Este artigo cita exemplos dos principais desafios da pandemia para o stewardship de antimicrobianos e como esses problemas foram resolvidos.
Existem exemplos de desafios no stewardship de antimicrobianos durante a pandemia?
A pandemia de COVID-19 colocou novos desafios aos sistemas de saúde em todo o mundo. Dentre as diversas dificuldades, um dos desafios iniciais foi a realização eficaz de programas de manejo de antimicrobianos (ASP – Antimicrobial Stewardship Programs) neste novo contexto. Com o prosseguimento da pandemia e a progressiva melhoria da resposta a COVID-19, notaram-se inúmeros exemplos de desenvolvimento e integração bem-sucedidos de ASP que foram e são fundamentais para continuar a garantir a qualidade adequada dos cuidados de saúde.
Qual o objetivo da publicação?
Nesta carta ao editor, os autores revisitaram as próprias perspectivas originais (publicadas em outra carta ao editor da “Infection Control & Hospital Epidemiology” um ano antes) sobre o papel de ASP no início da pandemia e destacar como os programas se desenvolveram durante esse período em estruturas de saúde dos EUA.
Quais foram as principais observações realizadas sobre stewardship durante a pandemia?
Os autores analisaram 4 pilares de ASP no contexto da COVID-19:
– Identificação de casos e gestão diagnóstica do teste SARS-CoV-2:
O papel dos ASPs foi muito relevante na identificação e gestão de casos já antes mesmo da ampla disponibilidade de testes. Com a implantação de protocolos de testagem e disponibilidade de recursos adequada, os programas de stewardship antimicrobiana continuaram a ajudar na identificação de possíveis novas infecções por SARS-CoV-2 em ambientes de cuidados a saúde. Além disso, os ASP continuam a ser colaboradores fundamentais da prevenção de infecções, principalmente considerando a progressão das campanhas de vacinação e a identificação de novas variantes.
– Diretrizes de tratamento da COVID-19:
No cenário de internação, os ASPs assumiram a responsabilidade pela criação e manutenção de diretrizes locais para o tratamento da COVID-19. Esses programas colaboraram desde a criação de protocolos terapêuticos pré-autorizados (como o uso de tocilizumabe e remdesivir) até com intervenções visando a redução do uso inadequado de antibióticos. Os ASPs foram fundamentais para monitorar e auxiliar os profissionais da saúde durante o tratamento destes pacientes.
– Manejo ambulatorial de pandemia:
No contexto estadunidense, os ASPs lideraram os esforços para a rápida ampliação de programas de infusão de anticorpos monoclonais, além de auxiliar na triagem e autorização de elegibilidade dos pacientes.
– Planejamento de vacinas:
Por fim, os autores ressaltam a importância das ações dos ASP no planejamento de vacinas, educação, alocação e aconselhamento pós-vacinação dentro dos sistemas hospitalares.
Quais foram as principais conclusões deste estudo?
Os autores concluem que a pandemia de COVID-19 exigiu dos programas de stewardship antimicrobiana e dos programas de prevenção de infecção o desenvolvimento veloz e eficaz de novos mecanismos de colaboração. A bagagem de análise de dados e planejamento estratégico trazida pelos ASPs ficou prontamente evidente durante a pandemia e, aliada aos programas de IPC (controle e prevenção de infecção), mostrou o quão fundamentais são esses programas e os profissionais que os compõe.
Senso assim, ressaltam a tendência de priorização das agendas relacionadas a segurança do paciente e da qualidade do cuidado (e consequentemente dos APS e de IPC) nos próximos anos, tanto a nível nacional quanto internacional. Enfim, concluem que os incentivos para permitir o recrutamento de futuros profissionais capacitados para a gestão de antimicrobianos são fundamentais.
Que críticas e comentários podemos fazer?
As cartas ao editor são uma fonte muito rica sobre a perspectiva dos profissionais sobre a própria prática e contexto. Esta publicação é muito curiosa pois, sendo a segunda carta realizada pelos mesmos autores e sobre o mesmo contexto/temática em períodos diferentes, permite observar a mudança de perspectiva e observar a prática efetiva dos controladores de infecção e APS em um contexto de grandes incertezas.
Como ressaltado pelos autores, a pandemia de COVID-19 foi mais um contexto que permitiu que os APS e os profissionais de CCIH demonstrassem o grande valor de seus conhecimentos e estratégias. Desta forma, fica mais uma vez elucidada a importância de que esses profissionais sejam ativos nas tomadas de decisões para a melhoria dos cuidados em saúde, e que isso ocorra não apenas durante surtos e/ou pandemias.
Fonte: Nori P, Patel PK, Stevens MP. Pandemic stewardship: Reflecting on new roles and contributions of antimicrobial stewardship programs during the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pandemic. Infect Control Hosp Epidemiol. 2022 Aug;43(8):1085-1086
Link: https://doi.org/10.1017%2Fice.2021.172
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Involving antimicrobial stewardship programs in COVID-19 response efforts: All hands on deck: https://doi.org/10.1017/ice.2020.69
Outbreak Response and Incident Management: SHEA Guidance and Resources for Healthcare Epidemiologists in United States Acute-Care Hospitals: https://doi.org/10.1017%2Fice.2017.212
Antimicrobial Stewardship at the Core of COVID-19 Response Efforts: Implications for Sustaining and Building Programs: https://doi.org/10.1007%2Fs11908-020-00734-x
Antimicrobial stewardship and bamlanivimab: opportunities for outpatient preauthorization? https://doi.org/10.1017%2Fice.2020.69
Rational allocation of COVID-19 vaccines to healthcare personnel and patients: a role for antimicrobial stewardship programs? https://doi.org/10.1017%2Fice.2020.1393
CCIH: https://www.ccih.med.br/como-e-por-que-controlar-as-infeccoes-hospitalares/
Stewardship: https://www.ccih.med.br/stewardship-de-antimicrobianos-gerenciando-o-uso-dos-antimicrobianos-para-salvar-vidas/
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Estratégias para stewardship de antimicrobianos: https://www.ccih.med.br/estrategias-para-stewardship-de-antimicrobianos/
Sinopse por: Maria Julia Ricci
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Palavras chave / TAGs: Stewarship, controle de infecção, pandemia, Covid-19, protocolos, diagnóstico, tratamento, vacina, ambulatório, planejamento estratégico