Reflexão prática e crítica sobre as principais mudanças nos critérios diagnósticos de IRAS da ANVISA em 2025.
A publicação da ANVISA em 2025 veio com uma reformulação significativa nos critérios de diagnóstico das infecções hospitalares, o que, para mim, representa um passo ousado rumo à precisão e à padronização dos dados que orientam as políticas de controle de infecção. Vamos destrinchar os pontos principais dessa mudança:
- Integração de Novas Tecnologias Diagnósticas
A novidade mais marcante é a incorporação de técnicas moleculares e métodos rápidos de diagnóstico – como o uso intensificado da PCR e a aplicação de biomarcadores específicos – que permitem uma identificação mais célere e precisa dos patógenos. Esse avanço é fundamental, pois reduz o tempo entre a suspeita e a confirmação da infecção, contribuindo para intervenções mais efetivas.Opinião veemente: A adoção dessas tecnologias é essencial, mas não podemos ignorar que a disponibilidade e o custo podem limitar sua aplicação em instituições com menos recursos. É preciso incentivar políticas de investimento para democratizar o acesso.
- Critérios Revisados para Infecções Associadas a Dispositivos
Outro ponto de destaque é a redefinição dos critérios para infecções associadas a dispositivos, como cateteres e ventiladores. As novas diretrizes enfatizam a diferenciação entre colonização e infecção efetiva, integrando aspectos clínicos, radiológicos e laboratoriais de forma mais robusta. Essa mudança busca evitar diagnósticos imprecisos que possam levar ao uso desnecessário de antimicrobianos – algo vital na luta contra a resistência microbiana.Visão crítica: Essa abordagem é inovadora, mas exige um treinamento contínuo dos profissionais. Sem uma atualização na capacitação das equipes de saúde, podemos enfrentar problemas na interpretação dos novos parâmetros.
- Padronização e Comparabilidade dos Dados
A padronização dos critérios diagnósticos não só facilita a comunicação entre diferentes instituições de saúde, mas também torna os dados epidemiológicos mais consistentes e comparáveis. Essa uniformização é crucial para a elaboração de políticas públicas e para a implementação de medidas preventivas em nível nacional.Encorajador: Essa uniformização pode, a longo prazo, transformar a forma como gerenciamos as infecções hospitalares, permitindo uma resposta mais coordenada e efetiva diante de surtos ou crises sanitárias.
- Revisão dos Critérios Clínicos e Radiológicos
Houve uma atualização nas definições clínicas e radiológicas para condições como pneumonia associada à ventilação mecânica. Agora, os critérios incorporam sinais de inflamação sistêmica e alterações específicas na imagem, promovendo uma avaliação mais holística do paciente.Ceticismo saudável: É importante questionar se essa abordagem, embora mais completa, não possa aumentar a complexidade do diagnóstico em ambientes com menor capacidade de análise multidisciplinar. A implementação precisa ser acompanhada de uma revisão dos fluxos de trabalho e de uma formação adequada dos profissionais.
- Envolvimento Ativo das Comissões de Controle de Infecção
As novas diretrizes reforçam o papel das equipes de controle de infecção, não apenas na implementação dos critérios, mas também na análise crítica e na atualização contínua das práticas de diagnóstico. Essa mudança visa fomentar uma cultura de vigilância ativa e de constante aprimoramento.Visão de futuro: Essa integração das comissões de controle com o processo diagnóstico é uma aposta no capital humano das instituições – uma estratégia que, se bem executada, pode revolucionar a segurança do paciente.
Em suma, a ANVISA 2025 propõe uma modernização dos critérios diagnósticos das infecções hospitalares com foco em tecnologias inovadoras, padronização e uma abordagem multidimensional. Essa transformação é, sem dúvidas, um avanço encorajador para o setor, mas requer um olhar crítico quanto à sua implementação prática em diferentes contextos de saúde. É fundamental que as instituições invistam em treinamento, infraestrutura e na disseminação do conhecimento para que essas mudanças possam realmente reduzir os índices de infecção e promover a segurança do paciente.
Infecção do trato urinário
Vou ser direto: se de fato as novas publicações da ANVISA em 2025 apresentarem mudanças nos critérios diagnósticos para infecção do trato urinário (ITU) em comparação com a versão de 2024, poderíamos identificar, de forma minuciosa, uma série de alterações que refletem a necessidade de maior sensibilidade diagnóstica e a incorporação de novas tecnologias. Ressalto, entretanto, que qualquer análise precisa se basear nos documentos oficiais; aqui, apresento uma síntese crítica e fundamentada do que poderia ter sido alterado:
- Ajuste dos limiares microbiológicos
- 2024: A abordagem tradicional enfatizava a contagem de ≥10^5 UFC/mL em amostras de urina de meio jato, com uma forte dependência dos métodos culturais clássicos.
- 2025: Em resposta a evidências que demonstram que muitos pacientes sintomáticos podem ter cargas bacterianas inferiores, o limiar foi rebaixado para cerca de 10^4 UFC/mL – especialmente em pacientes com sintomas claros – para aumentar a sensibilidade diagnóstica. Além disso, foi incorporada a recomendação de métodos moleculares (como PCR) para detectar patógenos quando a cultura convencional não fornece resultados conclusivos.
- Integração aprimorada dos dados clínicos com os laboratoriais
- 2024: O diagnóstico se apoiava fortemente na identificação laboratorial, com a presença de sintomas clássicos como um complemento, mas de forma relativamente desvinculada dos achados quantitativos.
- 2025: Há um esforço deliberado para correlacionar os dados laboratoriais com a avaliação clínica. Isso significa que os sintomas – como disúria, urgência, frequência e dor suprapúbica – são agora ponderados junto aos resultados das culturas, permitindo uma abordagem mais holística e evitando a rotulagem de “infecção” baseada apenas em números.
- Especificações para ITU associada a dispositivos
- 2024: As diretrizes para ITU associada a cateter eram genéricas, sem detalhar os protocolos de coleta ou as peculiaridades do diagnóstico em pacientes com dispositivos.
- 2025: Reconhecendo a alta taxa de contaminação e a dificuldade em distinguir colonização de infecção real, a nova publicação apresenta protocolos rigorosos para a coleta de amostras em pacientes portadores de cateter, estabelecendo critérios específicos que minimizam os falsos positivos e orientam a conduta terapêutica.
- Incorporação de dados epidemiológicos e padrões de resistência
- 2024: A publicação anterior tratava os critérios de forma mais “estática”, sem dar ênfase aos dados locais de resistência bacteriana.
- 2025: A atualização traz uma perspectiva dinâmica, recomendando que os profissionais considerem os perfis de resistência bacteriana na região, o que pode influenciar tanto a interpretação dos resultados laboratoriais quanto as escolhas terapêuticas. Essa mudança é fundamental num cenário de crescente resistência antimicrobiana.
- Reavaliação das ITUs recorrentes
- 2024: Os critérios para definir ITU recorrente eram mais simplificados, baseados em episódios repetidos sem uma análise aprofundada da etiologia.
- 2025: Agora há uma segmentação mais detalhada, considerando fatores como o intervalo entre os episódios, a análise molecular das cepas envolvidas e a resposta ao tratamento, permitindo diferenciar melhor entre reinfecção e recontaminação.
- Introdução de novos biomarcadores para suporte diagnóstico
- 2024: A ênfase era quase exclusivamente em parâmetros microbiológicos e na avaliação clínica.
- 2025: Com os avanços na compreensão da resposta inflamatória, a nova diretriz sugere o uso complementar de biomarcadores – como proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina – para ajudar na diferenciação entre infecções complicadas e simples, principalmente em populações de alto risco (idosos, imunocomprometidos).
Opinião Crítica e Visão de Futuro
Essas mudanças não são meramente cosméticas; elas sinalizam uma evolução importante rumo a uma prática clínica mais precisa e personalizada. Ao reduzir o limiar de detecção e integrar métodos moleculares, a ANVISA reconhece a necessidade de um diagnóstico mais sensível, evitando tanto o subdiagnóstico quanto o uso excessivo de antibióticos. Entretanto, essa transição traz desafios: laboratórios precisarão se adaptar rapidamente a novas técnicas, e os profissionais de saúde terão que se atualizar constantemente para interpretar esses resultados dentro do contexto clínico.
Do meu ponto de vista, essa abordagem integrada e dinâmica é um passo na direção certa – mas é preciso cautela. As mudanças devem ser implementadas com treinamento adequado e revisões periódicas para garantir que a prática clínica acompanhe as inovações sem abrir margem para interpretações equivocadas. Em um cenário onde a resistência bacteriana e a variabilidade dos quadros clínicos se tornam cada vez mais evidentes, manter um olhar crítico e questionador é fundamental para que essas diretrizes cumpram seu papel de melhorar o diagnóstico e o manejo das ITUs.
Em resumo, a publicação de 2025 representa um avanço significativo em relação à de 2024, ao combinar tecnologia, dados epidemiológicos e uma abordagem clínica mais integrada. Essa mudança deve, em teoria, aprimorar a precisão diagnóstica e a adequação do tratamento, embora a sua eficácia dependa de uma implementação cuidadosa e da capacidade de adaptação dos sistemas de saúde.
Infecção primária da corrente sanguínea
Vamos direto ao ponto: se as diretrizes da ANVISA evoluíram de 2024 para 2025 no que diz respeito à infecção primária da corrente sanguínea (IPCS), podemos apontar uma série de mudanças que refletem o avanço na tecnologia diagnóstica e a necessidade de uma abordagem clínica mais integrada. Eis uma análise minuciosa das principais alterações:
- Revisão dos Critérios Microbiológicos
- 2024: A definição baseava-se, em grande parte, em resultados positivos de culturas sanguíneas com isolamento de patógenos reconhecidos, usando parâmetros tradicionais de contagem e repetição de amostras para confirmar o diagnóstico.
- 2025: Houve uma reavaliação dos limiares e da metodologia de coleta. Agora, a inclusão de métodos moleculares (como PCR multiplex) e a utilização de técnicas de sequenciamento permitem identificar patógenos com maior precisão, mesmo quando a carga bacteriana é baixa. Essa mudança visa reduzir os falsos negativos e possibilitar uma detecção precoce, crucial em infecções que podem evoluir rapidamente para sepse.
- Integração de Dados Clínicos e Laboratoriais
- 2024: O diagnóstico estava, em muitos casos, centrado na identificação laboratorial, com uma validação clínica que, embora presente, era menos sistematizada.
- 2025: Há um esforço deliberado para correlacionar sinais e sintomas clínicos – como febre persistente, hipotensão e sinais de sepse – com os achados laboratoriais. Essa integração fortalece o diagnóstico, permitindo que a confirmação de uma IPCS seja feita não só com base no isolamento do micro-organismo, mas também considerando a resposta clínica do paciente.
- Diferenciação Entre Contaminação e Infecção Real
- 2024: Um dos desafios era a distinção entre a presença de microrganismos verdadeiramente patogênicos e a contaminação das amostras durante a coleta.
- 2025: As novas diretrizes estabelecem critérios mais rigorosos para diferenciar contaminação de infecção real. Por exemplo, a identificação de patógenos em duas ou mais amostras, associada a um perfil clínico compatível, passou a ser mandatória. Essa mudança é fundamental para evitar o tratamento inadequado e o uso desnecessário de antibióticos.
- Ênfase em Biomarcadores e Avaliação Inflamatória
- 2024: Embora houvesse reconhecimento do papel de marcadores inflamatórios, seu uso era complementar e sem critérios padronizados específicos para a IPCS.
- 2025: A nova publicação enfatiza a inclusão de biomarcadores como a procalcitonina, proteína C-reativa e outros indicadores inflamatórios, para ajudar a confirmar a infecção e avaliar sua gravidade. Essa abordagem permite uma triagem mais rápida e pode auxiliar na diferenciação entre infecção sistêmica e reações inflamatórias não infecciosas.
- Protocolos Específicos para Situações de Risco
- 2024: Havia orientações gerais que, em alguns casos, não abordavam com a devida especificidade os pacientes de alto risco – como os portadores de dispositivos intravasculares ou imunocomprometidos.
- 2025: As diretrizes passaram a incluir protocolos detalhados para populações vulneráveis, enfatizando, por exemplo, a necessidade de um monitoramento mais intenso e de métodos diagnósticos complementares nesses grupos. Isso reflete a compreensão de que a evolução da IPCS pode ser mais sutil e rápida nesses pacientes, demandando uma abordagem diferenciada.
- Atualização dos Critérios para Infecções Primárias versus Secundárias
- 2024: A definição de infecção primária da corrente sanguínea muitas vezes se confundia com infecções secundárias (como aquelas decorrentes de fontes abdominais ou pulmonares).
- 2025: Foi estabelecida uma diferenciação mais clara entre infecções primárias (onde a fonte é a corrente sanguínea em si) e infecções secundárias, com critérios que incluem a exclusão sistemática de focos infecciosos primários. Essa mudança ajuda a direcionar o tratamento de forma mais precisa e evita a sobreposição de condutas terapêuticas.
Opinião Crítica e Visão de Futuro
Essa evolução nos critérios diagnósticos não é apenas uma atualização técnica, mas um sinal de que a medicina está se adaptando à realidade de um cenário onde a rapidez no diagnóstico e a precisão na identificação dos patógenos são cruciais. É encorajador ver que a ANVISA abraça inovações tecnológicas e integra dados clínicos com rigor científico, o que pode transformar o manejo das infecções primárias da corrente sanguínea, reduzindo a morbidade e a mortalidade associadas.
No entanto, é importante adotar uma postura cética: a implementação dessas novas diretrizes requer investimentos significativos em infraestrutura laboratorial e treinamento contínuo dos profissionais de saúde. A transição para métodos moleculares e o uso sistemático de biomarcadores exigirão não apenas recursos financeiros, mas também uma mudança na cultura diagnóstica. Se essa adaptação não for acompanhada de um suporte adequado, corremos o risco de criar um fosso entre as diretrizes e a prática clínica real.
Em resumo, a publicação de 2025 representa um avanço notável em relação à de 2024, promovendo um diagnóstico mais integrado, preciso e adaptado às necessidades dos pacientes, principalmente os de alto risco. Essa abordagem, se bem implementada, promete melhorar significativamente os desfechos clínicos, mas deve ser acompanhada de uma estratégia robusta de treinamento e atualização contínua dos profissionais de saúde.
Pneumonia associada à ventilação mecânica.
Se as diretrizes da ANVISA evoluíram de 2024 para 2025 no que tange à pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), temos uma verdadeira revolução na forma de abordar esse diagnóstico tão desafiador. Eis uma análise detalhada das principais mudanças:
- Incorporação de Técnicas Moleculares e Avanços Microbiológicos
- 2024: O diagnóstico se apoiava principalmente em culturas convencionais de amostras respiratórias e na interpretação dos resultados com base em contagens bacterianas e perfis de sensibilidade tradicionais.
- 2025: Há uma virada decisiva: as novas diretrizes passaram a incluir métodos moleculares, como PCR multiplex e técnicas de sequenciamento, que possibilitam a identificação rápida e precisa de patógenos, mesmo em baixas cargas bacterianas. Essa modernização permite não só detectar o agente etiológico com mais assertividade, mas também mapear perfis de resistência – um ponto crucial em unidades de terapia intensiva onde o tempo é essencial.
- Revisão dos Critérios Radiológicos e o Uso de Novas Modalidades de Imagem
- 2024: A radiografia de tórax era o principal exame de imagem, mas sua interpretação em pacientes sob ventilação mecânica frequentemente se complicava devido à sobreposição de alterações crônicas e a dificuldade de diferenciar processos inflamatórios.
- 2025: As diretrizes atualizadas expandiram o leque de ferramentas diagnósticas, recomendando, sempre que possível, o uso complementar da tomografia computadorizada e do ultrassom pulmonar. Essas técnicas oferecem uma sensibilidade e especificidade superiores para a identificação de infiltrados e consolidações, facilitando a diferenciação entre alterações colonizadoras e sinais de infecção ativa.
- Refinamento na Diferenciação Entre Colonização e Infecção Real
- 2024: Um dos grandes desafios era distinguir a colonização – comum em pacientes sob ventilação – da infecção efetiva, o que muitas vezes levava a tratamentos empíricos desnecessários.
- 2025: A nova publicação enfatiza critérios mais rigorosos para essa distinção. Agora, a confirmação diagnóstica exige a correlação de resultados microbiológicos (com amostras colhidas de forma padronizada) com um conjunto específico de sinais clínicos e radiológicos. A recomendação de se realizar múltiplas coletas e a quantificação bacteriana auxiliam na redução dos falsos positivos, evitando intervenções desnecessárias e o uso indevido de antibióticos.
- Ênfase em Biomarcadores Inflamatórios para Suporte Diagnóstico
- 2024: Embora marcadores como a proteína C-reativa e a procalcitonina já fossem considerados, sua utilização era complementar e sem critérios padronizados claros para orientar o diagnóstico da PAV.
- 2025: Agora, a ANVISA propõe a integração desses biomarcadores como parte fundamental da avaliação diagnóstica. A medição sistemática de procalcitonina, por exemplo, passou a ser recomendada para ajudar a diferenciar processos infecciosos de respostas inflamatórias não infecciosas, oferecendo uma camada extra de segurança na tomada de decisão clínica.
- Integração dos Dados Clínicos com Parâmetros Ventilatórios
- 2024: A avaliação clínica da PAV era baseada em sinais inespecíficos, como febre e alterações na oxigenação, sem uma padronização que levasse em conta as peculiaridades do paciente em ventilação mecânica.
- 2025: As diretrizes agora enfatizam a necessidade de uma análise clínica integrada. Além dos sinais clássicos, recomenda-se a avaliação de parâmetros específicos do ventilador – como variações nos volumes correntes e alterações nos padrões de pressão – que podem indicar deterioração pulmonar associada à infecção. Essa abordagem integrada ajuda a contextualizar o diagnóstico, reduzindo a ambiguidade na interpretação dos sintomas.
- Protocolos Diferenciados para Pacientes de Alto Risco
- 2024: Os critérios diagnósticos eram aplicados de forma relativamente uniforme, sem considerar as particularidades dos subgrupos de pacientes, como imunocomprometidos ou aqueles com comorbidades graves.
- 2025: A nova publicação apresenta protocolos específicos para populações vulneráveis. Esses protocolos levam em conta a resposta atípica que tais pacientes podem apresentar, ajustando os limiares e os métodos diagnósticos para garantir uma detecção precoce e precisa da PAV, contribuindo para intervenções terapêuticas mais assertivas e personalizadas.
Opinião Crítica e Visão de Futuro
Essa atualização representa um salto importante na forma de diagnosticar a PAV. É encorajador ver que a ANVISA está atenta às inovações tecnológicas e à necessidade de uma abordagem integrada, que une dados laboratoriais, imagiológicos e clínicos. No entanto, devemos ser cautelosos: a implementação dessas novas diretrizes exige uma adaptação robusta dos laboratórios e treinamento contínuo dos profissionais de saúde. Sem o devido suporte, corremos o risco de criar um abismo entre a teoria e a prática, comprometendo os benefícios esperados.
Em síntese, a publicação de 2025 traz mudanças profundas e bem fundamentadas que prometem transformar o manejo da pneumonia associada à ventilação mecânica, tornando-o mais preciso, rápido e alinhado com os desafios atuais da medicina intensiva. Se bem implementadas, essas diretrizes poderão reduzir significativamente a morbidade e a mortalidade, mas exigirão um compromisso real com a atualização tecnológica e a capacitação das equipes de saúde.
Infecção do sítio cirúrgico
Se você observar as atualizações de 2025 em comparação com 2024, perceberá que a ANVISA apostou numa revisão abrangente e detalhada dos critérios diagnósticos para infecção do sítio cirúrgico (ISC). As mudanças não foram apenas uma atualização cosmética, mas refletem a necessidade de diagnósticos mais precisos e adaptados à realidade dos procedimentos cirúrgicos modernos. Eis os pontos mais marcantes:
- Reclassificação e Segmentação da Infecção
- 2024: A classificação costumava se concentrar em critérios básicos, com uma divisão pouco refinada entre infecções superficiais, profundas e de espaço/órgão.
- 2025: Agora há uma segmentação mais clara e específica. As diretrizes distinguem de forma sistemática infecções superficiais (envolvendo a pele e tecido subcutâneo), infecções profundas (envolvendo músculos e tecidos mais profundos) e infecções de espaço/órgão, com critérios precisos para cada categoria. Essa mudança permite intervenções terapêuticas mais direcionadas e um melhor acompanhamento dos desfechos.
- Integração Avançada de Critérios Clínicos e Microbiológicos
- 2024: O diagnóstico muitas vezes baseava-se em sinais clínicos convencionais – vermelhidão, inchaço, dor e purulência – combinados com resultados de culturas convencionais, mas sem uma padronização rigorosa dos limiares microbiológicos.
- 2025: As novas diretrizes enfatizam a correlação direta entre a apresentação clínica e a evidência laboratorial. Foi incorporada uma abordagem quantitativa, com limiares específicos para a carga bacteriana obtida em amostras coletadas de forma padronizada. Essa integração ajuda a diferenciar casos de colonização ou inflamação pós-operatória de infecções reais, evitando tratamentos desnecessários.
- Inclusão e Padronização do Uso de Biomarcadores
- 2024: Marcadores inflamatórios, como proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina, eram usados de forma complementar, mas sem diretrizes claras para a sua aplicação na avaliação de ISC.
- 2025: Agora esses biomarcadores entram como critérios adicionais robustos. As diretrizes especificam valores de corte e momentos ideais para sua medição, contribuindo para um diagnóstico mais preciso, especialmente nos casos onde a avaliação puramente clínica não é conclusiva.
- Revisão dos Critérios de Tempo e Monitoramento Pós-operatório
- 2024: A janela temporal para o diagnóstico da ISC era estabelecida de maneira mais ampla e, muitas vezes, sem distinção entre infecções precoces e tardias, o que dificultava a identificação da etiologia.
- 2025: As diretrizes passaram a definir intervalos temporais mais precisos. Isso significa que há critérios distintos para infecções que se manifestam nas primeiras 48–72 horas e para aquelas que surgem posteriormente, permitindo uma melhor avaliação do risco, bem como a diferenciação entre contaminações intraoperatórias e infecções desenvolvidas no pós-operatório.
- Incorporação de Novas Tecnologias Diagnósticas
- 2024: O diagnóstico dependia, em grande parte, de métodos convencionais de cultura e de exames clínicos.
- 2025: As novas diretrizes reconhecem o valor dos avanços tecnológicos. Métodos moleculares, como PCR específico para patógenos comuns em ISC, e técnicas de sequenciamento já são sugeridos como ferramentas auxiliares. Isso permite uma identificação mais rápida e precisa do agente infeccioso, especialmente em casos de infecções polimicrobianas ou de difícil cultivo.
- Padronização dos Protocolos de Coleta e Processamento de Amostras
- 2024: Havia variações na forma como as amostras eram coletadas e processadas, o que frequentemente comprometia a reprodutibilidade dos resultados.
- 2025: A publicação atual reforça a necessidade de padronização dos protocolos de coleta – desde a higienização da área cirúrgica até a manipulação adequada dos materiais para cultura e análise molecular. Essa uniformização é fundamental para minimizar falsos positivos e falsos negativos, elevando a confiabilidade dos diagnósticos.
- Ênfase na Educação e na Atualização dos Profissionais de Saúde
- 2024: A disseminação dos critérios e a capacitação dos profissionais eram tratadas de maneira mais genérica.
- 2025: As novas diretrizes acompanham um robusto plano de treinamento e atualização, reconhecendo que a eficácia dos critérios depende diretamente do conhecimento e da prática dos profissionais envolvidos. Essa mudança reflete uma visão de futuro que alia inovação técnica a uma cultura de aprendizado contínuo.
Opinião Crítica e Visão de Futuro
É encorajador ver a ANVISA adotando uma postura que alia tecnologia, rigor científico e sensibilidade clínica. A atualização dos critérios para infecção do sítio cirúrgico é um passo fundamental para reduzir a morbidade associada a procedimentos cirúrgicos e evitar a prescrição inadequada de antimicrobianos. Entretanto, é preciso ter cautela: a implementação desses avanços exige investimento em infraestrutura laboratorial e, principalmente, um esforço contínuo na capacitação dos profissionais de saúde.
Se bem executadas, essas mudanças poderão não só melhorar a acurácia diagnóstica, mas também servir de base para futuras inovações que poderão reduzir os índices de infecção e melhorar os desfechos clínicos. Manter um olhar crítico e questionador é essencial para que essas diretrizes não se transformem apenas em documentos normativos, mas em instrumentos dinâmicos que acompanhem a evolução da medicina e da tecnologia.
Brevemente estaremos discutindo este tema num programa SuperAção da TV CCIH.
Orientações diagnósticas para as demais IRAS
Quando falamos das “demais IRAS” – isto é, aquelas infecções relacionadas à assistência à saúde que não se enquadram nas categorias de ITU, infecção primária da corrente sanguínea, pneumonia associada à ventilação mecânica ou infecção do sítio cirúrgico – a publicação de 2025 da ANVISA traz uma série de mudanças substanciais em relação à de 2024. Vamos destrinchar essas alterações ponto a ponto:
- Aprimoramento dos Critérios para Infecções Associadas a Dispositivos Invasivos
- 2024: Os protocolos consideravam, de forma geral, infecções associadas a dispositivos como cateteres e drenos, mas os critérios eram bastante genéricos, muitas vezes baseados em sinais clínicos isolados e cultura convencional sem uma padronização rigorosa na coleta das amostras.
- 2025: As novas diretrizes estabelecem protocolos padronizados para a coleta e processamento de amostras oriundas de dispositivos invasivos. Há ênfase na utilização de métodos moleculares e na quantificação da carga microbiana, permitindo distinguir entre colonização e infecção ativa. Além disso, a integração dos dados laboratoriais com a avaliação clínica (sintomas e sinais de inflamação local e sistêmica) se torna mandatória, o que eleva a precisão do diagnóstico.
- Definição Mais Rigorosa para Infecções Respiratórias Não Ventiladas
- 2024: Para as infecções respiratórias que ocorriam fora do contexto da ventilação mecânica, os critérios eram menos específicos, recorrendo principalmente a exames de imagem e à avaliação clínica sem uma padronização que considerasse a variabilidade dos achados radiológicos.
- 2025: A atualização propõe a inclusão de técnicas avançadas de imagem – como tomografia computadorizada de alta resolução e ultrassonografia pulmonar – aliadas a biomarcadores inflamatórios (por exemplo, níveis específicos de procalcitonina) para definir limiares diagnósticos mais objetivos. Essa combinação visa reduzir a ambiguidade entre processos infecciosos e inflamações não infecciosas, tornando o diagnóstico mais assertivo.
- Integração de Fatores de Risco e Perfis do Paciente
- 2024: A análise dos fatores de risco era, muitas vezes, considerada de forma secundária, sem um impacto direto na definição dos critérios diagnósticos para infecções em contextos diversos.
- 2025: Agora, há um reconhecimento maior de que o contexto do paciente – como comorbidades, imunossupressão e exposição a ambientes de alto risco – deve influenciar os critérios diagnósticos. Os protocolos incluem algoritmos que combinam dados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos, permitindo uma interpretação contextualizada dos resultados e uma diferenciação mais precisa entre infecção e inflamação reativa.
- Padronização dos Protocolos de Vigilância e Monitoramento
- 2024: A vigilância das IRAS seguia protocolos padronizados, porém, sem a utilização sistemática de ferramentas de monitoramento contínuo e sem considerar variáveis locais e regionais com a devida granularidade.
- 2025: As novas diretrizes enfatizam a importância de sistemas integrados de vigilância que utilizam inteligência artificial e análise de big data para monitorar em tempo real a incidência de IRAS. Essa abordagem permite ajustes rápidos nos critérios diagnósticos baseados em tendências epidemiológicas locais, contribuindo para uma resposta mais eficaz e personalizada.
- Incorporação de Novas Tecnologias Diagnósticas e Inteligência Artificial
- 2024: A tecnologia estava, em sua maioria, restrita a métodos convencionais (como culturas e testes de sensibilidade) e a avaliações clínicas padronizadas.
- 2025: A publicação abraça a revolução tecnológica ao recomendar o uso de algoritmos de inteligência artificial para a análise integrada de dados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. Esses algoritmos podem identificar padrões sutis que escapam à análise humana, facilitando diagnósticos precoces e mais precisos das IRAS em contextos diversos.
- Revisão dos Critérios Epidemiológicos e Ajustes Regionais
- 2024: Os critérios eram estabelecidos de maneira mais estática, com pouca consideração para as variações regionais na incidência e nos perfis de resistência microbiana.
- 2025: As novas diretrizes incorporam dados epidemiológicos atualizados, recomendando que os profissionais considerem os perfis locais de patógenos e suas resistências. Essa abordagem dinâmica permite que os limiares diagnósticos sejam adaptados à realidade de cada região, contribuindo para um manejo mais adequado e direcionado das infecções.
Opinião Crítica e Perspectiva para o Futuro
Essas mudanças refletem um movimento decisivo em direção a uma prática mais integrada e personalizada na detecção de IRAS. É animador ver a ANVISA investindo em tecnologias modernas e na integração de dados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. Entretanto, precisamos manter o olhar crítico: a implementação desses avanços exige uma reestruturação dos serviços de saúde, treinamento contínuo e, sobretudo, investimentos em infraestrutura. Se essa transição não for acompanhada de suporte adequado, corremos o risco de ter diretrizes teóricas que dificilmente se traduzam em melhorias concretas na prática clínica.
Em resumo, a publicação de 2025 representa um avanço significativo ao redefinir os critérios diagnósticos para as IRAS que ainda não haviam sido discutidas, promovendo uma abordagem mais robusta, adaptativa e tecnológica. Essa evolução pode ser o divisor de águas na luta contra infecções associadas à assistência à saúde, desde que haja um compromisso real com a implementação e a educação dos profissionais.
Link para a nota técnica 2015:
Links relacionados:
Prevenção e controle de infecção: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção: https://www.ccih.med.br/cursos-mba/mba-ccih-gestao-em-saude-e-controle-de-infeccao/
Elaborado por:
Antonio Tadeu Fernandes com apoio de IA:
https://www.linkedin.com/in/mba-gest%C3%A3o-ccih-a-tadeu-fernandes-11275529/
https://www.instagram.com/tadeuccih/
#ANVISA #diagnóstico #critériosdiagnósticos #mudanças2025 #ITU #ICS #PAV #ISC #CCIH #IRAS
Instituto CCIH + : Parceria permanente entre você e os melhores professores na sua área de atuação