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CCIH CURSOS: HÁ 21 ANOS DISSEMINANDO SABEDORIA

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O que precisamos saber sobre o uso medicinal da Cannabis?

O que precisamos saber sobre o uso medicinal da Cannabis?

 

A planta Cannabis sativa é fonte de um produto fitoterápico composto por mais de 1000 compostos, entre os quais pelo menos 100 são classificados como fitocanabinóides, chamando genericamente de canabinoides. Dois desses compostos têm sido objeto de estudos pela comunidade científica extensamente, e seu interesse não é recente. Desde a descoberta do tetrahidrocanabinol (THC) em 1964 pelo químico búlgaro Raphael Mechoulam, ele tem sido o foco central das pesquisas envolvendo a cannabis.

 

Quais seus principais efeitos farmacológicos?

Os efeitos farmacológicos primários do THC acompanham sua interação com receptores denominados receptores canabinoides do tipo 1 (CB1), encontrados especialmente no Sistema Nervoso Central, e receptores canabinoides do tipo 2 (CB2), localizados na periferia. Já o canabidiol (CBD), por sua vez, foi identificado em 1940 e sua estrutura elucidada em 1963 e é considerado um modulador alostérico negativo em receptor CB1 e pode ser um agonista inverso no receptor CB2.

Atualmente, o único composto que possui aprovação para ser comercializado no Brasil é o CBD, que recebeu autorização para uso medicinal através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 17/2015, emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 14 de maio de 2015.

 

Qual é sua farmacocinética?

A farmacocinética do canabidiol (CBD) é um aspecto importante a ser considerado ao administrar esse composto para fins medicinais. Devido à sua natureza lipofílica, o CBD apresenta uma melhor absorção quando é dissolvido em óleo, como óleo de coco, gergelim, soja e azeite.

 

Quando administrado via oral, o pico de concentração plasmática do CBD é alcançado em cerca de 2 a 3 horas após a ingestão. O tempo de ação ocorre entre 30 a 60 minutos após a administração oral. É importante ressaltar que a biodisponibilidade do CBD é baixa (6 a 19%) devido ao efeito de primeira passagem que ocorre quando o CBD é metabolizado pela primeira vez pelo fígado (através dos enterócitos e hepatócitos) antes de entrar na corrente sanguínea. Esse processo metabólico pode reduzir significativamente a quantidade de CBD disponível para produzir efeitos no organismo.

 

A via de administração sublingual é a que oferece maior absorção e biodisponibilidade do CBD. Nessa via, o CBD é colocado embaixo da língua, onde é absorvido pelas membranas mucosas e entra na corrente sanguínea, evitando o efeito de primeira passagem pelo fígado. Ao usar esse medicamento, é importante manter o volume por alguns segundos sob a língua antes de deglutir e evitar encostar a ponta do conta-gotas na mucosa oral para evitar a contaminação do óleo no frasco.

 

É essencial prestar atenção às interações medicamento-alimento, pois os canabinoides são lipofílicos e sua absorção pode ser afetada pelo tipo de alimento ingerido, especialmente alimentos ricos em gordura.

 

Como é comercializada no Brasil e quais suas principais indicações?

A terminologia e as definições dos medicamentos derivados da cannabis podem variar amplamente na literatura e entre os fornecedores. São comercializadas, no Brasil, as formulações industriais e magistrais, baseadas na própria planta.

 

A regulamentação de produtos de cannabis para fins terapêuticos descreve que os produtos, que devem conter apenas ativos derivados vegetais ou fitofármacos da Cannabis sativa, como principal componente o canabidiol (CBD) e não podem exceder 0,2% de tetrahidrocanabinol (THC), substância responsável pelos efeitos psicoativos da planta.
No entanto, há uma exceção para pacientes em cuidados paliativos que não possuem outras alternativas terapêuticas e se encontram em situações clínicas irreversíveis ou terminais. Nesses casos, os produtos de Cannabis podem conter teores de THC acima de 0,2%.
Outro requisito importante, a regulamentação impõe restrições quanto aos nomes comerciais dos produtos. Eles não podem ostentar marcas próprias, sendo designados pelo nome do derivado vegetal ou fitofármaco, seguido do nome da empresa responsável, por exemplo,  por exemplo, Extrato de Cannabis sativa Greencare@ (79,14 mg/ml)

 

Por outro lado, no exterior, existem formulações sintéticas, como a nabilona (Cesamet ® ou Canemes ® ), que é um análogo sintético do THC e possui aprovação em alguns países para o tratamento de náuseas/êmese refratárias em pacientes com câncer. O dronabinol (Marinol ® ou Syndros ® ) também é um THC sintético aprovado para uso terapêutico semelhante em alguns países. Além disso, atualmente, o Levonantradol, um potente THC sintético, está disponível apenas para fins de pesquisa e ainda não foi licenciado em nenhum país. Essas diversas formulações oferecem opções para o uso terapêutico de compostos relacionados à cannabis, mas é importante ressaltar que sua disponibilidade e regulamentação podem variar significativamente entre diferentes nações.

É preciso retenção de receita?

É necessário de retenção de receita médica. Para produtos com até 0,2% de THC, a prescrição deve ser acompanhada da Notificação de Receita “B”, de acordo com a Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 e suas atualizações. Já para produtos com teor de THC acima de 0,2%, a prescrição deve ser acompanhada da Notificação de Receita “A”, seguindo os mesmos termos da portaria.

Essas medidas buscam garantir a segurança e a adequação no uso de produtos de Cannabis para fins terapêuticos, proporcionando alternativas de tratamento para pacientes que podem se beneficiar de seus efeitos medicinais.

 

Prof. Amanda Arruda

Farmacêutica Clínica

Instagram: @amandapires.arruda

e-mail: amandapires.farmacia@gmail.com

 

Referências:

 

Petzke F, Tölle T, Fitzcharles MA, Häuser W. Cannabis-Based Medicines and Medical Cannabis for Chronic Neuropathic Pain. CNS Drugs. 2022 Jan;36(1):31-44. doi: 10.1007/s40263-021-00879-w. Epub 2021 Nov 21. PMID: 34802112; PMCID: PMC8732831.

 

Legare CA, Raup-Konsavage WM, Vrana KE. Therapeutic Potential of Cannabis, Cannabidiol, and Cannabinoid-Based Pharmaceuticals. Pharmacology. 2022;107(3-4):131-149. doi: 10.1159/000521683. Epub 2022 Jan 28. PMID: 35093949.

 

Brunton LL, Hilal-Dandan R, Knollmann BC. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics. 13th ed. New York, NY: McGraw-Hill Education; 2018.

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