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Transplante de Microbiota Fecal: uma comparação da eficácia de diferentes métodos

 

Na área da saúde, os riscos da colonização por microrganismos multirresistentes a fármacos são de conhecimento e preocupação geral devido aos seus impactos negativos para o paciente. Em meio à constante busca por melhores alternativas de cuidado e prevenção, o transplante de microbiota fecal tem sido usado como uma estratégia para pacientes portadores desses microrganismos. Esse estudo traz uma comparação da eficácia e efeitos das diversas vias de administração conhecidas.

QUAL A JUSTIFICATIVA DO ESTUDO?

A crescente prevalência de microorganismos multirresistentes a fármacos é um grande desafio para a área da saúde, principalmente por sua relação com prognósticos abaixo do ideal, e tem fomentado a busca por novas alternativas para gerenciar a colonização e infecção por esses microrganismos.  Nesse contexto tem-se investigado o uso do transplante de microbiota fecal – que tem como objetivo restaurar a microbiota intestinal, de forma a reestabelecer a rede microbiana funcional e, assim, auxiliar na eliminação de cepas resistentes.

QUAL FOI O OBJETIVO DA PESQUISA?

O estudo teve como intuito discutir e comparar a eficácia de quatro opções de vias de administração para o transplante de microbiota fecal (FMT) – via esofagogastroduodenoscopia (EGD), via colonoscopia, via sonda gástrica, e via capsula oral com revestimento entérico – e determinar o melhor método para otimizar a descolonização e reduzir a recolonização em pacientes portadores de organismos multirresistentes a drogas (MDRO).

QUAL FOI A METODOLOGIA APLICADA?

Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, entre abril de 2018 e julho de 2021, em um hospital terciário de 2400 leitos na Coreia do Sul. Foram incluídos portadores de MDRO cujo status de portador foi confirmado por pelo menos uma cultura positiva de fezes ou de swab retal uma semana antes do FMT.

O material para transplante foi obtido de doadores saudáveis e não aparentados, os quais foram rastreados para os riscos de infecção transmissível (hepatite A, B e C, vírus da imunodeficiência humana e sífilis). As amostras foram testadas para bactérias (Enterococos resistentes a vancomicina (VRE) e enterobactérias produtoras de carbapenemase (CRE)), vírus (rotavírus, norovírus ou adenovírus), parasitas e infecções por C. difficile. As amostras foram misturadas com soro fisiológico estéril e armazenadas a -70°C em glicerol concentrado; já o método de administração do FMT foi determinado pelos médicos após avaliação do estado de cada paciente.

Os participantes foram acompanhados durante um ano e amostras de fezes foram coletadas 1, 7, 14, 28, 60, 90, 180 e 360 dias após o transplante. A descolonização foi considerada bem-sucedida quando foram obtidos dois resultados negativos consecutivos com pelo menos 1 semana de intervalo; a recolonização, por sua vez, foi considerada como um resultado positivo para CPE ou VRE em um paciente previamente classificado como descolonizado.

Foram coletados também idade, sexo, índice de massa corporal (IMC), pontuação do índice de comorbidade de Charlson, tipo de MDRO, duração do MDRO antes do FMT, método de administração do FMT e resultados laboratoriais. Análises estatísticas foram realizadas e as variáveis contínuas e categóricas foram analisadas usando o Mann-Whitney U- test, teste x2 ou teste exato de Fisher. Os resultados de cada método de transplante foram classificados em grupos de ‘sucesso’ ou ‘falha’, e o grupo de sucesso teve sua composição taxonômica avaliada.

QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS RESULTADOS?

Um total de 57 pacientes, com idade média de 65 anos, foram incluídos no estudo – sendo que 14 receberam o transplante por via oral, 9 por EGD, 23 por colonoscopia e 11 por tubo gástrico. A duração média da colonização por MDRO foi de 42 dias, com 42,1% colonizados por VRE, 21,1% por CPE, e 36,8% por ambos. Ao final do período de estudo a taxa geral de descolonização foi de 69,2% e a de recolonização de 19,3%.

Quanto a descolonização, o tempo médio necessário foi de 77,4 dias – 24,9 dias para o grupo de colonoscopia, 75,8 dias para o de capsula oral, 90,8 para tubo gástrico, e 190,4 para EGD. O principal fator clínico associado a falha na descolonização foi o uso de antibióticos até 1 semana após o transplante. Já a análise da microbiota fecal mostrou maior riqueza de espécies após o FMT, com diminuição na proporção de grupos bacterianos associados a colonização por VRE e CPE.

QUAIS FORAM AS CONCLUSÕES?

Os autores avaliam que o FMT é um novo método relevante que aumenta as chances de descolonizar portadores de MDRO. Ressaltam que sem intervenção o status de portador de MDRO pode persistir por mais de seis meses (com média de colonização de 144 dias) e que a eliminação espontânea ocorre em menos de 10% dos pacientes. Levando em consideração as mudanças favoráveis na microbiota e a taxa de sucesso comparável a outras modalidades de FMT, enfatizam que as cápsulas orais podem ser a opção de tratamento mais conveniente e bem-sucedida para os pacientes que toleram alimentação oral.

Já o método do tubo gástrico foi identificado como o menos eficiente devido a degradação substancial causada pelo suco gástrico antes da distribuição e ancoração adequada da microbiota transplantada. Nota-se, também, que a suspensão dos antibióticos é um dos fatores clínicos mais importantes para o sucesso do FMT, de forma que o gerenciamento ativo da administração como parte do programa de vigilância antibiótica é fundamental para melhorar as taxas de sucesso.

QUAIS FORAM AS LIMITAÇÕES DO ESTUDO?

Esse estudo possui algumas limitações importantes. Primeiramente, esse foi um pequeno estudo de coorte não randomizado, de forma que não se pode excluir a possibilidade de viés principalmente na seleção do método de transplante. Os autores ressaltam também que pacientes imunocomprometidos foram excluídos devido ao risco de desenvolvimento de infecção durante o processo de FMT e que a inclusão desses pacientes deve ser avaliada para estudos futuros. Por fim, não foi possível determinar as datas precisas de descolonização devido a uma escassa cultura de acompanhamento para além da quarta semana após a realização da intervenção.

Fonte:  Lee EH, Lee SK, Cheon JH, Koh H, Lee JA, Kim CH, Kim JN, Lee KH, Lee SJ, Kim JH, Ahn JY, Jeong SJ, Ku NS, Yong DE, Yoon SS, Yeom JS, Choi JY. Comparing the efficacy of different methods of faecal microbiota transplantation via oral capsule, oesophagogastroduodenoscopy, colonoscopy, or gastric tube. J Hosp Infect. 2023 Jan;131:234-243

Link: https://doi.org/10.1016/j.jhin.2022.11.007

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Sinopse por: Maria Julia Ricci

E-mail: maria.ricciferreira@edu.unito.it

Instagram: https://www.instagram.com/sonojuju/

https://www.journalofhospitalinfection.com/article/S0195-6701(22)00359-0/fulltext

Links relacionados:

Transplante de microbiota fecal para organismos multirresistentes a fármacos –

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0163445320305971

Transplante de microbiota fecal: revisão e atualizações –

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0929664618305552

Colonização por bactérias gram-negativas resistentes: duração prolongada e frequente cocolonização –

https://academic.oup.com/cid/article/48/10/1375/422397

TAGs / palavras-chave: organismos multirresistentes a fármacos, colonização, microbiota intestinal, transplante de microbiota fecal, descolonização, recolonização, portadores de MDRO, enterococos resistentes a vancomicina, enterobactérias produtoras de carbapenem, programa de vigilância

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