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Teste rápidos para diagnóstico de gripe podem impactar em menor consumo de antibióticos?

Testes rápidos para gripe são uma ferramenta interessante para o stewardship de antimicrobianos e para o manejo clínico de pacientes com esta suspeita. Compensará economicamente ser implementado rotineiramente para casos suspeitos? Neste artigo veremos:

  • É comum a prescrição de antibióticos para casos de gripe?
  • O que mais este estudo avaliou como reflexos do teste rápido para gripe em pronto socorro?
  • Como foram estudados os impactos do teste rápido?
  • Quais foram os testes para gripe empregados?
  • Que informações foram coletadas no estudo?
  • Quais as principais mudanças que foram identificadas após implantação do teste rápido?
  • Então, a implantação de testes rápidos repercutiu positivamente em quais indicadores?
  • Quais limitações, críticas e observações sobre este estudo?

É comum a prescrição de antibióticos para casos de gripe?

A gripe é um problema de saúde pública em todo o mundo. Embora os antibióticos não devam ser usados ​​para tratar infecções virais, eles são frequentemente prescritos para pacientes com doença semelhante à gripe. Tal uso indevido promove a resistência aos antibióticos. O uso dos testes rápidos para prevenção do uso indevido de antibióticos em adultos com sintomas de doenças semelhante à gripe permanece relativamente inexplorado.

Essas prescrições indevidas contribuem para o surgimento de bactérias multirresistentes. Como consequência, as organizações de saúde pública e a OMS emitiram diretrizes pedindo o uso racional de antibióticos para combater a proliferação de bactérias resistentes.

No entanto, os dados sobre o impacto dos testes rápidos em comparação aos realizados comumente em laboratório (o RT-PCR) em adultos permanecem limitados.

O que mais este estudo avaliou como reflexos do teste rápido para gripe em pronto socorro?

O objetivo primário deste estudo foi avaliar se a implantação de testes rápidos para detecção do vírus influenza A e B resultou em uma diminuição no número de prescrições de antibióticos no pronto-socorro, entre pacientes adultos com sintomas de doença semelhante à gripe, em comparação a períodos anteriores, quando o diagnóstico da gripe era feita por testes laboratoriais.

Posteriormente, buscou-se avaliar se havia menos exames laboratoriais auxiliares, menos exames de imagem, menos internações, menor tempo de permanência hospitalar e mais prescrições de Tamiflu® (fosfato de oseltamivir) como resultado da implantação dos testes rápidos.

Como foram estudados os impactos do teste rápido?

Foi realizado um estudo retrospectivo no Departamento de Emergência do Hospital Universitário dos Alpes em Grenoble, na França. Cerca de 60.000 pessoas visitam este Departamento de Emergência todos os anos. Os pacientes elegíveis para participação no estudo foram indivíduos que apresentaram doença semelhante à gripe, admitidos na emergência e com pelo menos 16 anos. Os critérios para doença semelhante à gripe incluíram “febre” ou “febre e pelo menos mais de um dos seguintes sintomas”: dor de garganta, tosse, mialgia ou dor de cabeça. Todos esses pacientes foram testados para influenza A e B.

O estudo abrangeu três temporadas de gripe: 2016/2017, 2017/2018 e 2018/2019.

Quais foram os testes para gripe empregados?

As amostras nasofaríngeas foram coletadas de acordo com as Diretrizes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control – CDC).

Os resultados dos testes laboratoriais de gripe apresentaram um tempo longo para que seus resultados fossem obtidos (de 4 a 54 horas após a coleta) em comparação com os testes rápidos que eram obtidos em 25 min. Os testes rápidos foram implantados durante o período de 2018/2019 na temporada de gripe, enquanto os testes de laboratório foram realizados ​​nos anos de 2016/2017, 2017/2018 e 2018/2019.

O número de testes rápido foi limitado devido a restrições financeiras, seu uso começou uma semana após o início do surto de gripe e foi interrompido três semanas após o pico de diagnósticos positivo na temporada 2018/2019.

Que informações foram coletadas no estudo?

A coleta de dados envolveu visitas ao Departamento de Emergência. Os dados sobre idade, sexo, prescrições, internações e tempo de permanência hospitalar foram coletados do banco de dados do setor de emergência, enquanto, os dados sobre os resultados dos testes de gripe rápido e laboratoriais foram obtidos a partir do banco de dados do laboratório.

Quais as principais mudanças que foram identificadas após implantação do teste rápido?

Um total de 1.849 pacientes foram incluídos. Não houve diferença estatisticamente significante na distribuição de gênero entre os pacientes ao longo das três estações.

No entanto, a distribuição de idade foi significativamente diferente, com pacientes no período de 2018/2019 com a mediana de idade mais baixa 72 anos (49 a 85 anos), contra 74 anos (55 a 85anos)) em 2017/2018 e 81 anos (65 a 87 anos) em 2016/2017)).

Alguns pacientes tiveram mais de uma permanência no Departamento de Emergência e mais de um tipo de teste coletado para cada visita (por exemplo, um teste rápido primeiro e, em seguida, um teste laboratorial). Assim, ao longo das três temporadas o número total de testes de gripe realizados foi de 1941 para 1904 consultas de emergência.

Em 2018/2019, foram realizados 860 testes rápido e 127 testes laboratoriais de gripe, enquanto em 2017/2018 e 2016/2017 os números de testes laboratoriais foram, respectivamente, de 554 e 400 (e não houve testes rápidos durante esses dois períodos).

O uso de antibióticos entre todos os pacientes foi significativamente diferente entre os

três períodos: com 31,1% em 2018/2019, em comparação com 44% em 2017/2018 e 48,3% em 2016/2017. Em uma análise multivariada, o período de 2018/2019 foi associado a menos prescrições de antibióticos em comparação com a temporada 2016/2017, mas não houve diferença significativa entre os períodos de 2017/2018 e 2016/2017.

Os resultados positivos do teste rápido e de laboratório foram associados a menos prescrições de antibióticos, enquanto a idade avançada e a internação após admissão pela emergência, elevaram a probabilidade do antibiótico ser prescrito.

A prescrição de exames complementares foi significativamente diferente entre os três períodos; em 2018/2019, os pedidos foram menores para hemogramas, bioquímica do sangue, PCR, hemoculturas e radiografias. O número médio de exames complementares e radiografias por visita seguiu a mesma tendência, exceto para PCT e bioquímica do sangue. Para hemoculturas, o número médio de exames foi superior em 2018/2019 em comparação com 2017/2018 e 2016/2017. O número de internações hospitalares após entrada na emergência foi significativamente diferente entre os três períodos; com 54% em 2018/2019, em comparação a 61,7% em 2017/2018 e 75,8% em 2016/2017. A taxa de Tamiflu® (fosfato de oseltamivir) prescrito entre os três períodos foi significativamente diferente, sendo maior em 2018/2019 12,9%, 2,7% em 2017/2018 e 10% em 2016/2017. Considerando todos os pacientes, o tempo médio de internação hospitalar não foi significativamente diferente nos três períodos (660 min em 2018/2019 em comparação com 704 em 2017/2018 e 713 em 2016/2017).

Um total de 620 pacientes (32,6%) testaram positivo para influenza A e B. A distribuição de gênero não foi significativamente diferente entre os três períodos entre este grupo de pacientes. No entanto, a distribuição etária foi significativamente diferente; dentro 2018/2019 a mediana de idade foi de 82 anos, em comparação com 69 anos em 2017/2018 e 70 anos em 2016/2017. No total, foram realizados 641 testes, e realizados 629 visitas ao departamento de emergência. Em 2018/2019 foram registrados 274 testes rápido positivos e 20 testes laboratoriais positivos, contra respectivamente, 190 testes laboratoriais positivos e 157 em 2017/2018 e 2016/2017. Apenas entre os pacientes positivos, o número de prescrições de antibióticos também foi significativamente diferente entre as três temporadas detectou-se 18,9% prescrições em 2018/2019, em comparação com 37,1% em 2017/2018 e 48,4% em 2016/2017. O número de testes complementares, também, foi significativamente menor em 2018/2019, do que nos períodos anteriores. O tempo de permanência hospitalar foi significativamente diferente nos três períodos, sendo de 573 min em 2018/2019, 736 min em 2017/2018 e 691min em 2016/2017, bem como o número de internações de 44,8% em 2018/2019, versus 54,8% em 2017/2018 e 73,3% em 2016/2017) e taxa de prescrição de Tamiflu® (fosfato de oseltamivir) de 42,7% em 2018/2019 contra 4,8% em 2017/2018 e 15,3% em 2016/2017).

Então, a implantação de testes rápidos repercutiu positivamente em quais indicadores?

Os autores observaram uma diminuição significativa nas prescrições de antibióticos durante o período em que os testes rápidos foram implementados, em comparação com os dois períodos anteriores (31,1% das entradas na emergência em 2018/2019 estiveram associadas a prescrição de antibióticos, em comparação com 44% em 2017/2018 e 48,3% em 2016/2017). Além disso, identificaram um aumento nas prescrições de Tamiflu® (fosfato de oseltamivir); de 12,9% em 2018/2019, 2,7% em 2017/2018 e 10% em 2016/2017. As diferenças foram ainda mais significativas quando apenas pacientes com teste positivo para gripe foram considerados. Também encontraram uma diminuição no número de exames complementares solicitados e realizados, especificamente dos hemogramas, bioquímica do sangue, PCR, hemoculturas e raios-X após a implantação dos testes rápidos.

No geral, foram realizados mais testes de detecção de gripe em 2018/2019 (987, 50,9%) do que nas duas temporadas juntas anteriores.

Quais foram as principais conclusões do estudo?

Em conclusão, a realização dos testes rápidos para detecção do vírus da gripe nas unidades de emergência poderia reduzir o número de prescrições de antibiótico. Pode-se observar um número reduzido de internações e estadias mais curtas na emergência, além de um aumento no uso de Tamiflu® (fosfato de oseltamivir) entre os pacientes com resultado positivo para gripe.

Quais limitações, críticas e observações sobre este estudo?

Os estudos na área médica de avaliação econômica de novas tecnologias ainda são escassos e necessitam de maior aprofundamento, sobretudo, os estudos com foco nos testes rápidos para detecção do vírus da gripe de forma a ampliar o conhecimento atual sobre seu impacto e para formular novas recomendações.

A principal crítica do estudo é com relação ao desenho do estudo retrospectivo e pela

implementação dos testes rápidos, da população ser maior e mais jovem em 2018/2019 ou mesmo por uma provável melhora nas práticas podem ter favorecido os resultados.

Estudos antes x depois pecam na comparabilidade de condições que podem influenciar resultados, principalmente se não devidamente controlados. Necessita de estudos complementares, em outros cenários, para fortalecer seu grau de evidência científica.

Fonte: Berwa A ets cols. Effect of point-of-care influenza tests on antibiotic prescriptions by emergency physicians in a French hospital. J Hosp Infect. 2022 Apr;122:133-139.

Palavras chave / TAGs: gripe, stewardship, antibióticos, teste rápido, pronto socorro, uso racional, vírus influenza, prescrições, permanência hospitalar, oseltamivir, estuo restrospectivo, banco de dados, tempo médio de internação

Sinopse por: Thalita Gomes do Carmo

https://www.instagram.com/profa.thalita_carmo/

Link: https://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(22)00029-9/pdf

Links de interesse:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16600551/

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antibiotic-resistance

https://www.cdc.gov/antibiotic-use/pdfs/stewardship-report-2021-H.pdf

https://journals.asm.org/doi/10.1128/JCM.02644-05?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed

https://www.ccih.med.br/analise-de-desempenho-e-custo-beneficio-de-um-teste-rapido-para-influenza-em-um-departamento-de-emergencia/

https://www.ccih.med.br/influenza-novas-diretrizes-da-oms-e-campanha-2022-de-vacinacao-brasileira/

https://www.ccih.med.br/stewardship-de-antimicrobianos-gerenciando-o-uso-dos-antimicrobianos-para-salvar-vidas/

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