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Quantas mortes podemos atribuir às bactérias multirresistentes?

Laura Czekster Antochevis

Estudo procura identificar excedente de mortalidade atribuída aos Gram negativos multirresistentes.

 

O QUE É MORTALIDADE ATRIBUÍDA?

A mortalidade atribuída é um indicador calculado a partir da mortalidade total menos a mortalidade esperada. Por exemplo, esse índice pode quantificar o impacto das infecções por Gram-negativos (GN) resistentes na sobrevivência dos pacientes. Um estudo que analisou todas as infecções hospitalares causadas por microrganismos resistentes, demonstrou uma mortalidade atribuída de 6,5% sobre as mortes causadas por enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos nos Estados Unidos. Assim, é um indicador que permite prever a mortalidade atribuída a alguns fatores de risco, como infecções por multirresistentes.

 

ENTÃO, É POSSÍVEL PREDIZER A MORTALIDADE DAS INFECÇÕES POR MULTIRRESITENES?

Recentemente, outro grupo americano desenvolveu um estudo de coorte retrospectivo para determinar a morte atribuída das infecções por GN multirresistentes (MR). Foram avaliados dois grupos de pacientes: grupo de casos de colistina, onde os pacientes receberam mais de quatro dias consecutivos da droga, ou que morreram durante o uso de colistina; e  o grupo controle primário, onde os pacientes usaram antibióticos que não eram carbapenêmicos (incluindo aqui outros beta- lactâmicos como piperacilina-tazobactam, ampicilina-sulbactam, cefalosporinas ou aztreonam)

O primeiro resultado obtido foi a mortalidade atribuída aos MR, calculada como a diferença percentual entre a mortalidade hospitalar do grupo de casos de colistina e seus comparadores. Também foram pareados alguns fatores que poderiam enviesar os resultados, como sítio da infecção, tempo de evolução da infecção e classificação de sepse, sendo então comparados os casos de colistina com os casos controle que tivessem o mesmo sitio de infecção ou a mesma estratificação de sepse.

QUAIS OS RESULTADOS DESTE ESTUDO?

Foram identificados 232.834 pacientes com infecções por GN, em três anos de análise. Entre eles, 3.099 pacientes recebendo colistina foram pareados a 6.198 pacientes recebendo outros beta-lactâmicos. A mortalidade bruta, sem comparações, sobre o grupo da colistina e o grupo comparador (beta-lactâmicos) foi de 30,5% e 8,7%, respectivamente. Já a mortalidade dos grupos quando pareados os pacientes e comparados, muda para 29,2% e 16,6%, respectivamente, resultando numa mortalidade atribuída de 12,6% para os casos tratados com colistina. Resumindo, a mortalidade entre os grupos pareados demonstrou um padrão hierárquico, onde a mortalidade dos casos tratados com colistina foi maior do que os casos tratados com beta-lactâmicos, em qualquer sítio de infecção.

E QUANDO COMPARAMOS POSSÍVEIS FATORES DE CONFUSÃO, IDENTIFICAMOS DIFERENTES MORTALIDADES?

Sim. Os pacientes do grupo da colistina com sítios de infecção respiratório e abdominal apresentaram as maiores taxas de mortalidade, 35,4% e 33,9%, respectivamente. A mortalidade atribuída também foi maior entre as infecções de vias áreas (15,5%), e menor nas infecções de trato urinário (11%), assim como mais significativa entre os pacientes com infecções por GN de início tardio (16,6%). Obviamente, também se observou um aumento da mortalidade atribuída nos pacientes com sepse severa.

MAS ENTÃO, QUER DIZER QUE COLISTINA “MATA” MAIS DO QUE BETA-LACTÂMICOS?

Não. O estudo mesmo não traz nenhuma conclusão a respeito de superioridade terapêutica de uma ou outra classe. Pelo que é descrito na metodologia, a busca pelos pacientes foi retrospectiva, e apenas foram separados os pacientes que haviam recebido cada tipo de tratamento. É possível supor que, muito provavelmente, a escolha do antimicrobiano foi guiada pelos resultados do antibiograma. Nas infecções por bactérias resistentes aos beta-lactâmicos, se optou pelo escalonamento com colistina, assim indicando uma cepa mais resistente e, portanto, mais difícil de erradicar. Portanto, podemos concluir que os pacientes morreram mais no grupo de casos da colistina, pois realmente suas infecções eram mais agressivas, por microrganismos mais resistentes. O objetivo do artigo foi demonstrar que, quanto maior a resistência do microrganismo, mais difícil o tratamento da infecção, e maior a mortalidade.

QUAL O IMPACTO ECONÔMICO DAS INFECÇÕES POR MR?

As infecções por MR envolvem custos com antibióticos mais caros, aumento da permanência hospitalar, manejo das consequências do quadro séptico, assim como a instituição de protocolos de isolamento. Neste estudo, o custo direto médio da hospitalização por infecções causadas por GN-MR, tratadas com colistina, foi de 35.856 dólares, revelando o grande impacto da resistência microbiana sobre o sistema de saúde.

QUAL A CONCLUSÃO DO ESTUDO?

O trabalho quis avaliar o impacto das infecções por GN-MR na mortalidade hospitalar, já que reduz consideravelmente as opções terapêuticas. Os pesquisadores conseguiram demonstrar que o grupo de infecções por MR que usaram colistina apresentou uma mortalidade atribuída significativa, de 12,6%, quando analisada com seus comparadores. Porém, esse valor pode mudar conforme o tipo de infecção e mesmo entre os grupos de comparadores (carbapenêmicos x outros beta-lactâmicos), demonstrando a grande heterogeneidade de desfechos das infecções por MR. A compreensão da epidemiologia destas infecções graves, a evolução dos mecanismos de resistência e os impactos sobre os desfechos clínicos é essencial para o desenvolvimento de políticas de saúde que enfrentem esta crise global de microrganismos multirresistentes. Assim, documentar sua elevada mortalidade, propensão a surtos e disseminação global é importante para alertar autoridades e mesmo toda a equipe assistencial.

 

Fonte: Kadri SS et cols. Attributable mortality from extensively drug-resistant gram-negative infections using propensity-matched tracer antibiotic algorithms. American Journal of Infection Control 47 (2019) 1040−1047.

Autora: Sinopse por: Laura Czekster Antochevis

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