice.2022.183