Qual o número ideal de observações que devemos fazer para o monitoramento da higiene das mãos? Menos vezes pode ser melhor?
Introdução
Monitorar a higiene das mãos (HM) em hospitais é essencial para segurança de pacientes e profissionais. Entretanto, muitas vezes o número de observações exigidas é alto, dificultando sua realização eficaz. Este artigo analisa se é possível reduzir significativamente o número atual de observações sem perder a qualidade dos dados.
Principal Achado
O estudo demonstrou que é possível reduzir as observações de higiene das mãos de 200 para 50 por unidade hospitalar ao mês, mantendo a precisão dos dados coletados.
Importância do Tema
Garantir a aderência às práticas de higiene das mãos é fundamental para prevenir infecções hospitalares. Entretanto, a exigência excessiva de observações pode sobrecarregar os profissionais, desviando recursos importantes para outras áreas essenciais.
O Que se Sabia Sobre o Tema
Atualmente, o método mais comum para monitorar a higiene das mãos é a observação direta, recomendada pela OMS, com pelo menos 200 observações por unidade mensalmente. No entanto, esta prática é intensiva em recursos e sujeita a vieses, como o efeito Hawthorne (comportamento alterado por estar sendo observado).
Metodologia do Estudo
Foram analisadas 873.618 observações de higiene das mãos provenientes de 68 hospitais dos EUA, agrupadas por unidade e mês. Foram realizadas análises estatísticas comparando conjuntos menores de observações (25, 50, 100 e 150) com o padrão de 200 observações, utilizando testes estatísticos e análise de poder.
Principais Resultados
- Comparações mostraram pequenas diferenças significativas (entre 2,6% e 4,3%) na aderência quando comparadas observações menores com 200 observações.
- Análise de poder revelou que mesmo com apenas 50 observações, a precisão estatística se manteve aceitável, mesmo em níveis baixos de aderência (50%).
- A redução do número de observações liberaria recursos significativos (tempo e dinheiro) para serem investidos em treinamento e infraestrutura.
Conclusões dos Autores
Os autores recomendam fortemente que hospitais reduzam suas observações mensais para cerca de 50 por unidade. Enfatizam também que esforços devem se concentrar mais em treinamento, educação continuada, cultura organizacional e infraestrutura para melhorar a aderência real às práticas de higiene.
Fatores Limitantes e Confundidores
O estudo reconhece que há limitações, incluindo generalização restrita, já que utilizou apenas hospitais de redes maiores, e possíveis vieses associados à observação direta manual, como variabilidade no treinamento dos observadores e o efeito Hawthorne.
Recomendações dos Autores
- Redução para 50 observações mensais por unidade.
- Ênfase maior em treinamento, feedback, educação, cultura e infraestrutura, além da coleta dos dados.
- Consideração por sistemas eletrônicos de monitoramento como complementos eficazes no futuro.
Comentários Adicionais
Este estudo reforça a importância da qualidade sobre a quantidade em monitoramento de higiene das mãos. Direcionar recursos para educação e infraestrutura pode proporcionar melhores resultados na prevenção de infecções hospitalares.
Fonte
REESE, Sara M.; KNEPPER, Bryan C.; CRAPANZANO-SIGAFOOS, Rebecca. Right-sizing expectations for hand hygiene observation collection. American Journal of Infection Control, v. 53, p. 175-180, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ajic.2024.11.017 Acesso em: 14 abr. 2025.
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SILVA, B. R. et al. Monitoramento da adesão à higiene das mãos em uma unidade de terapia intensiva. Revista Enfermagem UERJ, v. 26, e33087, 2018. Link: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/rfvch
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Sinopse por:
Karine Oliveira:
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