O vírus oropouche é uma nova ameaça das doenas emergentes. Saiba mais sobre como está se disseminando pleo Brasil, como diagnosticar, tratar, notificar e prevenir.
O Brasil atualmente enfrenta uma epidemia de febre Oropouche, com um aumento alarmante de quase 200 vezes na incidência em comparação aos casos relatados na última década. A doença, que antes se restringia a áreas endêmicas, agora está sendo diagnosticada em regiões anteriormente não afetadas, com registros em 20 dos 27 estados. Em julho, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu um alerta epidemiológico sobre um aumento nos casos notificados do vírus Oropouche (OROV) em vários países além do Brasil, incluindo Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia. A seguir, confira as principais informações que sabemos sobre esse vírus até o momento:
Sobre o Oropouche
-A febre oropouche é causada pelo arbovírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), membro da família Peribunyaviridae.
-O OROV é vírus de RNA, como o coronavírus.
-É uma doença zoonótica emergente transmitida principalmente por meio de picadas do Culicoides paraensis (comumente conhecido como maruim). Também pode ser transmitido pelo Culex quinquefasciatus.
-Sua detecção inicial ocorreu no começo dos anos de 1960, sendo exclusivamente detectado na região amazônica.
-Até o momento, quatro genótipos de Oropouche foram identificados. A infecção por qualquer genótipo gerará anticorpos para proteger contra reinfecção futura.
–O vírus infecta as células do sistema imune (leucócitos), através das quais se dissemina pelo organismo.
-Embora a maioria dos casos de infecção por OROV seja autolimitada, complicações neurológicas também tem sido associadas.
Cenário epidemiológico
-Entre as semanas epidemiológicas 01 e 31 de 2024, foram confirmados 7.497 casos de Oropouche no Brasil, cujas amostras biológicas tiveram resultado detectável para o genoma do vírus no RT-PCR.
– Em 2024, a região amazônica, considerada endêmica, concentrou 73,7% dos casos de infecção, com a maioria dos casos ocorrendo em municípios do Norte. Casos importados foram registrados no Distrito Federal, em Goiás, no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul, cujos locais prováveis de infeção foram atribuídos a outras Ufs com registro de autoctonia.
–Infecções autóctones de OROV foram detectadas em áreas previamente não endêmicas em todas as cinco regiões brasileiras.
-Os casos identificados estão distribuídos de maneira equitativa entre os sexos.
-As faixas etárias de 20 a 49 anos concentraram 60% dos casos. Entre os menores de 1 ano, foram registrados 21 casos, dos quais 16 eram do Amazonas, 4 de Rondônia e 1 da Bahia.
Quadro clínico
-Os sintomas são parecidos com a dengue, Zika e chikungunya, podendo durar de cinco a sete dias. O quadro clínico agudo pode evoluir com febre de início súbito, dor de cabeça, dor muscular e dor articular. Outros sintomas, como tontura, dor atrás do olhos, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. A recuperação completa pode levar várias semanas.
-Raramente, casos graves podem incluir meningite asséptica. Ainda há relatos de manifestações hemorrágicas.
–Mais da metade dos pacientes pode apresentar recidiva, com manifestação dos mesmos sintomas ou apenas febre, cefaleia e mialgia após uma a duas semanas a partir das manifestações iniciais.
Óbitos por Oropouche:
-Anteriormente, não havia registros de mortes por essa doença na literatura científica. Em 2024, o Brasil registrou os primeiros dois óbitos no mundo devido ao vírus Oropouche, ambos ocorridos no estado da Bahia, com a detecção do genoma viral nas amostras de sangue das vítimas. As duas pacientes que morreram não tinham comorbidades e apresentaram sintomas semelhantes a um quadro de dengue com sinais de alarme/grave. Um terceiro caso em Santa Catarina permanece em investigação.
Transmissão vertical, anomalias congênitas e óbito fetal:
-Recentemente, foi confirmada a transmissão vertical do vírus Oropouche, associada a a óbitos fetais. O Ministério da Saúde está investigando oito casos de transmissão vertical, dos quais metade dos bebês nasceu com anomalias congênitas, como microcefalia, enquanto a outra metade resultou em abortos/óbitos fetais.
-Até o momento, o Brasil é o único país a relatar possíveis casos de transmissão de Oropouche de mãe para feto durante a gravidez.
Diagnóstico:
-Atualmente, não existe um teste rápido para diagnóstico de Oropouche. A confirmação é feita por exame laboratorial (RT-PCR).
-A intensificação dos testes diagnósticos pela rede nacional do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacens) também contribuiu para o aumento do número de casos registrados.
-Em casos de neonatos com malformações possivelmente associadas à infecção por OROV, recomenda-se a coleta de amostras de soro no momento do parto, tanto da mãe quanto do recém-nascido, bem como amostras de sangue do cordão umbilical e da placenta. Uma amostra de líquido cefalorraquidiano (LCR) é fortemente sugerida, mas deve ser coletada somente por indicação médica, em caso de suspeita bem fundamentada.
Tratamento e medidas de prevenção:
-Atualmente, não existe um tratamento específico para Oropouche. A avaliação por um profissional de saúde é fundamental para o manejo adequado dos sintomas e da evolução da doença.
-As medidas de prevenção consistem em evitar áreas com a presença de maruins ou minimizar a exposição às picadas dos vetores, seja por meio de recursos de proteção individual (uso de roupas compridas e de sapatos fechados) ou coletiva (limpeza de terrenos e de locais de criação de animais, recolhimento de folhas e frutos que caem no solo, uso de telas de malha fina em portas e janelas).
Reemergência do OROV no Brasil:
-Ainda não se sabe o que explica a atual explosão de casos pelo país. Possíveis explicações incluem a ampliação da atividade humana em regiões de floresta, o desmatamento no sudoeste da Amazônia e o aquecimento global.
-Uma nova linhagem do vírus da febre oropouche pode estar ligada ao surto atual da doença. Pesquisadores indicam que o aumento dos casos de OROV coincide com o surgimento de uma nova linhagem, possivelmente originada no Amazonas entre 2010 e 2014.
-Estudo realizado no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a linhagem circulante atualmente é capaz de se replicar 100 vezes no período de 48 horas em comparação à linhagem original de 1960.
-A nova variante é capaz de escapar à resposta imune do organismo.
Fontes:
Informe Semanal nº 08 – Arboviroses Urbanas – SE 31 | 05 de Agosto de 2024 https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/arboviroses/informe-semanal/informe-semanal-sna-no-8.pdf/view
https://www.paho.org/pt/noticias/24-7-2024-perguntas-e-respostas-sobre-virus-oropouche
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c9r36rxp717o
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2024.07.27.24310296v1
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jmv.24722
https://www.thelancet.com/journals/lanmic/article/PIIS2666-5247(24)00136-8/fulltext
https://revistapesquisa.fapesp.br/variante-agressiva-do-virus-oropouche-circula-no-pais/
Elaborado por Beatriz Grion
Link: https://www.linkedin.com/in/beatriz-alessandra-rudi-grion-57213315b/
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