As equipes hospitalares, principalmente profissionais controladores de infecção e enfermeiros, são fundamentais para garantir a segurança e qualidade do atendimento de cuidados prestados aos pacientes. Esta publicação traz os resultados e análises de 9 anos de observação ambidirectional sobre os impactos da presença de controladores de infecção no âmbito hospitalar, para 10 tipos de infecções relacionas a assistência a saúde (IRAS).
QUAL A FOI A JUSTIFICATIVA DO ESTUDO?
É de amplo conhecimento que os controladores de infecçao e pessoal de enfermagem são fundamentais para assegurar a qualidade e eficácia de atendimento a pacientes no âmbito hospitalar. Apesar disso, avaliações quantitativas da correlação entre a presença desses profissionais e as taxas de infecções relacionas a assistência a saude (HAIs) ainda são escassas.
QUAL FOI O OBJETIVO DO ESTUDO?
Os pesquisadores buscaram avaliar as relações entre o nível de presença de profissionais de prevenção de infecção e de enfermagem e 10 HAIs ao longo de um período de 9 anos no Rochester General Hospital (um hospital universitário de 528 leitos nos EUA).
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO CONTEXTO OBSERVADO?
Esse foi um estudo observacional realizado em um único hospital com 528 leitos. Nessa estrutura 42% dos leitos totais eram semiprivativos, de forma que 59% dos pacientes estavam em quartos compartilhados. Dentre os leitos totais, 60 eram de unidade de terapia intensiva para adultos e 14 de UTI neonatal. Nota-se ainda que a estrutura em questão é o 11º departamento de emergência mais movimentado dos EUA e o 2º maior centro de referência para pacientes com dispositivos de assistência ventricular do país.
Nota-se que durante os anos de observação o departamento de prevenção de infecções não conseguiu concluir grandes inciativas/projetos – com exceção do fim das precauções de contato para MRSA e VRE em 2017 e uma campanha de redução de Infecção do trato urinário associada a cateter (ITU-RC) de 4 meses em 2018. Tal impossibilidade ocorreu devido a frequente rotatividade e escassez de pessoal, aumento da carga de relatórios obrigatórios e prioridades conflitantes.
QUAL FOI A METODOLOGIA DO ESTUDO?
Durante o período de estudo – entre 1º de julho de 2012 a 1º de fevereiro de 2021 – foi realizada vigilância para IRAS de todos os pacientes internados. Foi realizada vigilância para:
- ITU-RC;
- ICS-RC (Infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter central);
- Infecção da corrente sanguínea por MRSA (Staphylococcus aureus resistente a meticilina);
- Infecção nosocomial por ERC (Enterobacteriaceae resistente a carbapenem);
- IH-CDI (Infecção hospitalar por Clostridioides difficile);
- Infecções de sítio cirúrgico (ISC) após:
- Cirurgia de revascularização miocárdica (CABG)
- Histerectomia abdominal (H0YST)
- Cirurgia de colón (COLO)
- Prótese de quadril (HPRO)
- Prótese de joelho (KPRO).
Os dados coletados foram analisados e correlacionados por 2 abordagens diversas ideadas e executadas por 2 estatísticos independentes.
QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS RESULTADOS?
O censo médio diário de pacientes internados foi de 490 pacientes internados por dia, totalizando 1.609.650 milhões de pacientes-dia. O período de observação compreendeu 3 surtos, sendo eles de Candida auris, sarna e Legionella spp..
Durante todo o período de estudo as taxas de pessoal de controle de infecções para paciente variaram notavelmente entre 1:75 – o que corresponde ao nível recomendado – e 1:264 – o que é um nível criticamente baixo. Concomitante a essa variação, foi inconstante também o grau de experiencia desses profissionais e a média de horas mensais da enfermagem (inicialmente de de 661 horas e ao final do estudo diminui para 580,7 horas).
O aumento da presença e experiência dos controladores de infecção e a presença de um epidemiologista hospitalar coincidiram com taxas mais baixas de 3 dos 5 tipos de HAIs e 4 dos 5 tipos de ISC. Nota-se, contudo, que a partir de novembro de 2021, as taxas de 8 dessas 10 infecções continuaram a subir em meio à presença de controladores de infecção experientes, sugerindo que os efeitos da pandemia poderiam ter ofuscado efeitos positivos do aumento da presença desses profissionais; uma tendência consistente com outros estudos e publicações.
QUAIS AS LIMITAÇÕES DO ESTUDO?
Os autores abordam diversas limitações do estudo. A principal limitação é que, devido ao design quase experimental e a falta de controle de confundidores, nenhuma relação causal pode ser inferida. Além disso, a generalização dos resultados é limitada pelo caráter monocêntrico do estudo.
QUAIS AS CONCLUSÕES FINAIS?
Os pesquisadores ressaltam que o estudo foi notável pela duração e tamanho da amostra pois começa a preencher a lacuna de informações quantitativas dos principais tipos de IRAS, fornecendo informações úteis para alocação de recursos e melhoria da qualidade de atendimento e segurança do paciente. Ressaltam também que a correlação entre taxas mais baixas de infecção e a presença de controladores de infecção qualificados na equipe hospitalar é plausível por diversos motivos, entre os quais a necessidade de implementação de bundles de prevenção complexos e outras iniciativas que requerem profissionais bem preparados e capacitados, além da apropriada avaliação e classificação de casos de infecções como HAIs. Por fim, essa publicação evidencia a necessidade cada vez mais presente de programas de prevenção de infecções mais eficazes e que provavelmente exigirão o envolvimento de diversos profissionais nos hospitais.
Fonte: Clifford RJ, Newhart D, Laguio-Vila MR, Gutowski JL, Bronstein MZ, Lesho EP. Infection preventionist staffing levels and rates of 10 types of healthcare-associated infections: A 9-year ambidirectional observation. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Nov;43(11):1641-1646. https://doi.org/10.1017/ice.2021.507
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Sinopse por: Maria Julia Ricci
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Links relacionados:
Quantos profissionais de controle de infecção são necessários nos hospitais? –
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17174007
Efeitos da carga de trabalho de profissionais de saúde no risco de infecções de pacientes criticamente doentes –
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17095946
Necessidade de precauções de contato para MRSA e VRE –
https://www.ccih.med.br/sao-necessarias-as-precaucoes-de-contato-para-mrsa-e-vre/
Bundles para prevenção de infecções e segurança do paciente –
https://www.ccihcursos.com.br/bundles.html
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