A resistência aos carbapenêmicos é um dos maiores desafios para o tratamento de infecções. Atualize-se neste tema com este texto e o bate-papo a seguir.
Os carbapenêmicos são uma classe de antibióticos β-lactâmicos de amplo espectro, frequentemente usados como último recurso no tratamento de infecções bacterianas graves, especialmente aquelas causadas por bactérias resistentes a outros antibióticos. No entanto, a resistência aos carbapenêmicos está se tornando um problema crescente na prática clínica. Abaixo estão os principais mecanismos de resistência, sua importância clínica e as opções terapêuticas disponíveis:
Mecanismos de Resistência aos Carbapenêmicos
Produção de Carbapenemases:
Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC): Uma das carbapenemases mais comuns e clinicamente relevantes. Enzimas KPC podem hidrolisar todos os carbapenêmicos, além de outras classes de β-lactâmicos. Metallo-β-lactamases (MBLs): Incluem as enzimas NDM (New Delhi metallo-β-lactamase), VIM (Verona integron-encoded metallo-β-lactamase) e IMP (imipenemase). Essas enzimas requerem íons metálicos (geralmente zinco) para a atividade enzimática. OXA-type carbapenemases: Comumente encontradas em Acinetobacter baumannii, estas carbapenemases têm menor atividade contra carbapenêmicos em comparação com KPC e MBLs, mas ainda são clinicamente significativas.
Diminuição da Permeabilidade da Membrana Externa:
Alterações ou perda de porinas na membrana externa das bactérias Gram-negativas podem reduzir a entrada dos carbapenêmicos na célula bacteriana, conferindo resistência.
Bombas de Efluxo:
Algumas bactérias têm bombas de efluxo que podem expulsar os antibióticos do interior da célula, diminuindo a concentração intracelular dos carbapenêmicos. Alteração de Alvo: Modificações nas proteínas de ligação à penicilina (PBPs) podem reduzir a afinidade dos carbapenêmicos pelo seu alvo, resultando em resistência.
Importância Clínica
A resistência aos carbapenêmicos representa um grave problema de saúde pública devido às seguintes razões:
Limitadas Opções Terapêuticas:
Infecções causadas por bactérias resistentes aos carbapenêmicos são difíceis de tratar e estão associadas a altas taxas de mortalidade.
Disseminação Rápida:
Genes de resistência aos carbapenêmicos, muitas vezes localizados em plasmídeos, podem ser transferidos horizontalmente entre diferentes bactérias, facilitando a rápida disseminação da resistência. Aumento dos Custos de Saúde: Pacientes com infecções resistentes aos carbapenêmicos geralmente necessitam de tratamentos mais longos e mais caros, além de cuidados intensivos.
Opções Terapêuticas Polimixinas (Colistina e Polimixina B):
Usadas como última linha de defesa, especialmente contra bactérias Gram-negativas resistentes. No entanto, têm toxicidade renal significativa.
Tigeciclina:
Um glicilciclina com atividade contra uma ampla gama de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, incluindo aquelas resistentes aos carbapenêmicos.
Aminoglicosídeos:
Como a amikacina, podem ser eficazes contra algumas cepas resistentes aos carbapenêmicos, mas também apresentam toxicidade renal e ototoxicidade.
Novos Antibióticos:
Ceftazidima-avibactam e Meropenem-vaborbactam: Combinações de β-lactâmico/β-lactamase inibidor que são eficazes contra algumas bactérias produtoras de carbapenemase.
Cefiderocol: Um novo cefalosporina sideróforo que demonstra atividade contra muitas bactérias resistentes aos carbapenêmicos.
Terapia Combinada:
O uso de combinações de antibióticos pode aumentar a eficácia e reduzir a probabilidade de desenvolvimento de resistência adicional.
A resistência aos carbapenêmicos é um desafio crescente que requer atenção contínua e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para conter a disseminação dessas infecções resistentes. Saiba mais neste bate papo ente Beatriz Grion, Laura Czekster e Filipe Prohaska, inclusive sobre novas perspectivas terapêuticas.