fbpx


CCIH Cursos: há 20 anos disseminando sabedoria

logo-ccih-famesp-496-x-866-px-1

Transmissão de infecção de pacientes com COVID-19 não isolados para profissionais de saúde

Qual a justificativa do estudo?

Atualmente, trabalhadores de saúde insuficiente protegidos – contatos de alto riscos – que trabalham com pacientes de COVID-19 são rotineiramente colocados em quarentena. Contudo, um número crescente de publicações indica que as taxas de transmissão de SARS-CoV-2 de pacientes não isolados para profissionais de saúde são baixas.

Qual o objetivo do estudo?

Avaliar, por meio de um estudo de caso prospectivo, a transmissão de infecção de um paciente sintomático com COVID-19 para 60 profissionais de saúde expostos a 2 metros por 15 minutos ou durante procedimentos geradores de aerossol.

Quais as características do caso?

O caso ocorreu em um centro de trauma de nível 1 na Noruega (St. Olavs University Hospital) que recebeu transferência de um paciente de meia idade com lesão pélvica proveniente de um hospital de uma região com baixa prevalência de COVID-19.

Evolução do quadro clínico do paciente e medidas adotadas:

Admissão:

– Sintomas = hipóxia leve sem sintomas evidentes das vias aéreas, febre intermitente e diarreia.

– Medidas adotadas = Internação em quarto com cama de solteiro em enfermaria comum; não houve isolamento, apenas medidas de distanciamento devido a pandemia em curso – não houve contato com outros pacientes. O quarto possuía ventilação de ar fresco com 3 renovações de ar por hora, lavatório com sabonete e desinfetantes em ambos os lados da porta, e recebeu limpeza – incluindo desinfecção de todas as superfícies de contato – uma vez ao dia. O hospital fornece roupas, trocadas ao menos uma vez por dia, a todos os profissionais de saúde. Não houve uso geral de máscaras, por pacientes e profissionais.

– Procedimentos = duas operações sob anestesia combinada geral e peridural em sala de operação com fluxo laminar e 50 renovações de ar por hora.

Dia 4:

– Sintomas = elevação da febre, tosse com expectoração purulenta.

– Medidas adotadas: isolamento do paciente na manhã seguinte; foram realizados dois testes consecutivos que demonstraram cargas virais elevadas de SARS-CoV-2. Quarentena de 60 profissionais por duas semanas devido à participação em procedimento de geração de aerossol com equipamento de proteção individual insuficiente ou exposição viral de contato próximo (a 2 metros por 15 minutos)

Qual metodologia foi empregada?

Estudo prospectivo de caso com participação voluntaria dos profissionais de saúde em quarentena. Dos 60 profissionais, 58 aceitaram em tempo participar porém 1 voluntário desistiu durante o processo; n = 57.

2 semanas após exposição viral: RT-PCR direcionado ao gene E do SARS-CoV-2; utilização de amostras da faringe retrotonsilar

3 semanas após exposição viral: teste sorológico para detecção de anticorpos contra SARS-CoV-2. Utilização de 5 testes: iniciou-se com IgM e IgG da marca EDI; os testes iniciais foram complementados por testes das marcas DiaSorin (IgG), Abbott (IgG), Roche (total Ab) e Wantai (total Ab)

Todos participantes responderam a um questionário para mapear tipos e extensão da exposição viral, sintomas durante a quarentena e autoavaliação da adesão aos procedimentos de higiene das mãos (incluindo, lavagem de mãos com agua e sabão ou desinfetante, antes e após os procedimentos no quarto do paciente, e o contato direto ou indireto com o paciente).

Quais os principais resultados?

Testagem: Todos os 57 participantes tiveram resultado negativo para SARS-CoV-2 RNA e IgM. Todos testaram negativo para anticorpos totais com testes de 3 dos 5 fabricantes. Os resultados discrepantes positivos foram reproduzíveis.

Sintomas: 22 profissionais (39%) experimentaram algum sintoma respiratório durante a quarentena, sendo dor de garganta o mais comum. Nenhum dos respondentes experimentou perda de paladar ou olfato. 15 profissionais já haviam sido testados durante o período de quarentena por causa dos sintomas e todos tiveram resultado negativo.

Rastreamento de contato:

– foram identificados ≥ 106 contatos únicos (i.e. de ≥ 15 min a ≤ 2m ou durante procedimentos geradores de aerossóis) entre os profissionais de saúde e o paciente.

– 19 enfermeiras tiveram ≥46 contatos íntimos únicos que incluíram higiene oral.

– 12 profissionais de saúde foram expostos durante os procedimentos geradores de aerossóis: 7 durante a in- e/ou extubação a ≤ 2 m da cabeça do paciente e outros 5 a >2 m.

– 11 profissionais de saúde estiveram presentes durante a cirurgia aberta envolvendo perfuração, eletro cautério e lavagem pulsada.

Contaminação: após esses 106 contatos únicos de alto risco, nenhum dos profissionais testou positivo para RNA de SARS CoV-2 ou desenvolveu anticorpos.

Uso de EPIs:

– 30 profissionais não usaram nenhuma forma de EPI durante a exposição.

– Máscaras cirúrgicas foram usadas por 16 dos 57 (32%) profissionais de saúde e por nenhum dos 19 enfermeiros da enfermaria.

– Luvas descartáveis foram usadas por 35 de 57 (61,4%) profissionais de saúde

– Viseira/óculos foram usados por 5/57 (8,7%) profissionais de saúde.

– Um único profissional de saúde relatou contato próximo com o paciente durante a extubação sem o uso de máscara cirúrgica.

Procedimentos prevenção de infecção: a maioria (n=40, 70%) dos profissionais de saúde tinham certeza de que haviam aderido aos procedimentos de higiene das mãos; outros 16 (58%) tinham bastante certeza. Um profissional de saúde relatou que era improvável que tivesse realizado a higiene adequada das mãos.

Quais as conclusões e recomendações finais?

A conclusão final do artigo é que os resultados estão de acordo com outros relatórios e devem tranquilizar os profissionais de saúde e estimular ainda mais uma ampla avaliação dos fundamentos para a prática atual de quarentena domiciliar dos profissionais de saúde não sintomáticos.

Este estudo é, pelo conhecimento dos autores, o primeiro a complementar os esfregaços da garganta com testes de anticorpos em um estudo prospectivo de profissionais de saúde sintomáticos e não sintomáticos. Enfatiza-se que mesmo os testes de anticorpos não parecem revelar todos os indivíduos que foram infectados anteriormente com COVID-19.

Os autores ressaltam que a triagem para COVID-19 do paciente – tanto antes da transferência, quanto na admissão – foi subótima. O procedimento para transferência de pacientes entre hospitais foi consequentemente alterado de esclarecimento oral por telefone para documentação estrita por questionários escritos.

Que críticas e observações?

Estudos da transmissão de COVID-19 entre pacientes e profissionais de saúde, nos diferentes panoramas, são de extrema relevância para a organização de fluxos de ambientes de cuidados à saúde e de tomada de decisão por gestores da saúde. Este artigo traz evidências de baixa taxa de contaminação em um estudo de caso pontual e, portanto, deve ser lido com cautela e considerando todas as possíveis variáveis que podem influenciar tal taxa. Destaco ainda a importância da leitura crítica dos dados apresentados, levando em consideração principalmente a estrutura do local em que foi realizado, as medidas e métodos de aplicação de distanciamento aplicados e as medidas de prevenção de infecção presentes.

Ressalto ainda que a política de utilização de máscaras faciais na Noruega é determinada em níveis locais e não segue as diretrizes da Comissão Europeia ou da Organização Mundial da Saúde; assim sendo, a não utilização de máscaras não representa quebra de protocolo.

Este é um relato de caso, portanto considerado como evidência científica fraca.

Fonte: T. Basso, et al. (2020). Transmission of infection from non-isolated patients with COVID-19 to healthcare workers. Journal of Hospital Infection, 106: 639-642.

Sinopse por: Maria Julia Ricci

Instagram: @mariajuliaricci_

E-mail: [email protected]

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
plugins premium WordPress
×