A interrupção das precauções de contato para MRSA/VRE não resultaram em aumento das taxas de IRAS, sugerindo que as precauções de contato podem ser removidas com segurança de diversos hospitais, incluindo hospitais comunitários, que são aqueles com menores proporções de quartos privados.
Por que se questionam as precauções de contato para MRSA e VRE
Em uma análise nacional (nos EUA) recente observou-se que mais de 90% dos hospitais com cuidados intensivos colocam os pacientes como precauções de contato quanto colonizados por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e Enterococcus resistente à vancomicina (VRE). Embora essa prática seja comum e recomendada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e pela Sociedade Americana de Epidemiologia da Saúde para a redução da transmissão, tem sido, contudo uma prática controversa.
Vários estudos têm mostrado relação entre as precauções de contato e danos aos pacientes. Embora os dados sejam conflitantes, pode-se perceber uma diminuição no contato entre os profissionais de saúde e os pacientes, atrasos na admissão ou na alta, lacunas na documentação do prontuário médico, ansiedade e depressão durante a internação, menor satisfação e eventos adversos evitáveis.
Embora esses estudos sejam encorajadores para a descontinuação, eles se concentram principalmente em hospitais universitários de grande porte, carecem de dados de hospitais gerais e menores e não consideram totalmente as diversas práticas de prevenção de infecções.
Assim, são necessários dados sobre as condições hospitalares e práticas de prevenção de infecção necessárias para a descontinuação bem-sucedida.
Qual foi o objetivo do estudo?
Neste estudo o objetivo dos autores foi determinar o impacto da remoção das precauções de contato nas taxas de infecção por MRSA e VRE, comparar a mudança nas taxas de infecção hospitalar antes da intervenção e após a intervenção e explorar o efeito das características hospitalares e das práticas de prevenção de infecção entre a descontinuação das precauções de contato e as taxas de infecção por MRSA e VRE.
Como o estudo foi realizado?
Este estudo foi realizado em 15 hospitais de internação da UPMC localizado na Pensilvânia, que inclui hospitais terciários, hospitais gerais, hospitais universitários e hospitais não universitários. As instalações variavam de 40 a 745 leitos. Antes da intervenção do estudo, as precauções de contato (avental e luvas) eram necessárias para contato com qualquer paciente com infecção ou colonização por MRSA e/ou VRE e/ou seu ambiente. Cada local que realizava a precaução de contato era equipada com sinalização, aventais, luvas, desinfetante para as mãos à base de álcool e pias. Os pacientes com MRSA ou VRE foram admitidos em quartos privados ou foram agrupados com outro paciente com status de patógeno idêntico em um quarto semiprivado, que são precauções padrão em acordo com as recomendações da OMS, além de higiene das mãos.
Foi conduzido um estudo retrospectivo, observacional, quase experimental, comparando as taxas de infecção hospitalar por MRSA e VRE antes e depois da descontinuação das precauções padrões para MRSA e VRE endêmicos. A mudança foi uma iniciativa de melhoria da qualidade aprovada pelo Comitê de Revisão de Qualidade da UPMC (protocolo nº 1670).
A Instituição do estudo, UPMC, realizou uma mudança de política recomendando a remoção das precauções de contato e isolamento do paciente com MRSA e VRE a partir de 15 de fevereiro de 2018.
O período de intervenção foi de 1º de fevereiro de 2017 a 31 de janeiro de 2018 e o período pós-intervenção foi de 1º de março de 2018 a 28 de fevereiro de 2019.
Cada um dos 15 hospitais do estudo optou independentemente por remover as precauções de contato para MRSA e VRE (hospitais de intervenção, N = 12) ou continuar a prática atual (hospitais sem intervenção, N = 3), com base nas taxas basais de IRAS e populações de pacientes com alto risco de IRAS. Todas as unidades de terapia intensiva neonatal (UTIs) e unidades de queimados em hospitais de intervenção continuaram com as precauções para MRSA e VRE.
Os resultados primários analisados foram taxas de infecção hospitalar por MRSA e VRE em 1.000 pacientes-dia e os eventos identificados em laboratório (LabID) de MRSA em 100 internações por meio dos procedimentos da National Healthcare Safety Network (NHSN) (2017–2019). Os eventos LabID são baseados em isolados clínicos positivos, fornecendo um marcador substituto de infecção hospitalar.
Quais foram os principais resultados?
As características e práticas de prevenção de infecção foram descritas em 12 hospitais de intervenção e nos 3 hospitais de não intervenção. Nos 15 hospitais do estudo, a quantidade média de leitos foi de 303 (intervalo de 40 a 745), de quartos privados variou de 5% a 100 %, de todas as instituições, exceto uma, que realizava o banho com clorexidina em toda ou parte de toda a população de pacientes. A mediana de adesão à higiene das mãos foi de 92% (variação de 82% a 100%) no período pré-intervenção e 90% (variação de 72% a 98%) no período pós-intervenção. A desinfecção por ultravioleta (UV) foi usada para quartos de pacientes em 9 instalações (60%).
Taxa de infecção por MRSA
Nenhuma mudança estatisticamente significativa ocorreu nas taxas de infecção por MRSA em 1.000 pacientes-dia nos hospitais de intervenção em 1 ano após a suspensão das precauções de contato.
Embora a taxa de infecção por MRSA tenha sido maior nos hospitais gerais em que não houve intervenção, quando comparamos as mudanças nas taxas entre os hospitais sem intervenção e os hospitais com intervenção, não detectamos nenhuma diferença estatisticamente significativa (P = 0,74). Nem a mudança imediata nem a mudança de inclinação foram estatisticamente significativas para nenhum dos grupos.
Taxa de infecção por VRE
As taxas agregadas de infecção por VRE em 1.000 pacientes-dia nos hospitais de intervenção e nos hospitais que não fizeram intervenção permaneceram inalteradas mesmo após a descontinuação das precauções de contato de rotina.
A taxa de infecção por VRE foi maior nos hospitais sem intervenção do que nos hospitais de intervenção nos períodos pré e pós-intervenção.
Eventos MRSA LabID
Nenhum aumento estatisticamente significativo nas taxas de eventos LabID de infecção por MRSA em 100 internações foram observadas nos hospitais com intervenção agregada ou sem intervenção.
Não foi detectado associações com (1) status da infecção, se comunitário ou pela unidade de atendimento terciário, (2) quantidade de leitos, (3) porcentagem da população de UTI ou (4) mudança nas taxas de infecção por MRSA ou VRE em 1.000 pacientes por dia. Não houve associação entre a porcentagem de quartos privados do hospital e achados de mudança nas taxas de infecção por VRE HAI em 1.000 pacientes-dia. Não houve associação entre o uso de banho com CHG e alteração na taxa de infecção por MRSA ou VRE após a remoção das precauções de contato. Se o hospital usou uma ou mais estratégias de banho com CHG ou banho com CHG e precaução universal não foi correlacionado com a mudança na taxa após a descontinuação das precauções. Além disso, não houve correlação entre a adesão à higiene das mãos ou desinfecção por ultravioleta e as taxas de infecção por MRSA e VRE após a remoção das precauções. Cada um desses fatores também foi avaliado quanto à correlação com a alteração na taxa de eventos LabID por MRSA em 100 admissões, e nenhuma correlação significativa foi detectada.
Análise de custos
Os dados de custo estavam disponíveis para 11 dos 12 hospitais de intervenção. O custo total com os EPIs nos 11 hospitais foi de $643.861,90 nos 12 meses anteriores à intervenção e $ 290.441,60 no primeiro ano após a descontinuação das precauções de contato para MRSA e VRE.
Representa uma economia de $ 353.420,30 e uma economia mensal média de $ 29.451,69.
Quais as limitações do estudo?
Este estudo apresentou algumas limitações, pois a seleção do hospital e dos grupos foi baseada numa amostra de conveniência e não na atribuição aleatória. Os hospitais sem intervenção, ainda sim, continuavam a fornecer algumas medidas de prevenção de infecção, contudo os hospitais que optaram por não mudar a política apresentaram taxas significativamente mais altas de MRSA e VRE, o que provavelmente não é uma condição ideal para remover as precauções. Embora este seja um grande estudo sobre a descontinuação das precauções de contato, foi incluído apenas dados de 12 hospitais com 1 ano de acompanhamento.
Que comentários e críticas finais?
Os resultados deste estudo sugerem que as precauções de contato para MRSA e VRE podem ser removidas com segurança em certas condições, sem aumentar as infecções relacionadas a saúde levando a uma economia significativa dos custos com capotes de isolamento.
Como é possível que, algumas populações sejam possivelmente beneficiadas pelas precauções de contato, dados mais robustos sobre como proteger essas populações e como mitigar potenciais danos devem ser avaliados em pesquisas futuras.
Fonte: Martin EM, Colaianne B, Bridge C, Bilderback A, Tanner C, Wagester S, Yassin M, Pontzer R, Snyder GM. Discontinuing MRSA and VRE contact precautions: Defining hospital characteristics and infection prevention practices predicting safe de-escalation. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Nov;43(11):1595-1602. doi: 10.1017/ice.2021.457. Epub 2021 Dec 1. PMID: 34847970.
Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34847970/
Links relacionados:
Reconsiderando a precaução de contato para MRSA e VRE –
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26138329/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25150745/
Precaução de contato –
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18063129/
Precaução de contato e rastreamento –
https://www.ccih.med.br/precaucao-de-contato-e-rastreamento/
Culturas de vigilância epidemiológica –
https://www.ccih.med.br/culturas-de-vigilancia-epidemiologica/
Afinal, as precauções de contato reduzem a disseminação do MRSA?
https://www.ccih.med.br/afinal-as-precaucoes-de-contato-reduzem-a-disseminacao-do-mrsa/
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Sinopse por: Thalita Gomes do Carmo
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