O uso criterioso de antimicrobianos é um desafio importante para toda a humanidade e transcende uma profissão de saúde, necessitando de uma estratégia multiprofissional que foca na interdisciplinaridade e na gestão dessa atividade, que é feita nos projetos de stewardship de antimicrobianos. Neste artigo saiba mais sobre:
- O que é stewardship de antimicrobianos?
- Por que devemos implementar um programa de controle do uso de antimicrobianos?
- Como podemos implementar um programa de stewardship de antimicrobianos?
- Quais os principais mecanismos de resistência que devem ser monitorados para direcionarmos corretamente a aplicação dos antimicrobianos?
- Quem pode fazer o gerenciamento do uso de antimicrobianos?
O que é stewardship de antimicrobianos?
Stewardship é uma palavra em inglês que não possui tradução literal para o português, mas significa administrar algo. Quando falamos em Antimicrobial Stewardship, estamos falando da gestão dos antimicrobianos, ou seja, dos programas de gerenciamento de antibióticos, antifúngicos, antivirais e antiparasitários, que devem ser implementados em quaisquer instituições de saúde. O stewardship de antimicrobianos pode ser implementando através de diferentes estratégias, de acordo com a realidade de cada instituição, e tem como objetivos principais:
- Adequar e otimizar a terapia antimicrobiana de cada paciente, de modo a obter a melhor eficácia de cada antimicrobiano, de acordo com as características do paciente e da infecção;
- Combater a emergência da resistência microbiana, através do uso adequado dos antimicrobianos no momento certo e na posologia correta para cada síndrome infecciosa;
- Diminuir a disseminação de microrganismos multirresistentes, pois ao diminuirmos sua emergência, reduzimos as oportunidades de disseminação entre pacientes.
Por que devemos implementar um programa de controle do uso de antimicrobianos?
Atualmente enfrentamos infecções quase impossíveis de tratar, pois os microrganismos isolados são resistentes a todos os antimicrobianos disponíveis no mercado. O problema da resistência microbiana é uma grande ameaça à saúde pública mundial e está associado com uma alta morbi-mortalidade. Gerenciar o uso apropriado dos antimicrobianos, seja em âmbito hospitalar ou comunitário é responsabilidade de todos os profissionais da saúde, para garantirmos mais tempo de uso dos antimicrobianos disponíveis atualmente. Importante ressaltar que foram lançados poucos novos antimicrobianos, que não resolvem todos os nossos problemas e não estão disponíveis em todos os países.
Como podemos implementar um programa de stewardship de antimicrobianos?
Primeiro, precisamos fazer um diagnóstico da nossa instituição, para conhecer quais antimicrobianos estão disponíveis e em quais apresentações, qual o perfil epidemiológico das infecções institucionais, quem são os pacientes atendidos e por quais especialidades médicas. Assim, podemos pensar em implementar algumas atividades, como:
- Elaboração de protocolos de tratamento empírico e dirigido para as infecções mais prevalentes nos pacientes atendidos;
- Auditorias prospectivas das prescrições de antimicrobianos estratégicos, com feedback para os prescritores;
- Restrição de uso de antibióticos profiláticos;
- Desenvolvimento de indicadores de adesão aos protocolos;
- Divulgação de infográficos com informações sobre os protocolos e indicadores;
- Realização de time out à beira do leito;
- e muitas outras ideias, as quais você confere nos nossos cursos de pós-graduação.
Quais os principais mecanismos de resistência que devem ser monitorados para direcionarmos corretamente a aplicação dos antimicrobianos?
Bactérias possuem um inteligente sistema de auto-proteção, produzindo enzimas e/ou modificando estruturas para impedir a ação dos antibióticos. Os mecanismos de resistência que elas podem apresentar são:
- produção de enzimas que hidrolisam as moléculas de antimicrobianos, como β-lactamases e aminoglicosidases;
- bombas de efluxo;
- perda de porinas;
- mudanças estruturais em sua membrana que impedem a entrada dos antimicrobianos.
O mecanismo de resistência que representa um dos maiores desafios terapêuticos atualmente é a produção das β-lactamases chamadas carbapenemases. Estas carbapenemases são capazes de hidrolisar penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenêmicos, estes últimos uma classe de antimicrobianos de amplo espectro de ação. As carbapenemases podem ser divididas de acordo com a Classificação de Ambler:
- Classe A (serino-carbapenemases): KPC (Klebsiella pneumoniae carbapemase), IMI, SME, etc;
- Classe B (metalo-betalactamases): NDM (New-Delhi Metalobetalactamase), IMP, VIM, etc;
- Classe D (oxacilinases): OXA-48.
Identificar corretamente o tipo de mecanismo de resistência envolvido permite que prescritores e a equipe de stewardship possam ajustar precocemente o esquema terapêutico, além de evitar o uso de antibióticos sem ação frente à determinados mecanismos de resistência, caso do ceftazidima-avibactam em infecções por bactérias produtoras de metalo-betalactamases.
Quem pode fazer o gerenciamento do uso de antimicrobianos?
Todos! A preocupação com a adequação do uso dos antimicrobianos não é papel apenas do médico e farmacêutico, apesar de estes profissionais atuarem diretamente na gestão e liderança dos programas. Enfermeiros, técnicos, microbiologistas, nutricionistas, dentistas, gestores e outros profissionais da saúde, além é claro dos próprios pacientes, devem se envolver nessa corrida contra a resistência antimicrobiana.
Referências:
Antibióticos e quimioterápicos para o clínico. Walter Tavares, 2020.
Elaborado por Laura Czekster Antochevis
Contatos: laura@ccih.med.br ou http://linkedin.com/in/laura-czekster-antochevis-457603104
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