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Staphylococcus capitis NRCS-A – detecção, sobrevivência e persistência em unidades neonatais

O Staphylococcus capitis tem sido associada a sepse de início tardio em neonataos. Conheça seus fatores de risco e medidas de controle.

Na última década o clone NRCS-A de S. capitis tem sido cada vez mais associado com sepse de início tardio em neonatos de baixo peso ao nascer. Esse estudo busca compreender a extensão em que o ambiente de cuidados pode contribuir para as infecções, incidentes ou surtos.

Qual o contexto do estudo?

A sepse de início tardio é uma causa comum de morbidade e mortalidade em bebês hospitalizados, principalmente aqueles nascidos prematuros, sendo o clone NRCS-A de Staphylococcus capitis uma das principais causas – já que esses clones apresentam resistência a beta-lactâmicos e aminoglicosídeos, e susceptibilidade reduzida a vancomicina. Além da emergência e ampla disseminação geográfica desse clone, um fator preocupante é a capacidade de persistência desse clone em NICUs que se acredita poder estar relacionada a capacidade de fixação e contaminação de uma variedade de superfícies ambientais.

Considerando a importância da prevenção e do controle de infecções causadas por S. capitis, esse estudo foi realizado como parte da resposta da Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido a declaração nacional de um incidente (i.e., circunstância que pode resultar ou resultou em dano desnecessário ao paciente) relativo a infecções invasivas causadas por S. capitis em bebês, principalmente neonatos prematuros em NICUs, em junho de 2021.

Qual o objetivo do estudo?

O estudo teve como objetivo compreender o potencial de colonização e persistência de S. capitis, com ênfase nos clones NRCS-A, em diferentes superfícies de NICUs do Reino Unido.

Qual a metodologia do estudo?

Foi realizada coleta de amostras ambientais em 4 NICUs no sudeste da Reino Unido, entre agosto de 2021 e julho de 2022, com e sem casos de colonização ou infecção por NRCS-A no momento de amostragem. Para coleta de amostras foi utilizada uma divisão por zonas das NICUs:

Zona 1 – Espaços ocupados pelos neonatos, incluindo: as superfícies internas da incubadora (1A), superfícies associadas ao espaço imediato do leito incluindo as superfícies externas da incubadora (1B), e o restante da NICU (1C)

Zona 2 – Áreas utilizadas pelas famílias

Zona 3 – Espaços de uso exclusivo por profissionais

As amostras de superfícies não porosas foram coletadas com o uso de swabs e as de superfícies porosas (como as capas das incubadoras) com o uso de placas de contato de agar. Também foram coletadas amostras passivas de ar de cada zona, e a temperatura e humildade relativa da zona 1 foi monitorada durante essas coletas.

Nas 4 unidades de estudo, a equipe de saúde realizava limpeza uma ou duas vezes ao dia com esponja/pano úmido com água quente e sabão, lenços umedecidos detergentes, lenços detergentes/desinfectantes a base de QAC (compostos quaternários de amônia), ou uma solução de trocloseno de sódio. Apesar da variabilidade de protocolos de limpeza e desinfecção, em todas as unidades as incubadoras eram trocadas no máximo a cada 7 dias e entre bebês as incubadoras eram desmontadas e limpas com detergente e solução de trocloseno de sódio.

As amostras foram cultivadas e as colônias caracterizadas. As colônias identificadas como S. capitis tiveram a susceptibilidade fenotípica a cefoxitina, rifampicina, ácido fusídico, ciprofloxacina e gentamicina. Os isolados com antibiograma típico do clone NRCS-A – ou seja, resistentes a cefoxitina, ácido fusídico e gentamicina – foram submetidos a Unidade de Referência Nacional do Reino Unido para confirmação por sequenciamento completo de genoma.

Quais os principais resultados?

De 173 superfícies amostradas, 40 (21.1%) abrigavam S. capitis com 30 isolados (75%) sendo NCRS-A. Enquanto amostras contendo S. capitis foram coletadas de superfícies de todo o ambiente das NICUs (i.e. em todas as zonas de estudo), o clone NRCS-A raramente foi encontrado fora da zona 1A (i.e. nas superfícies internas das incubadoras) e 1B (i.e., no espaço imediato dos leitos neonatais. Além disso, a detecção do clone NRCS-A ocorreu independentemente da deteção de casos clínicos no período de coleta.

Em relação a capacidade de sobrevivência de S. capitis nas superfícies, na ausência de limpeza foi identifica capacidade de sobrevivência por três dias com perdas mínimas de viabilidade. Já em relação a capacidade de permanências em superfícies submetidas a limpeza, o uso de trocloseno de sódio e detergentes/desinfetantes a base de QAC foram capazes de reduzir a presença de S. capitis a níveis não detectáveis enquanto o uso de soluções a base de dióxido de cloro foi menos eficiente na eliminação.

Em relação as condições ambientais, a temperatura e umidade relativa média das NICUs foi, respectivamente, de 24.1 graus Celsius e 46.4%. No ambiente laboratorial as amostras incubadas em condições que replicaram aquelas das NICUs apresentaram declínio lento de viabilidade durante os sete dias de observação. Já quando expostas a temperaturas e humidade relativa mais elevadas, o número de células viáveis diminui mais rapidamente. Em ambas as condições, contudo, o clone NRCS-A foi significativamente mais resiliente do que as amostras de S. capitis não-NRCS-A.

Quais as conclusões dos autores?

Considerando os achados do estudo e outras evidências da literatura cientifica, os autores concluem ressaltando que a ampla detecção do clone NRCS-A é particularmente preocupante no ambiente das NICUs devido aos fatores de risco adicionais frequentemente presentes em bebês prematuros – como a frequente submissão a procedimentos ou uso de dispositivos invasivos, a imaturidade imunológica e/ou exposição a antibióticos. Consideram ainda que as mãos dos profissionais de saude podem ser um dos principais vetores de contaminação das superfícies e fômites das NICUs e, portanto, da disseminação de S. capitis no ambiente de cuidados. Considerando todo o panorama e o contexto do estudo, concluem que há uma grande necessidade de orientações, determinações, e de protocolos padrão nacionais para melhoria da limpeza das superfícies (com particular ênfase nas incubadoras) e das melhores práticas de controle e prevenção de infecções.

TAGs: Estafilococo, Resistência, Neonatal, Higiene das mãos, Desinfecção de superfícies, Limpeza

Fonte: Moore G, Barry A, Carter J, et al. Detection, survival, and persistence of Staphylococcus capitis NRCS-A in neonatal units in England. J Hosp Infect. 2023;140:8-14.

Link: https://doi.org/10.1016/j.jhin.2023.06.030

Sinopse por Maria Julia Ricci

LinkedIn: www.linkedin.com/mariajuliaricci

E-mail: [email protected]

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Duração da antibiótico terapia empírica na suspeita de sepse neonatal – https://www.ccih.med.br/duracao-da-antibioticoterapia-empirica-na-suspeita-de-sepse-neonatal/

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Elaborado por Beatriz Grion

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