As infecções relacionadas a assistência à saúde são um ponto fundamental da prevenção e controle adversidades em serviços de saúde, mas quais são os principais fatores de risco aos quais devemos estar atentos? Esse estudo avalia potenciais fatores de risco associados ao desenvolvimento de IRAS em pacientes hospitalizados em um país em desenvolvimento.
Qual foi o objetivo deste estudo?
As infecções relacionadas a assistência à saúde (IRAS) são uma séria questão de saúde pública global, sendo inclusive um dos fatores que contribuem para o aumento da resistência antimicrobiana. Estima-se que em países em desenvolvimento o risco de aquisição de IRAS seja de duas até vinte vezes maior do que em países desenvolvidos.
Conhecer os fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de IRAS pode auxiliar os profissionais de saúde a prevenir essas infecções e guiar o desenvolvimento de programas de controle de infecção, diretrizes e regulamentações eficazes.
Esse estudo teve como objetivo avaliar os fatores de risco associados com o desenvolvimento de IRAS em hospitais da China, um país em desenvolvimento com cerca de 7.95 milhões de internações por IRAS por ano.
Como foi realizada a pesquisa sobre 20 anos de publicações sobre fatores de risco para IRAS?
Os autores utilizaram a estratégia PICOS; sendo a população (P) os pacientes hospitalizados em hospitais chineses por mais de 48 horas, a intervenção (I) quaisquer potenciais fatores de risco para IRAS segundo o Ministério da Saúde chinês, o controle (C) como os pacientes sem IRAS, o desfecho (O) IRAS, e o tipo de estudo (S) foram estudos observacionais transversais, estudos de caso-controle, ou estudos de coorte. As diretrizes PRISMA foram então aplicadas para realização de revisão sistemática e meta análise.
As buscas foram realizadas nas principais bases de dados – Medline e EMBASE – e em periódicos chineses, incluindo estudos publicados entre 1º de janeiro de 2001 e 31 de maio de 2022. Para a pesquisa foram utilizados termos MeSH e considerados estudos publicados em inglês e chinês. A qualidade dos resultados foi avaliada por 2 pesquisadores independentes seguindo os critérios do Joanna Briggs Institute. Os autores estimaram então a razão de chances (odds ratio – OR) dos potenciais fatores de risco e realizaram outras análises estatísticas relevantes.
Quais fatores de risco para IRAS foram identificados neste estudo?
Um total de 5.037 artigos publicados foram identificados na pesquisa inicial e 58 estudos foram incluídos na meta-análise quantitativa. A maioria dos estudos (52) eram estudos observacionais transversais realizados em hospitais de cuidados terciários e um único estudo foi multicêntrico.
Os estudos incluídos compreendiam 1.211.117 pacientes de 41 regiões em 23 províncias da China, entre os quais 29.737 foram identificados como tendo IRAS. Foram identificados 58 potenciais fatores de risco, sendo os principais idade, cateter vesical de demora, cirurgia, gênero, ventilação assistida, e cânula arteriovenosa. A análise de qualidade indicou qualidade moderada das evidências (11.69/16), sendo os estudos de caso-controle os de maior qualidade.
Para a meta análise foram considerados 31 potenciais fatores de risco e os mais significantes foram idade superior a 60 anos (OR: 1.74) e sexo masculino (OR:1.20); outros fatores de risco relevantes identificados foram procedimentos invasivos, condição de saúde precedente (doenças crônicas, coma e imunossupressão) e longa permanência hospitalar.
O que isso ajuda nas atividade de vigilância e prevenção?
Esse estudo concluiu que, nos hospitais chineses, os principais fatores de risco para IRAS foram ser do sexo masculino e idade maior que 60 anos. Os autores concluem, portanto, que pacientes idosos devem ser priorizados na vigilância, prevenção e gestão de IRAS; quanto ao sexo masculino mais estudos são necessários para melhor compreender o impacto do gênero na ocorrência de IRAS.
Levando em consideração os outros fatores de risco identificados, os autores sugerem que é importante controlar duração do uso de dispositivos invasivos (como cânulas, cateteres e ventiladores) e garantir a desinfecção adequada deles; além disso, ressaltam que comorbidades podem estar relacionadas a um maior risco de IRAS principalmente em casos de doenças que afetam o sistema imunológico. Também reforçam a importância dos programas de stewardship de antibióticos, visto que o uso inadequado desses agentes aumenta ainda mais o risco de desenvolvimento de IRAS.
Por fim, os autores destacam que os pacientes normalmente possuem uma combinação desses fatores de risco, tornando ainda mais importante que as medidas de prevenção e controle de infecções sejam abrangentes e eficazes para que seja possível diminuir o impacto dessas IRAS.
Quais foram as limitações do estudo?
Esse estudo possui algumas limitações. A maioria dos estudos incluídos foram publicações de periódicos chineses e foram, principalmente, estudos monocêntricos. Outra possível limitação é o possível viés de publicação que pode levar a uma superestimação do impacto de alguns possíveis fatores de risco. Além iddo, por razões óbvias o que é publicado em literatura não é uma amostra significativa do que efetivamente ocorre, mas não deixa de ser uma informação de interesse.
Fonte: Liu, X., Long, Y., Greenhalgh, C., Steeg, S., Wilkinson, J., Li, H., Verma, A., & Spencer, A. (2023). A systematic review and meta-analysis of risk factors associated with healthcare associated infections among hospitalized patients in Chinese general hospitals from 2001 to 2022. The Journal of hospital infection, 135, 37–49. ttps://doi.org/10.1016/j.jhin.2023.02.013
Link: https://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(23)00071-3/fulltext
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
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