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Reações adversas do tipo idiossincráticas: identificação e papel do farmacêutico em seu manejo

Reações adversas do tipo idiossincráticas: identificação e papel do farmacêutico em seu manejo

Introdução

As reações adversas a medicamentos são fenômenos complexos e, entre elas, as idiossincráticas representam um desafio adicional. Diferentemente das reações esperadas e dose-dependentes, as idiossincráticas ocorrem de forma inesperada e não relacionada à dose, tornando-se um campo essencial de estudo e intervenção para profissionais de saúde, principalmente, os farmacêuticos. Neste artigo, iremos abordar o conceito de reações adversas idiossincráticas, apresentaremos exemplos descritos na literatura, discutiremos estratégias para identificação e destacaremos o papel do farmacêutico no manejo dessas situações.

Conceito de reações adversas idiossincráticas:

As reações idiossincráticas são respostas individuais e imprevisíveis a medicamentos, que não estão relacionadas à farmacologia conhecida do fármaco e muito menos com sua dose administrada. O mecanismo por trás desta reação não é bem compreendido, mas de forma abrangente, acredita-se que tais reações possam estar relacionadas com a formação de metabólitos que se complexam com grupos funcionais da estrutura das proteínas, esses complexos formados são reconhecidos pelo sistema imunológico, o que resulta na ativação dos linfócitos B e T, desencadeando uma resposta imunológica dessa forma.

Diferentemente das reações esperadas, com reações comuns, as idiossincráticas ocorrem em uma pequena proporção de pacientes, ou seja, apresentam uma baixa incidência e morbidade, mas quando ocorre pode apresentar um desafio diagnóstico e ser letal ao paciente.

Exemplos Principais Descritos na Literatura:

  1. Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ):

A SSJ é uma reação cutânea grave e rara, muitas vezes desencadeada por medicamentos como anticonvulsivantes e antibióticos. Os sintomas incluem erupções cutâneas, bolhas e envolvimento de membranas mucosas.

  1. Agranulocitose por Drogas:

Certos medicamentos podem desencadear a destruição dos glóbulos brancos, resultando em agranulocitose. Isso pode levar a infecções graves e é um exemplo marcante de reação idiossincrática.

  1. Hepatite Medicamentosa:

Alguns fármacos podem desencadear inflamação hepática, levando a danos no fígado. A hepatite medicamentosa é uma reação idiossincrática significativa que exige monitoramento cuidadoso.

Como identificar reações adversas idiossincráticas:

  1. Verificar se de fato o paciente fez uso do medicamento na dose recomendada e no tempo estabelecido.
  2. Questionar se a reação ocorreu logo após a administração do medicamento.
  3. Pesquisar se o intervalo de tempo entre a administração do medicamento e o surgimento da reação adversa é plausível.
  4. A reação desapareceu com a suspensão do medicamento suspeito ou reapareceu com sua administração?
  5. Verificar se existem causas alternativas que podem justificar o aparecimento da reação adversa, como a doença de base e outros medicamentos.
  6. Buscar em artigos científicos, estudos de casos e relatos profissionais da relação do medicamento suspeito com a possível reação adversa notificada.

Outras medidas podem ser acrescidas com a possibilidade de estabelecer um rastreio mais amplo de reações adversas, como:

Vigilância Clínica:

Profissionais de saúde devem manter uma vigilância atenta aos sinais e sintomas incomuns, especialmente após a introdução de novos medicamentos.

História do Paciente:

Uma análise detalhada da história clínica do paciente, incluindo experiências anteriores com medicamentos, pode ajudar na identificação de padrões.

Monitoramento Laboratorial:

Exames laboratoriais específicos podem ser úteis para detectar e avaliar reações idiossincráticas, como alterações nos níveis de células sanguíneas ou enzimas hepáticas.

Contribuição do farmacêutico no manejo:

O farmacêutico desempenha um papel crucial na prevenção, identificação e manejo de reações adversas idiossincráticas. Suas responsabilidades incluem:

  1. Educação do Paciente:

Informar pacientes sobre potenciais reações adversas e incentivar relatos de sintomas incomuns.

  1. Revisão de Medicamentos:

Avaliar interações medicamentosas e identificar possíveis desencadeadores de reações idiossincráticas.

  1. Colaboração Interprofissional:

Trabalhar em estreita colaboração com outros profissionais de saúde para garantir uma abordagem integrada no manejo das reações adversas.

  1. Monitoramento Contínuo:

Implementar sistemas de monitoramento que permitam a detecção precoce de reações adversas, permitindo intervenções oportunas.

Conclusão:

As reações adversas idiossincráticas representam um desafio clínico significativo, exigindo uma abordagem abrangente por parte dos profissionais de saúde. O farmacêutico desempenha um papel central na identificação precoce, manejo e prevenção dessas reações, promovendo assim uma prática segura e personalizada da farmacoterapia. A compreensão desses conceitos é fundamental para otimizar a segurança e eficácia dos tratamentos farmacológicos.

 

Referências

 

DE FIGUEIREDO, Patrícia Mandali et al. Reações adversas a medicamentos. 2009.

NETO, Sara d’Avó. Formação de metabolitos reativos envolvidos em reações adversas idiossincráticas a fármacos: o conceito de alertas estruturais: exemplos ilustrativos. 2015. Dissertação de Mestrado.

CAPUCHO, Helaine Carneiro; CARVALHO, Felipe Dias; CASSIANI, Silvia Helena de Bortoli. Farmacovigilância: gerenciamento de riscos da terapia medicamentosa para segurança do paciente. In: Farmacovigilância: gerenciamento de riscos da terapia medicamentosa para segurança do paciente. 2012. p. 201-201.

 

Elaborado por Gessualdo Junior – Farmacêutico

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